Renato confessou o crime que provocou revolta. |
O acusado do crime que gerou protestos e paralisação no transporte coletivo de Curitiba foi preso ontem de manhã. Renato Pereira Valdívia, 24 anos, servente, confessou ter matado com um tiro o cobrador de ônibus Samir Frisson Forlin, 21, terça-feira à noite, dentro de um coletivo da linha Jardim da Ordem, durante tentativa de assalto. Telefonemas de testemunhas possibilitaram a prisão de Renato, que estava escondido na casa de uma tia quando a Polícia Militar o surpreendeu. O homem que comprou dele um revólver calibre 38, provável arma do crime, também foi detido.
Na noite de quarta-feira, a PM descobriu o nome do suspeito, contando com o apoio de populares que ligaram ao Disque-Denúncia da instituição (0800-6437090). Ontem de manhã, novo telefonema indicou o esconderijo de Renato, no Jardim do Ordem, Tatuquara – perto do local do latrocínio. A tia dele, que não sabia do caso, permitiu o acesso dos policiais e Renato foi detido sem oferecer resistência. Ele ainda forneceu o endereço do pedreiro Claudinei dos Santos, 24 anos, para quem vendeu a arma um dia depois do crime. “Claudinei estaria no ônibus na ocasião do latrocínio”, disse o tenente Ederson Ubirajara Martins, do 13.º Batalhão da PM. O pedreiro, que já esteve preso dois anos por assalto e incêndio de residência, negou ter participado do roubo seguido de morte. “Estava na minha casa, na Vila Lindóia. Só comprei a arma do Renato, que conheci quando morei no Jardim da Ordem”, disse.
Sozinho
No local do crime, testemunhas afirmaram que apenas um homem deu voz de assalto e baleou Samir.
Renato confirmou que estava sozinho e atirou na cabeça do cobrador. “Não queria matar. Apontei o revólver com o dedo no gatilho, mas ele (Samir) pôs a mão na arma e ela disparou”, afirmou, acrescentando que este foi seu primeiro roubo. Porém, testemunhas disseram à polícia, no local do crime, que Samir não esboçou reação. O servente nega ter levado dinheiro no assalto – funcionários da empresa Redentor constataram a ausência de R$ 26 reais no caixa do ônibus da linha Jardim da Ordem. Renato disse ainda que depois do crime pretendia fugir para Goiânia (GO), de onde chegou há um ano. “Mas não tinha dinheiro para viajar”, afirmou. Ele já respondeu inquérito por lesão corporal no 11.º Distrito Policial.
Com a prisão dos acusados – encaminhados ao 13.º Distrito Policial -, a paralisação de algumas linhas que cruzam o Tatuquara, prevista para a noite de ontem, foi suspensa.
Colaboração da comunidade
Um projeto idealizado pela Polícia Militar, que graças a ajuda da população tem auxiliado a polícia a solucionar casos e prender marginais como ocorreu com o assassino do cobrador. Este é o Disque-Denúncia da PM, que apesar de pouco divulgado, já está em funcionamento desde fevereiro deste ano. O sistema é ligado diretamente ao serviço reservado da PM (P-2) e garante total sigilo de informação e do informante.
Em média, o Disque-Denúncia recebe 330 ligações por mês sendo que 70% dos telefonemas são referentes a denúncias sobre tráfico de drogas e roubo de carros.
O sistema funciona 24 horas e abrange todo o Paraná. A central de atendimento está localizada no quartel central da PM, em Curitiba, e opera com 12 atendentes que repassam as informações obtidas à P-2 que desenvolve as investigações. A estrutura montada para o projeto tem capacidade para atender até 600 ligações por dia.
Além da importante função desempenhada, a implantação do sistema está colaborando com o descongestionamento das ligações para o número 190, em Curitiba. Em média, o 190 – que atende todo o tipo de situações de emergência da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Siate – recebe entre 8 e 9 mil ligações por dia, mas apenas 10% deste total resulta em ocorrência.
O número de telefonemas recebido pelo Disque-Denúncia – em comparação ao 190- pode não representar aparentemente um número vultoso, mas vale ressaltar que o projeto é voltado especificamente ao atendimento de acusações direcionadas.
Auxílio
O Disque-Denúncia tem cumprido o seu papel de auxiliar o combate ao crime no Estado. Nos seis meses de implantação, o projeto colaborou com a elucidação de 220 casos em todo o Paraná, segundo dados da Polícia Militar. Alguns casos de grande repercussão foram solucionados graças a denúncias da população à polícia, entre eles podem ser destacados a prisão de Cleverson Rosa de Amorim, 22 anos, suspeito do assassinato do padre Joaquim Braz, no início de junho em Matinhos, litoral do Estado e a apreensão de uma tonelada de maconha em Foz do Iguaçu, em maio.
Outro dado interessante relatado pela PM diz respeito a recuperação de veículos furtados ou roubados. Pelas estatísticas da Corporação, o índice de recuperação de carros entre os meses de janeiro e junho deste ano aumentou cerca de 18% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Sigilo
O Disque-Denúncia opera no número 0800-6437090 e não há necessidade do informante se identificar durante a ligação.
Ônibus voltam a trafegar
A prisão de Renato Pereira Valdivia, autor do assassinato do cobrador da linha Jardim da Ordem, Samir Frisson Forlin, na noite de terça-feira, fez com que o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) desistisse de fazer seguidas paralisações em quatro linhas de ônibus na região do Tatuquara, onde aconteceu o crime. Na quarta-feira, as linhas Jardim da Ordem, Jardim Ludovica, Santa Rita-Pinheirinho e Santa Rita-CIC foram interrompidas a partir das 16h. A idéia do sindicato era interrompê-las diariamente a partir das 20h até que o autor do crime fosse identificado.
Para o presidente do Sindimoc, Denílson Pires, a participação popular foi importantíssima para que o assassino fosse detido. Ele disse que apenas em um dia foram inúmeras as ligações para o sindicato contando sobre possíveis criminosos. “A população tem que nos ajudar e felizmente está nos ajudando. Tenho que registrar o agradecimento à população do Tatuquara e de Curitiba toda. Eles foram e serão fundamentais para vencermos essa guerra”, disse Pires, explicando que 1% de marginais não podem vencer toda Curitiba.
O presidente lembrou que em reunião com a Polícia Militar, ficou acordado que a corporação intensificará a fiscalização nos ônibus e tubos. “Só resolveremos definitivamente o problema com a colocação dos cartões magnéticos. Por isso, vamos cobrar da Urbs uma entrada em ação do sistema o mais breve possível”, salientou.