A polícia não consegue cumprir bem seu papel sem a proximidade com a população. A afirmação é do coronel Aristeu Leonardo Tavares, assessor parlamentar do Comando Geral da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.
Assim ele resume a importância do policiamento comuntário, que está sendo aplicado em todo o Brasil. O Estado do Rio de Janeiro tem o projeto mais conhecido atualmente, o da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Elas estão sendo implantadas em favelas da cidade do Rio de Janeiro. Até o final do ano devem ser 23 unidades no total.
O policiamento comunitário foi um dos temas da 3.ª Reunião Extraordinária do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, realizado na última semana em Curitiba.
Tavares explica que a instalação de uma UPP passa por quatro fases. A primeira delas é a retirada de armamento pesado das mãos de criminosos; a segunda, a aproximação da comunidade do próprio Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
A postura dos policiais já não é de levar armas pesadas na mão, por exemplo. “Quando há noção exata de que não existem mais riscos, começa a fase três, da inauguração da UPP. A quarta fase é a entrada de outros viés do Estado na comunidade, com educação, saúde, identificação civil, cultura. É uma intervenção do Estado, com a polícia entrando primeiramente”, classifica o coronel.
De acordo com Tavares, já está comprovado que onde existe uma UPP há uma redução no registro de ocorrências, especialmente homicídios e roubos (tanto de veículos quanto a motoristas e transeuntes). “Eu moro no bairro da Tijuca, onde há 5 UPPs, e posso falar como cidadão: a sensação de segurança é mais perceptível”, afirma.
Paraná tem projeto semelhante
Uma iniciativa semelhante à do Rio de Janeiro foi aplicada pela Polícia Militar do Paraná na Vila Osternack, em Curitiba. O projeto na comunidade começou em novembro de 2008 e também detectou uma diminuição no número das ocorrências.
Já houve pico de 14 homicídios por final de semana na Vila Osternack. Hoje, segundo a PM, tem fim de semana que nenhum homicídio é cometido. Tudo começou com a retirada de criminosos da região. O policiamento no local é permanente.
O projeto acontece em parceria com as entidades da sociedade civil. Foram instaladas câmaras de trabalho, onde cada um pode ajudar a população da maneira que pode.
A câmara religiosa, por exemplo, se dispôs a dar aulas de música. Hoje já são duas turmas. Atualmente a PM do Paraná possui 28 projetos de policiamento comunitário.
“A aproximação com a população desmistifica a imagem que o indivíduo tem do policial, que só proíbe, coíbe. Os policiais se aproximam de uma outra forma e hoje isto está se incrementando cada vez mais”, avalia o coronel Luiz Rodrigo Larson Carstens, comandante geral da PM.
Outra ferramenta de policiamento comunitário empregado no Paraná é o Projeto Povo, no qual os policiais que cobrem determinada região fazem essa aproximação com a população e possuem telefones celulares para atendimentos diretos.
“Quando se cria um projeto, imaginamos ele 100% no trilho. Mas todos os projetos tem as suas interceptações, como oscilação de efetivo, problema logístico, dificuldades diante do número de demandas da sociedade, que tira a margem de tempo do policial de promover esta intermediação”, declara Carstens.
Ele acredita que não tem mais como descartar o conceito de policiamento comunitário. Para o coronel, a entrada de um novo governo no Estado não mudará isto.
“Não importa se for pelo próprio Projeto Povo, por módulos móveis ou fixos. Os policiais precisam estar voltados para esta filosofia ,de orientar, mediar conflitos e se antecipar às dificuldades da população”, considera. (JC)