Foragido desde 2002, o acusado de liderar uma das principais quadrilhas de roubo de cargas do Sul do Brasil foi preso na última quarta-feira, dia 9, pela Polícia Civil. Mário Fogassa, 50 anos, que estava escondido em Ribeirão Preto (SP), tem mandados de prisão por formação de quadrilha, receptação e pelo assassinato do vereador Divonsir Rodrigues, de Campo do Tenente, cometido em março de 2002. Indiciado em processos que citam delegados de polícia, políticos e até um famoso técnico de futebol, ele prometeu revelar em juízo informações importantes a respeito da atividade criminosa.
Fogassa foi apresentado ontem à imprensa, vestindo colete à prova de balas. Uma precaução, segundo o delegado Roberto Heusi, titular da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, uma das unidades responsáveis pelo cumprimento do mandado de prisão. O detido diz não ter medo de ser morto, mas pediu repetidas vezes para a imprensa acompanhar seu depoimento à Justiça, em data a ser marcada pela Comarca de Rio Negro. “Todos sabem o porquê de eu usar este colete. Estou ameaçado de morte por muita gente. Foi tudo uma trama política, e há dois políticos que vou delatar em juízo”, disse, sem citar nomes nem dar detalhes sobre a suposta trama.
No processo, constam gravações de conversas entre Fogassa e um político. O preso confirmou que conhece o político, mas não quis revelar se as denúncias seriam contra ele.
Inocência policial
Falando sempre com o rosto coberto, o acusado garante que jamais denunciou algum policial, e que sequer conhecia o delegado Armando Marques Garcia, hoje aposentado, e que à época comandava a Delegacia de Estelionato. Garcia, a delegada Margareth Alferes de Oliveira Motta e o superintendente Hélcio Piassetta chegaram a ser presos, sob acusação de cobrar propina para não prender a quadrilha do empresário. Hoje, todos respondem ao processo em liberdade. À época, Garcia acusou o então delegado-geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, e o ex-secretário de Segurança Pública, José Tavares, de interferirem para que os inquéritos contra Mário Fogassa não fossem investigados.
O preso negou ter mantido contatos com Leonyl e Tavares, mas confirmou que conhecia a delegada Margareth e o superintendente Piassetta. “Fui testemunha no caso das jaquetas (um caminhão com 12 mil jaquetas roubadas foi encontrado em sua fazenda, em Campo do Tenente) na Delegacia de Estelionato. Só isso”, falou. Mais tarde, ele seria indiciado no mesmo inquérito.
Outro inocentado pelo acusado é o ex-técnico da Seleção Brasileira e atual do Santos, Wanderley Luxemburgo, citado em um dos inquéritos. Entre os bens de Fogassa, cuja origem foi considerada suspeita pela Justiça, estão dois carros (um Mercedes-Benz e um Zafira) que estavam em nome de Luxemburgo. “Eu só usava os veículos dele, que era sócio do meu filho. É outro que foi queimado sem dever nada”, sustentou.
Dono de garimpo diz que nunca foi bandido
Mário Fogassa negou todas as atividades criminosas que a polícia e o Ministério Público lhe atribuem. Ele diz tirar o sustento através de um garimpo que comanda na Amazônia, e nega qualquer envolvimento em roubo de cargas. “Não há nenhuma vítima destes caminhões. Só me deixaram a carga de jaquetas para eu passar para frente”, alegou. Ele disse que se preparava para se apresentar à polícia. “Sabia que ia ser preso há dois meses”.
Fogassa nega também ser culpado no assassinato do vereador Divonsir Rodrigues. O vereador de Campo do Tenente tirou fotos de uma carga de doces e de indícios de outras cargas roubadas que estavam na chácara Buriti, de propriedade de Fogassa, naquele município. Ele pretendia denunciar tudo o que descobrira à imprensa, mas antes disso foi executado a tiros dentro de seu bar. “A morte dele foi culpa de dois presos que fugiram (da delegacia da cidade). Não conhecia este senhor”, alega.
Outra morte
A polícia e o MP também investigam se o acusado tem relação com o assassinato do entregador de gás Fernandes Cruz, 38 anos, morto a tiros em 19 de maio, no bairro Riacho Doce, São José dos Pinhais. Fernandes era protegido da Justiça e testemunha nos processos envolvendo a quadrilha de roubo de cargas chefiada por Fogassa. Segundo o delegado Roberto Heusi, o entregador de gás teria revendido 3 mil jaquetas, desviadas de uma carga de 12 mil, supostamente roubada pela quadrilha de Fogassa. Dois acusados do assassinato – Marcelo Polli e Cristiano Silva – foram presos dias depois pela Delegacia de São José dos Pinhais.
Chacareiro
Todo o caso veio à tona com o depoimento de um antigo chacareiro de Fogassa, Oraci Matos de Arruda, que procurou a Deic (Delegacia de Investigações Criminais de Santa Catarina) para contar o que sabia. Ele diz que queria fugir da chácara Buriti ao saber das atividades suspeitas, mas foi ameaçado de morte por Fogassa. Ao todo, 26 pessoas foram denunciadas sob acusação de envolvimento com a quadrilha.
Para o delegado Heusi, o depoimento de Fogassa, desta vez como indiciado, poderá dar contornos definitivos à nebulosa história. “Agora saberemos se houve participação de policiais ou não”, falou Heusi, que confirmou ter escutado várias denúncias por parte de Fogassa no caminho entre Ribeirão Preto e Curitiba. “Mas foi uma conversa oficiosa. Prefiro não me manifestar”, disse.
Mário Fogassa foi encaminhado ao Centro de Triagem da Polícia Civil, em Curitiba, e fica à disposição da Comarca de Rio Negro.