Durante a madrugada de ontem, o módulo policial na Rua Guabirotuba, onde está localizada a 5.ª Companhia da PM, foi incendiado por moradores da Vila das Torres, em represália à morte de Alessandro de Jesus, 20 anos, mais conhecido por “Lê”. O rapaz foi ferido com um tiro nas costas, disparado por PMs no início da tarde de segunda-feira. Encaminhado pelo Siate ao Hospital Cajuru, ele não resistiu. “Lê” era acusado de ter cometido um assalto momentos antes de ser atingido. Pouco antes do incêndio, PMs teriam tumultuado o velório de “Lê”, fazendo ameaças e dando tiros para cima.
O módulo foi cercado por um grande número de vândalos. Segundo a PM, no momento, apenas uma equipe de policiais estava no complexo. Como não poderiam impedir a multidão, apenas se retiraram e chamaram reforços. Antes da chegada de mais PMs, a multidão ateou fogo no módulo. Ninguém foi detido. O comandante do policiamento da capital (CPC), coronel Ariovaldo Alves Neri Júnior, atribuiu a autoria a comparsas e amigos do suspeito morto.
Assalto
Os soldados Koppen e Silva, do Regimento da Polícia Montada, contaram que no início da tarde de segunda-feira foram abordados por um casal que ocupava um Santana, na Avenida Comendador Franco. As vítimas disseram que haviam sido assaltadas por um indivíduo que correu em direção à Vila das Torres. Com a descrição do assaltante, os policiais encontraram Alessandro, que estava acompanhado pelo irmão Nilsandro. Durante abordagem Alessandro tentou fazer seu irmão de escudo humano, mas desistiu e saiu correndo. De acordo com os policiais, eles chegaram a dar tiros de advertência, mas o suspeito, na tentativa de escapar, teria disparado contra eles. Recebeu como resposta um outro disparo que o acertou nas costas. A arma de Alessandro não foi encontrada.
Investigação
O caso foi levado ao 2.º Distrito e está sendo investigado pelo delegado Rogério Haisi. O irmão da vítima relatou que estava retornando do centro quando encontrou o “Lê” cheirando tínner. Parou para conversar e logo em seguida os policiais chegaram. O coronel Neri informou que os dois soldados estão afastado do trabalho nas ruas e permanecem no Regimento realizando tarefas internas. As armas utilizadas pelos soldados foram recolhidas e enviadas para o exame de balística.
Tiros
Na noite de segunda-feira, por volta das 22h30, quando o corpo de “Lê” estava sendo velado em uma casa da Rua Irineu Adami, na própria Vila das Torres, policiais militares teriam tumultuado o velório, dando tiros para cima. De acordo com parentes e amigos do morto, cerca de dez viaturas do Regimento de Polícia Montada (RPMont) e do 13.º Batalhão “patrulharam” toda a vila, numa nítida ação de intimidação. Uma criança de 8 anos chegou a contar à reportagem da Tribuna que um policial ordenou que ela avisasse aos participantes do velório para que saíssem da rua, caso contrário “haveria outro velório no dia seguinte”.