Presos assassinos de garotinha

Acostumados a fazer rituais de magia, os ciganos Pero Theodoro Petrovitch Vich, 19 anos, e a mãe dele, Vera Petrovitch, 53, parecem ter esquecido de fazer um ?trabalho? para a própria proteção. Procurados há um ano pela polícia, foram presos em um golpe de sorte, em Araçatuba, interior de São Paulo, pela Polícia Militar da cidade. A matéria publicada na edição da Tribuna do último dia 12 foi a evidência que possibilitou a prisão dos acusados de assassinar Giovanna dos Reis Costa, 9 anos, em um ritual de magia negra ocorrido em 10 de abril do ano passado.

Pero e Vera estavam escondidos na casa de parentes, em um bairro de classe média. Por volta das 17h de quinta-feira, policiais militares receberam a denúncia de que na residência havia armas e drogas. Ao chegar no endereço, os policiais vistoriaram a casa e encontraram 12 aparelhos celulares, mechas de cabelo humano, velas vermelhas, receitas de rituais e duas grandes bonecas pintadas de preto. Apesar dos objetos, a polícia não tinha indícios de qualquer crime. Porém, o olhar atento da policial militar Estavare permitiu que os acusados fossem presos. ?Percebi que uma jovem não tirava a mão debaixo da blusa. Quando a revistamos encontramos uma matéria do site da Tribuna com as fotos da Vera, do Pero e do Renato. Lemos a notícia e percebemos que a imagem era da mãe e do filho que estavam na casa. Renato não estava com eles?, contou a policial.

Sem resistência

Vera e Pero foram levados à central de plantão, que concentra as ocorrências das delegacias da cidade, e não ofereceram resistência. Eles apenas perguntavam quem os denunciou. Passaram a noite em uma cela sem banheiro e cama, até que a polícia conseguisse confirmar se a matéria encontrada era verdadeira. ?Não tínhamos como fazer isso na hora porque já era tarde da noite. Pela manhã ligamos para o Paraná e a polícia confirmou a reportagem e nos enviou os mandados de prisão por fax?, contou o delegado Marcelo Curi, da Delegacia de Investigações Gerais de Araçatuba.

Na manhã de ontem Vera e Pero foram transferidos para a delegacia de Birigüi, a 12 quilômetros de Araçatuba, de onde foram transferidos para Curitiba.

Restam dois

Assim que a polícia paulista descobriu o assassinato cometido por Vera e Pero, também soube que Renato e a filha dele, de 16 anos, eram procurados, acusados de participar do mesmo crime. A polícia fez buscas pela cidade mas não os encontrou. Segundo Pero, ele se separou da jovem assim que todos passaram a ser procurados pela polícia.

A adolescente provavelmente deve estar com o pai, que esta semana contratou o advogado criminalista Cláudio Dalledone Júnior para defendê-lo. O advogado garantiu que vai apresentar Renato à polícia nos próximos dias.

Eles se dizem inocente

Sem qualquer preocupação em esconder o rosto, Vera e Pero Petrovich desembarcaram calmamente do avião do governo do Estado, escoltados pelo superintendente Brito e pelo delegado Gerson de Mello Runpfe, da Delegacia de Vigilância e Capturas. Eles chegaram às 19h de ontem, no Aeroporto do Bacacheri, em Curitiba. Nas dependências do hangar fizeram questão de gritar ?somos inocentes? aos muitos jornalistas que os aguardavam.

?O Brasil inteiro vai ver que somos inocentes e que não existe ritual algum. Estávamos escondidos porque tínhamos medo de ser linchados?, gritava Pero, ao lado da mãe. Vera, que se irritou ao ver a imprensa, afirmou que os crimes vão continuar, uma vez que o verdadeiro assassino ainda está solto. ?Isso é coisa de cobra mandada. Quero ver quem é que vai provar que nós fizemos esse ritual. Sou digna, avó de três netos e ninguém aqui seria louco de matar e deixar rastros. Cigano é alegre, é de Deus e só tem alegria no coração?, dizia ela.

Perante a imprensa, Pero pediu segurança, pois tem certeza que sofrerá represálias na cadeia. ?Quero proteção e ficar em uma cela junto com minha mãe?, afirmou.O acusado contou que está separado da mulher há três meses e que desde então não tem notícias dela e do sogro, também acusados do crime. Em Araçatuba, Pero e a mãe dele viviam na casa de Adelaide, avó do acusado.

Transferência

Depois de se defenderem, mãe e filho foram levados em uma viatura do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) até a Delegacia de Vigilância e Capturas. De lá, Vera será encaminhada ao Centro de Triagem I, no centro de Curitiba, e Pero ao Centro de Triagem 2, em Piraquara. Eles afirmaram que só falarão em juízo e o interrogatório já está marcado para o início da semana. Mãe e filho serão ouvidos pelo promotor Octacílio Sacerdote filho que ofereceu denúncia contra Pero, Vera, Renato e a filha dele, no último dia 9.

Mãe, após um ano, sorri aliviada

?Estou aliviada por saber que foi feita Justiça. Graças a Deus eles vão pagar pelo que fizeram com a minha filha. Estou leve e me sentindo muito bem?, disse emocionada a mãe de Giovanna, Cristina Aparecida Costa (foto), 33 anos, quando soube que dois dos assassinos de sua filha foram finalmente presos.

Desde o brutal assassinato da criança, Cristina e o marido Altevir garantem que um perfume paira sobre a casa deles. Ontem, o doce aroma somou-se a forte presença da filha. ?Sentimos que ela estava entre nós. Foi uma coisa muito forte. De repente o meu telefone toca e o pessoal da TV Iguaçu nos avisa que eles foram presos. Orei muito e Deus nos ajudou?, disse a mãe.

Cristina pretende ficar frente a frente com os assassinos, mas não sabe qual será sua reação. ?Não sei o que vou falar ou sentir, mas quero entender por que fizeram tudo isso. A dor da saúdade aumenta, mas pelo menos agora vamos deitar e dormir tranqüilos?, finalizou.

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