A excessiva violência e quantidade de assaltos – a residências, pedestres e estabelecimentos comerciais – no Jardim Botânico, em Curitiba, vêm fazendo com que os moradores locais sintam-se pressionados a impôr, a si próprios, um toque de recolher. ?É simplesmente impossível andar na rua depois das 19h. A violência está demais?, afirma o comerciante Hertes Ivolela. Algumas empresas, que prestavam serviços importantes para o bairro, como uma rede de farmácias conhecida na cidade, encerrou suas atividades na região porque não suportou a violência e os prejuízos. Os assaltos ocorrem a qualquer hora do dia ou da noite.
Num abaixo-assinado, dezenas de comerciantes da região pediram providências e mais segurança. Uma seqüência de crimes, em particular, chamou a atenção. Uma empresa de equipamentos de informática, na Rua Brasílio Itiberê, foi assaltada três vezes, em menos de duas semanas, pelo mesmo marginal, armado e de bicicleta. Todos reclamam que os marginais são sempre os mesmos. Tratam-se de jovens, entre 16 e 20 anos, moradores da Vila Torres, fortemente armados.
Numa volta da reportagem pelo bairro, cada comerciante tem uma história de violência diferente para contar. Euriel Zanetti, dono de uma oficina na Avenida Comendador Franco, revela que, por pelo menos três vezes já sofreu roubos, com marginais lhe apontando revólveres na cabeça. Com tanta violência, hoje se obriga a trabalhar de portas fechadas na oficina e, para não perder clientes, coloca um aviso grande na porta, explicando o porquê da atitude.
Pedestres
Não são somente os comerciantes que sofrem com a marginalidade. Uma moradora já foi deixada, só de calcinha, no ponto de ônibus. O resto – roupas, sapatos e a bolsa – foram levados. Na esquina da Avenida Prefeito Omar Sabbag com Rua Brasílio Itiberê, o alvo são os motoristas, principalmente mulheres. Um grupo de cerca de seis adolescentes passa horas no cruzamento, assaltando quem pára no sinaleiro.
Os comerciantes até nem colocam mais a culpa na falta de polícia, que em muitos dias mal-aparecem no bairro. ?Já viramos amigos do doutor Rubens (delegado titular da Delegacia de Furtos e Roubos, instalada na região), sabemos da importância de registrar o boletim de ocorrência. Também sabemos da boa vontade da PM, mas as quadrilhas são organizadas?, revela Ivolela. O abaixo-assinado descreve que os bandidos têm olheiros e conhecem os horários em que eventualmente passam viaturas da PM.
Raio-X
Ivolela revela outro perfil dos bandidos. Há alguns anos ele diz que o tráfico de drogas era mais forte. Essa movimentação diminuiu, mas em contrapartida, os assaltos aumentaram. ?Nós (trabalhadores do bairro) concluímos que assalto dá mais lucro?, ironiza Ivolela.
Comerciantes investem em segurança
Os investimentos em segurança têm chegado a marcas absurdas entre os comerciantes do Jardim Botânico. Investimentos que nem sempre inibem a ação dos marginais. São câmeras, alarmes, seguranças na porta, película nas vitrines – a ponto de esconder os produtos -, entre outros. Mesmo assim, os marginais invadem os estabelecimentos e, usando de armas de grosso calibre, ameaçam as vítimas. ?Sabemos que esses artifícios não seguram o ladrão, mas colocamos apenas para que exista algum tipo de resistência. É um paliativo para tentarmos resguardar nossos funcionários, nosso negócio, nossas vidas?, expôs Otávio Fumis, dono de uma franquia dos Correios.
?Situação não é tão grave?, diz major
O major Douglas Dabul, chefe da Seção de Planejamento, do Comando do Policiamento da Capital, da Polícia Militar, afirma que a redução no tráfico de drogas na região, já é resultado de ações enérgicas das polícias Civil e Militar. Ele também avalia que, na última semana, o Jardim Botânico obteve uma redução de 14% na quantidade de chamadas e atendimentos à população, resultado da maior presença de viaturas e policiais.
Dabul reavalia a informação prestada pelos comerciantes, a respeito da quantidade e calibre das armas, utilizadas pelos marginais nos assaltos. ?A situação não é tão grave assim. Muitos marginais foram pegos na área com armas de brinquedo. Alguns colocam as mãos para dentro da roupa, apenas fingindo estar armados. É natural que as vítimas se apavorem e acreditem que o bandido esteja com armamento pesado?, analisa o major.
Quanto à identificação das quadrilhas que atuam no bairro, Dabul revela que a Polícia Civil tem desenvolvido seu trabalho na Vila Torres e arredores, mas não revelou detalhes. O major ressalta que a melhor maneira de atender às necessidades da região é ter a participação da comunidade, que deve sempre informar à polícia os casos pontuais de violência, pelos telefones 190 ou 181. Ele também divulga o telefone da Companhia da PM que atende o Jardim Botânico -(41) 3264-1033 – bem como o da viatura do Projeto Povo local – (41) 9925-5244. Para quem reside na região vizinha, o Prado Velho, ponde contatar a Companhia de Polícia da área através dos telefones (41)3222-0577 / (41) 9925-5278.