Policiais confirmam: “instituição está falida”

Diante da informação de que um folheto apócrifo tem sido distribuido em delegacias de Curitiba, denunciando o pequeno número de policiais existente no Estado e a dificuldade que enfrenta a Polícia Civil com seus quadros defasados, vários policiais resolveram "abrir o jogo", confirmando o que há muito já se sabe: a instituição vai mal das pernas e pouco consegue fazer além de cuidar de presos em delegacias.

O necessário trabalho de investigação, que fazia da Polícia Civil a chamada Polícia Judiciária e a distinguia da Polícia Militar (responsável pelo patrulhamento ostensivo e preventivo) raramente é realizado. Não tem pessoal para isso. Os inquéritos são feitos com dificuldades, apresentam falhas e isso facilita a vida dos marginais, uma vez que qualquer advogado – mesmo com pouca experiência – consegue soltá-los. A velha máxima de que "a polícia prende e a Justiça solta" vai ficando cada vez mais verdadeira, já que sem um inquérito bem feito, sem investigações e sem provas contra os criminosos, nada mais resta à Justiça do que soltar um acusado.

Bons tempos

Em 1970, a Polícia Civil tinha um efetivo de 5 mil servidores e a população era metade da atual. Mais de 30 anos depois o número de habitantes dobrou e o efetivo diminuiu para pouco mais da metade, hoje é de 2.830. Sem falar que naquela época o número de homicídios era baixíssimo, ocorria em média um por mês. Roubos eram efetuados por quadrilhas especializadas, hoje qualquer desempregado se arma ou simula estar armado para assaltar ônibus, mercados, casas lotéricas, etc. "Veja o problema que temos. Sem contar que o número de unidades policiais cresceu, novos municípios e comarcas surgiram", salientou um policial, que já tem mais de 30 anos de carreira e que prefere não se identificar para não sofrer represálias. "Foram criadas muitas delegacias, principalmente no interior", acrescentou.

Outro policial, que também não pode ser identificado para que não sofra punição, alerta que para cada unidade criada deveriam ser contratados novos policiais. "Virou festa. Cria-se delegacias a todo o momento, mas não tem gente para trabalhar. Tinha a Antitóxicos, criaram a Divisão de Narcóticos. Tiveram que diminuir o efetivo da delegacia para colocar na divisão", denuncia. "O número de policiais deveria pelo menos dobrar para atender a demanda", sugere um outro investigador. Ele argumenta que o governo deveria fazer um planejamento para reestruturar a Polícia Civil. "Existem áreas que estão diretamente relacionadas com a repressão, como o tráfico de drogas, crimes ambientais. Tem que haver a fiscalização e ao mesmo tempo apurar os crimes para tirar os autores de circulação. O usuário de hoje é o traficante de amanhã. E o pior é que o tráfico está ligado a todos os outros crimes. Precisa ser combatido com urgência, mas não é por falta de efetivo e os marginais estão ganhando força", alerta o policial.

Investigações

Os policiais civis entrevistados pela Tribuna – eles não serão identificados -, denunciam ainda que "investigação é coisa do passado". "Hoje a Polícia Civil prende quando uma pessoa denuncia e conta quem é e onde está o autor do crime", afirmaram vários policiais. "Não temos gente para trabalhar. Isso já não é novidade há muito tempo", completa um deles. "O sistema hoje é recheado de discursos, mas providências que é bom, nada", lamenta outro. "O secretário faz discurso político, que não se sustenta perante os dados reais", acrescenta um outro, referindo-se ao secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari. "Dizem que o número de crimes reduziu. É uma mentira. As vítimas é que estão desacreditadas. Registra queixa uma vez, duas, não resolve nada, elas nem voltam mais", salienta outro.

Descrédito

O pior é que não são só as vítimas que não acreditam mais no sistema, mas os próprios policiais. "Os distritos que deveriam agir nos bairros, só recebem presos da PM, cuidam deles e entregam intimações. Nem investigar se o sujeito cometeu outros crimes fazem. Tenho saudades da polícia de antigamente", afirma um policial. "A polícia está completamente abandonada. Por isto surge a revolta e alguém resolve fazer um panfleto mostrando a realidade. Não assina porque senão é punido", completa outro.

Um dos entrevistados sugere que todas as delegacias deveriam ser equipadas como o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que tem quatro equipes formadas por dez investigadores, viaturas, escrivães, delegados. "Não é uma crítica, mas um exemplo de como a polícia deveria funcionar. Aí sim, a população poderia cobrar. Com uma estrutura dessas dava para combater o crime e prender muitos criminosos por dia. Isso iria fazer os marginais recuar, mas do jeito que está, eles estão ganhando é cada vez mais espaço", disse.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo