Camargo conversava com
uma amiga, quando foi
atacado por dois bandidos.

Na madrugada, investigador percebeu que poderia ser assaltado e tentou escapar. Dar as costas aos bandidos foi um gesto fatal para Getúlio Camargo, 55 anos, lotado na Comissão de Processo Disciplinar da Corregedoria da Polícia Civil. Um dos assaltantes disparou um tiro que entrou pelo braço direito, atravessou lateralmente o peito, e deixou o policial morto na Rua Benvenuto Gusso, Boa Vista, à 1h30 de ontem.

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Getúlio conversava com uma amiga, em frente ao portão da casa dela, quando apareceu um jovem moreno, forte, de aproximadamente 20 anos e cabeça raspada. O desconhecido perguntou à mulher se a corrente que ela usava no pescoço era de ouro. ?É bijuteria?, ela respondeu.

O policial notou que se tratava de um roubo. ?Ele jogou a capanga com sua arma para dentro do terreno e puxou a mulher, chamando-a para entrar?, relatou o delegado Rubens Recalcatti, titular da Delegacia de Furtos e Roubos. Nisso, um segundo assaltante, que estava escondido atrás da árvore, atirou uma única vez, atingindo fatalmente o policial. Uma cápsula de pistola calibre 380 foi apreendida pela Delegacia de Homicídios, que atendeu inicialmente o crime.

Os bandidos apanharam o telefone celular e a chave do Meriva prata do policial, estacionado na rua. O carro foi localizado na manhã de ontem, na Rua Pedro Socha, São Gabriel, Colombo, sem o aparelho de som e sem o pneu estepe. Os criminosos tentaram retirar a bateria do carro, mas não conseguiram.

Inexperiência

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Getúlio Camargo passou quase toda a carreira policial em gabinetes, sem participar ativamente de investigações policiais. ?Ele nunca foi policial operacional e, se tivesse mais experiência, teria reagido ao assalto. Ele não quis perder a arma?, acredita o investigador e amigo José Carlos de Oliveira, que trabalhou com a vítima na delegacia de Campina Grande do Sul.

Para o delegado Recalcatti, é certo que a intenção dos bandidos era apenas o roubo do Meriva. O tiro ocorreu porque o bandido entendeu o gesto de Getúlio como uma reação ao assalto. ?Temos algumas pistas dos criminosos e esperamos pegá-los em breve?, afirmou. A Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos também participa da investigação conjunta.

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Sete assassinatos em um ano

A série de assassinatos de policiais civis expõe de forma trágica a deterioração da segurança pública no Estado. Nos últimos 12 meses, seis investigadores e um escrivão foram assassinados em assaltos, acerto de contas ou por vingança, somente em Curitiba e Região Metropolitana.

Em 29 de março de 2004, Aparecido Lopes, 46 anos, então lotado no 11.º Distrito Policial, foi morto a tiros em frente ao portão de sua casa, na Rua Joaquim Oliveira Filho, Campo Comprido. Ele tinha sido preso em maio de 2003, acusado de um assassinato ocorrido dois meses antes, em Campo Largo.

Em 6 de junho, Luiz Gonzaga dos Santos, 49, foi assassinado a tiros em frente à delegacia de Colombo, onde estava cumprindo o plantão. O fato desencadeou vários protestos por parte de policiais civis – uma semana depois a Secretaria Estadual de Segurança Pública determinou que a PM realizasse rondas para reforçar a segurança nas delegacias da Região Metropolitana. Os autores do crime pretendiam invadir o xadrez para resgatar um detento -seis pessoas, acusadas da autoria do assassinato, foram presas posteriormente pelo Cope.

Onze dias depois, o investigador Bernardo Braga Lacerda foi executado a tiros, ao lado da viatura descaracterizada que ocupava, na Rua Desembargador Motta, Batel. Lotado na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, o policial recebeu um tiro na cabeça e outro na perna.

Em 12 de julho, Osvaldo Alves da Veiga, 46, lotado na Delegacia de Homicídios, foi executado com seis tiros na Rua Jordânia, próxima à BR-277, no Cajuru. Dias depois, João Carlos Mendes da Luz, 26, foi preso sob acusação de ter atirado no policial. Os motivos do crime nunca foram revelados, mas haveria ligação entre o assassinato e atividades criminosas.

No dia 5 de agosto, o escrivão Claudemir Dallamarta, 52, foi morto com vários tiros dentro de casa, na Rua Chile, Prado Velho. A mulher dele, Cláudia de Paula Maestrelli, 26, assumiu o crime alegando que era constantemente agredida pelo companheiro.

O último policial civil morto foi Leônidas da Silva Leite, 47, baleado em um bar de Almirante Tamandaré, na noite de 19 de janeiro. O Cope prendeu o autor do crime, que confessou ter matado Leônidas porque ele o estaria ameaçando.