O entrevero está formado. Dias depois de explodir o esquema de aliciamento e prostituição de meninas de 11 a 13 anos, que terminava em extorsão, segundo as investigações, com a participação de policiais civis, a Polícia Militar resolveu dar detalhes. Ontem, no Quartel do Comando Geral, a capitão Elisabet Mäenich e o aspirante Alessandro Maceno, ambos da coordenação da Patrulha Escolar, contaram como souberam do esquema e esclareceram alguns apontamentos feitos pelo delegado do 4.º Distrito Policial, Edson Costa. Também explicaram como chegaram até Luciana Polera Correia Cardoso, apontada como mentora da quadrilha.
Segundo os oficiais, no dia 27 de abril, o diretor do colégio onde as meninas estudavam soube que elas eram aliciadas para orgias sexuais e pediu ajuda aos soldados Rosemeri e Castro, da Patrulha Escolar. No dia seguinte, os policiais conversaram com algumas crianças, com quem descobriram o endereço da acusada. "Eles encontraram Luciana, que estava acompanhada de outra jovem, grávida, e a convidaram para ir até a delegacia. Ela podia se recusar, mas tinha tanta certeza de que não lhe aconteceria nada que entrou na viatura", detalhou a capitão.
Percebendo que se tratava de um caso bastante delicado, os soldados avisaram seus superiores. Mäenich e Maceno então foram até o 8.º Distrito Policial. Lá também estava uma das meninas, acompanhada da mãe e do cunhado. Na delegacia, a criança reconheceu Luciana, mas a delegada disse que era para todos irem ao 4.ºDistrito Policial, uma vez que já havia um inquérito aberto naquela distrital. A família da menina se recusou a ir, porque disseram que sabiam do envolvimento de policiais no esquema. Os PMs então os levaram até o Nucria, mas lá também foram orientados a procurar o 4.º Distrito.
Meninas fazem exame no IML
Duas adolescentes fizeram exames no Instituto Médico-Legal, ontem pela manhã. Viaturas da Patrulha Escolar da Polícia Militar foram flagradas pela reportagem da Tribuna, estacionadas no pátio do IML, mas os PMs não puderam prestar informações sobre quem eles estavam conduzindo e para qual finalidade.
A irmã de uma das meninas, que preferiu não se identificar, informou que tomou conhecimento do caso de pedofilia e provável extorsão, que envolvia sua irmã, na quarta-feira (dia 19). "Um vizinho me informou que havia um carro parado na esquina com a minha irmã e outra menina dentro. Fui até lá e os homens se identificaram como policiais e um deles, como delegado", afirmou. Uma mulher, conhecida por Luciana, – que é apontada como um dos pivôs do esquema de aliciamento de menores – também estaria no carro.
Ainda segundo o relato da irmã da garota, um dos policiais disse que a menina estava envolvida em uma ocorrência policial e precisava da certidão de nascimento dela. "Eu dei a certidão e depois eles foram embora." A garota entrevistada também disse acreditar que a irmã estava envolvida no esquema há pouco tempo.
Confusão no distrito policial
Os soldados levaram Luciana e a gestante até o delegado Edson Costa, no 4.º DP. Luciana manteve-se calma durante todo o tempo. O delegado afirma que um dos soldados a agrediu. Mäenich e Maceno garantem que a acusação de Costa é mentirosa e que não houve agressão. Depois da discussão entre o delegado e o soldado, Luciana foi liberada e permanece sumida. Seu apartamento está vazio e, segundo informações, ela estaria na casa de parentes, em Matinhos.
Costa afirma que não tinha indícios para pedir a prisão da acusada, uma vez que a menina, que estava acompanhada da mãe e do cunhado, disse que não conhecia Luciana. Porém, a mãe da criança contou sua filha afirmou desconhecer a acusada, porque o delegado ameaçou prendê-la e o cunhado dela.
Dias depois da confusão na delegacia, a menina foi ao Quartel do Comando Geral e prestou novos depoimentos na presença da mãe, da promotora de Justiça Carla Moretto Maccarini, e de alguns policiais, entre eles a capitão Mäenich. Naquele dia a menina contou como foi obrigada a mentir na delegacia, afirmando que não conhecia Luciana.
Ontem, durante o Tribuna na TV, o delegado, depois de praticamente invadir a redação, fez novas acusações à PM, dizendo que a capitão pode ter induzido o depoimento da menina. Por sua vez, Mäenich afirmou que as acusações são mentirosas. "Nós não temos interesse nenhum em induzir o depoimento. A criança falou o que sabe e, além disso, todo o procedimento foi acompanhado por uma promotora. As acusações são infundadas", finalizou, com toda serenidade, a capitão.
Delegado invade estúdio
De forma inesperada, o delegado Edson Costa decidiu exercer ontem o direito de se defender das acusações. Bastante exaltado, chegou no início da tarde na TV Iguaçu, de onde é transmitido ao vivo o programa Tribuna na TV. Sem aguardar ser anunciado, subiu direto à redação e, alternando momentos ríspidos com outros emocionados, acusou a equipe de jornalismo de tentar desmoralizá-lo e exigiu entrar no estúdio para conversar com o apresentador Ricardo Chab, que estava no ar. Na cintura o delegado carregava uma pistola, todo o tempo.
A equipe conseguiu acalmá-lo e, depois de desarmado, ele foi conduzido ao estúdio e participou do programa. Costa explicou suas razões e, no contexto das declarações, fez novas acusações contra a capitão Mäenich, da Patrulha Escolar Comunitária, dizendo que ela manipulou os depoimentos das adolescentes.