População quer saber em quais policiais pode confiar

Depois das últimas revelações feitas por Luciana Polerá Cardoso, 21 anos, acusada de integrar o esquema de prostituição virtual, pedofilia e extorsão que funcionava há cerca de dois anos em Curitiba, a pergunta que ainda não foi respondida pelas autoridades é: quem são os policiais envolvidos? Quais os nomes dos que já estão presos? A Corregedoria da Polícia Civil já identificou e prendeu 14 policiais, entre eles dois delegados. Mas a decretação de sigilo no inquérito impede que os nomes sejam divulgados e pessoas estranhas aos fatos tenham acesso aos autos.

Nos últimos dias, dezenas de e-mails e faxes chegaram à redação da Tribuna. Em todos eles, a mesma crítica: "se fosse um marginal comum, já teria sido escrachado". Fica a dúvida, pois o sigilo foi decretado apenas para proteger as adolescentes envolvidas no caso. No entanto, os policiais detidos é que estão sendo os maiores beneficiados pela proteção.

Porém, a cada dia, o número de informações aumenta e o cerco se fecha sobre esses nomes. Depois de conceder entrevista exclusiva às equipes da Tribuna e do programa Tribuna na TV, Luciana promete se apresentar hoje. Segundo seu advogado, José Feldhaus, um esquema de segurança foi combinado para que ela possa depor à delegada Daisi Dorigo Barão, na Corregedoria da Polícia Civil. Levado em consideração o teor do que ela deve declarar, a segurança é mesmo necessária. À nossa reportagem, ela confirmou a participação de cerca de 20 policiais no esquema, inclusive um militar. E foi além: entregou o nome do delegado Edson Costa, como participante e culpado pelo desmoronamento de toda a rede. Este policial é o mesmo que, dias atrás, invadiu os estúdios da TV Iguaçu armado, cobrando justificativas para as acusações que estavam no ar até então, consideradas, por ele, infundadas.

O mesmo policial teria escapado de ser preso em flagrante. Numa das tentativas de extorsão contra um empresário, o filho dele teria providenciado cédulas marcadas para "comprar" os tiras e evitar a prisão do pai. O objetivo era confirmar a extorsão, o que não aconteceu. Nesse dia, Edson Costa não aceitou o dinheiro, pois teria sido avisado por alguém da Corregedoria, segundo Luciana Polerá, de que as notas estavam identificadas para posterior flagrante. Sobre esta última denúncia, a corregedora Charis Negrão Tonhozi  preferiu não se pronunciar. Ela se limitou a dizer, através da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública, que "todas as denúncias serão investigadas".

Mal sabia o delegado Edson que essa sua atitude, de recusar o dinheiro e apressar o flagrante, foi o estopim que incendiou o caso, que mais tarde veio à tona, depois que os pais de uma garota, aliciada no esquema, contaram o que sabiam ao diretor da escola onde tudo começou, e ele solicitou ajuda a dois soldados de Patrulha Escolar da Polícia Militar.

Mais gente participa do esquema

O esquema ruiu após o flagrante do empresário Adi Sfredo, 53 anos, que estava num motel com uma menina de 12 anos, no dia 28 de abril deste ano. No local, ele não quis pagar a propina de R$ 15 mil e foi levado ao 4.º DP (São Lourenço). Da delegacia, ele avisou o filho, que é estudante de direito, e coincidentemente, fazia estágio no mesmo distrito com o delegado Edson Costa. O rapaz então avisou a Corregedoria da Polícia Civil e foi até a delegacia com cédulas marcadas, totalizando R$ 5 mil. Porém, segundo Luciana, minutos antes o delegado foi avisado por um policial da Corregedoria que iria ser autuado em flagrante, caso recebesse o dinheiro.

Depois disso, ele foi obrigado a instaurar o inquérito. Após pedir para Luciana falsificar uma assinatura em nome de Gisele, ele procurou os pais da menina de 12 anos, para que ela fosse ouvida. Porém, o tiro saiu pela culatra e o esquema desandou.

Depois disso, a Corregedoria instaurou inquérito para apurar os fatos e descobriu que o golpe era aplicado por policiais de três distritos da capital. Além do 4.º DP, Luciana confirmou que participavam do esquema o 7.º DP (Vila Hauer) e o 12.º DP (Santa Felicidade).

No último dia 17, a juíza Suzana Massko Hirama Loreto de Oliveira decretou a prisão temporária de 12 policiais, dois assistentes de segurança e de uma advogada. Somente, o último decreto não foi cumprido. Apesar de ser denunciada pelo empresário de estar envolvida na negociação, a defensora não foi presa e, dias depois, teve sua prisão revogada pelo juiz da Vara de Inquéritos Policiais, Pedro Luís Sanson Corat.

Presos

No último dia 19, foram cumpridas as prisões do delegado titular e do adjunto, do superintendente, de uma escrivã, e de três investigadores (uma mulher) do 4.º Distrito (São Lourenço). Também foram presos um assistente de segurança do 7.º DP (Vila Hauer); de um investigador da DP de São José dos Pinhais; de um investigador e de um assistente de segurança do 12.º DP (Santa Felicidade), este último é músico do conjunto musical CPI do Samba (grupo de pagode integrado pelo delegado-geral, Jorge Azôr Pinto). No dia 23, se apresentaram na Corregedoria o superintendente e um investigador do 7.º DP. No dia seguinte, outro investigador do mesmo distrito se entregou.

Segundo Luciana, outras pessoas que participavam da rede de pedofilia ainda estão soltas. Sem fornecer os nomes, que deverão fazer parte do acordo que ela deve fazer com a Justiça, a jovem adiantou que estão envolvidos no esquema um delegado, o superintendente e oito policiais do 7.º DP; os dois delegados e quatro policiais do 4.º DP; quatro policiais do 12.º Distrito e um soldado da Polícia Militar. Além de outras pessoas que não pertencem aos quadros da polícia.

Após o interrogatório da jovem, que deverá ocorrer hoje, novas prisões podem ser decretadas pela Justiça.

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