Sentir na pele o que o indivíduo deve sentir na hora de ser imobilizado e algemado foi a prova de fogo das policiais femininas que almejam fazer parte da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), do 12.º Batalhão da Polícia Militar. A unidade especializada, que pela primeira vez está buscando integrar mulheres em suas equipes, é responsável pelo policiamento de 35 bairros de Curitiba e também da área central.
As jovens policiais – Caroline Felix Barbosa, 19 anos, Karina Rossi Marques, 22, e Francieli Nunes, 27 – são voluntárias para a experiência e estão surpreendendo, não só o instrutor – tenente Lima -, como também seus colegas de farda, que apostam na capacidade e na coragem das ?garotas?.
Elas também sentem na pele o treinamento. |
A última rigorosa instrução aconteceu quarta-feira da semana passada, no pátio do quartel do batalhão e também no salão paroquial da Igreja Santa Quitéria.
As mesmas técnicas de imobilização e algemamento que são ensinadas para os policiais da Swat norte-americana (a polícia de elite de lá), foram ministradas ao grupo de policiais da Rotam. Foram mais de oito horas de treino intensivo, que deixaram nervos e músculos doloridos. Entre caretas e muitos ?ai-ai-ais? e ?ui-ui-uis?, em pé, ajoelhados e deitados, eles (e elas) exercitaram inúmeras vezes a forma de imobilizar uma pessoa que está sendo detida e algemá-la, sem usar de violência nem força, mas causando dor.
Técnica
?A técnica é baseada no Aiquidô. Ela causa dor sem lesionar e permite a imobilização do inimigo sem que ferir os direitos humanos?, revela o instrutor, tenente Lima. ?Não há força. Mesmo as pessoas de menor porte físico, como as nossas policiais, ficam aptas a dominar bem qualquer indivíduo?, completa.
Que dói, dói! |
Durante a instrução é possível confirmar as palavras do oficial.
As policiais femininas Caroline e Karina conseguiram ?render? colegas bem mais fortes que elas. Francieli deverá receber a mesma aula em outra oportunidade, uma vez que havia passado a noite em patrulhamento e participado de uma prisão em flagrante e foi dispensada do exercício.
O cuidado em imobilizar e transportar o preso é tamanho, que nem mesmo a algema é batida nos pulsos, para não provocar ferimento. Mas a ação é rígida. Deve ser desenvolvida em no máximo dez segundos, com eficiência. ?Dói bastante?, reclamou Caroline, exibindo as mãos inchadas, já que para aprender as técnicas ela também serviu de cobaia.
?Mas é uma instrução muito importante?, salientou.
Já Karina, que praticava artes marciais, aproveitou bem os ensinamentos que complementavam o que já conhecia. ?Adorei esta aula?, assegurou. A Tribuna está acompanhando o estágio das policiais que, caso venham a ser aprovadas, romperão uma importante barreira na corporação ao fazer parte do seleto grupo das Rondas Ostensivas.
Treinamento de Swat
Na hora do ?vamos-ver? as meninas não ficam pra trás. |
Usar o corpo como arma e as mãos como instrumento para dominar o inimigo. Esta é a essência dos métodos de imobilização e algemamento que estão sendo transmitidos às policiais (e aos policiais) da Rotam. A técnica foi desenvolvida pelo Centro Avançado de Técnicas de Imobilização (Cati), entidade brasileira, com sede em Vitória (ES), que ministra cursos em vários países, disseminando as formas de ação que preservam os direitos humanos, a integridade física e respeito à vida.
?Esse curso é dado em todo o mundo?, explica o soldado Fernando, que é um dos instrutores do Cati há 6 anos. Segundo ele, a Força Delta, grupo de elite do Exército norte-americano recebeu os mesmos ensinamentos após os atentados de 11 de setembro. Também foi o Cati que treinou os militares americanos que estão no Iraque e os policiais federais que acompanham cada vôo no espaço aéreo dos Estados Unidos.
O inimigo é imobilizado com pressões nas articulações do corpo (dedos, cotovelos, ombros, joelhos e tornozelos), que provocam dor, mas não machucam. Isso reduz a necessidade de uso de arma de fogo e, apesar de não parecer, humaniza o trabalho policial.