Presos empilhados no 5.º Distrito mal conseguem respirar

Amontoados em duas pequenas celas e até no corredor, 38 presos vivem em condições subumanas no xadrez do 5.º Distrito (Bacacheri). No local caberiam apenas dez e mesmo assim apertados. A solução para se acomodar em tão pouco espaço é encontrada pelos próprios presos, que às vezes até lucram com a dificuldade. Um deles fez uma rede improvisada, utilizando cobertores, e vendeu o “lugar” por R$ 10,00 para outro detento.

Mas a falta de espaço não é o único problema. Falta higiene e até local apropriado para fazer necessidades fisiológicas. Nas grades há diversas garrafas com água para os presos beberem e se lavarem como “gatos”, misturadas com outras usadas para urinar. As fezes muitas vezes são feitas nas marmitas, que são reutilizadas como penicos, pelos detentos.

“Apesar de apertado até um rato já entrou aqui”, gritou um preso de dentro do xadrez. Não dava para ver o rosto do detento que denunciava a entrada do roedor, de tão lotada que a cela estava.

Superlotação

Sem espaço, os detentos foram divididos da seguinte forma: cada cela, que seria para abrigar quatro, tem dez e onze pessoas. No corredor estão outras 17. “Aqui a gente reveza. Sete dormem e outros ficam de pé”, contou Claudinei da Silva de Jesus, 18 anos, preso há cinco meses sob a acusação de roubar R$ 10,00. Foi dele a idéia de criar um local suspenso, entre os colegas. “Vendi para ele, que chegou aqui há um mês por furto de toca-fitas”, disse. O homem, de 30 anos, que dorme na rede e não quis se identificar, disse que “é melhor ficar aqui em cima deitado do que no aperto”.

O tio de Claudinei, Nereu de Oliveira de Jesus, 38, já está condenado e vive na cela apertada do distrito há dois anos. Ele foi condenado por roubo a 5 anos e 5 meses de reclusão. “Estou quase saindo e ainda não fui para o sistema. Meu tempo aqui deve ser curto”, disse.

Doente

Há 20 dias o problema era pior. Havia um detento que tinha problemas de saúde e não conseguia controlar suas necessidades fisiológicas, fazendo-as em qualquer lugar. “Muitas vezes deu briga lá dentro. Os policiais tiveram que separar. Além de fazer necessidades no colchão e nos pertences do outros detentos, fazia também nos outros presos”, denunciou a parente de um preso.

Depois de muito custo e muita briga no xadrez, a polícia conseguiu fazer com que o detento retornasse para o sistema penitenciário. “Tinha mesmo este rapaz. Os outros detentos não entendiam que era problema de saúde e batiam nele”, comentou um plantonista, que prefere não ser identificado.

Solução para superlotação será novos presídios

A solução encontrada pelo governo para desafogar os xadrezes dos distritos é a construção de novas penitenciárias. A informação é do coordenador geral do Departamento Penitenciário, coronel Justino Sampaio. Ele revelou que hoje há cerca de 1.100 presos em delegacias da capital, mas o problema será resolvido em breve.

Justino disse que, nos próximos dias, 150 presos serão removidos para a Penitenciária de Ponta Grossa, recém inaugurada, que ainda não completou todas as vagas. “Vamos levar para lá os detentos cujos familiares residem na cidade ou na região”, salientou.

Metropolitana

Ele avisou que a Penitenciária Metropolitana também já está prestes a ser inaugurada, com vagas para outros 400 homens. “O prédio já está pronto. Só faltam os móveis, que estão sendo licitados”, afirmou.

Para desafogar ainda mais as cadeias da capital, há um projeto para a construção de uma Penitenciária em São José dos Pinhais, que já está na Secretaria de Obras e a previsão é para novas 900 vagas. “Acho que com isto resolveremos a maior parte da superlotação nas delegacias”, disse o oficial.

O número de detentos cresce 3% ao ano, segundo Sampaio. “No sistema temos 7.300 detentos. Contando com as delegacias, o Paraná conta hoje com 12 mil presos. Acredito que o crescimento de 3% ainda não é grande. O maior problema é social, que se for resolvido pelo governo, diminuirá em muito a criminalidade”, lembrou Sampaio.

Falta de segurança é problema

A falta de estrutura e de higiene para abrigar os presos são combinadas com a falta de segurança. O telhado do xadrez do 5.º DP (Bacacheri) está quase caindo e a degradação é visível para as pessoas que chegam na delegacia. O risco não é apenas para os presos que estão submetidos a condição de vida subumana, mas também para os policiais que trabalham no distrito, para as vítimas que procuram o local para registrar ocorrência e até mesmo para os moradores das proximidades. A possibilidade de fuga é grande e como a segurança no local é falha, a qualquer momento os detentos podem se rebelarar e escaparar, espalhando medo no bairro do Bacacheri. (VB)

Polícia prende 18 por dia

A cada 24 horas entram 18 novos presos nos xadrezes dos 13 distritos da capital. A informação é da Divisão Policial da Capital (DPC) da Polícia Civil, que informa que as cadeias estão sempre lotadas porque a polícia prende mais pessoas do que abrem vagas no Sistema Penitenciário. De acordo com a Divisão, a polícia está cumprindo o seu papel, pois não pode deixar de prender nem de pedir prisões à Justiça, de pessoas acusadas de praticar crimes, pois se deixar de fazer este ofício estaria prevaricando.

Outro fator que agrava ainda mais a situação das cadeias é que julho é mês de férias forences. Com os juízes em férias, diminui o número de expedição de alvarás de solturas e presos liberados nos julgamentos.

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