Em Almirante Tamandaré, recente protesto por mais segurança. |
Ter apenas um policial civil por plantão, cuidando de dezenas de presos, não é problema somente da delegacia de Colombo, onde um plantonista foi morto na tarde de domingo. A maioria das delegacias da Região Metropolitana está na mesma situação, contando com apenas um policial para cuidar de presos durante a noite, fins de semana e feriados. “Viramos carcereiros”, desabafou um policial, que prefere não ser identificado para não sofrer represálias.
Ontem a Tribuna apurou que quase todas as delegacias da Região Metropolitana possuem apenas um plantonista. Os policiais lotados no Alto Maracanã, Quatro Barras, Bocaiúva do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Cerro Azul, Campina Grande do Sul, Rio Branco do Sul e Piraquara, temem uma invasão nas delegacias, a qualquer momento, para libertar presos. Nestes locais, investigação é coisa que não se faz mais, já que os poucos policiais que estão trabalhando, exercem a função de carcereiro. “É comum ligarem para a delegacia e denunciarem o paradeiro de autores de homicídio, assaltantes, traficantes e outros criminosos. Sinto em informar que não temos ninguém para atender o local, pois estou sozinho no plantão e não tenho como deixar a cadeia superlotada para verificar alguma coisa”, lamentou um policial. “É triste não poder atender um local de homicídio. Sempre ouço as críticas de que policiais não foram ao local, mas esquecem que tiraram a nossa função investigativa para virar babá de preso”, denuncia outro investigador. “O pior é que os criminosos ficam impunes”, completa.
Mais grave ainda é a delegacia de Campo Magro, que conta com um único policial que precisa fazer de tudo. Ele conta apenas com quatro funcionários da prefeitura para ajudá-lo nas questões burocráticas. São 18 presos recolhidos ali, sem segurança nenhuma.
Em meio às dificuldades, algumas raras exceções
A situação está um pouco melhor nas delegacias de São José dos Pinhais, Pinhais, Araucária, Fazenda Rio Grande e Mandirituba. Em São José dos Pinhais, são 126 detentos recolhidos no xadrez e três policiais civis por plantão. Apesar do número de policiais não ser suficiente, a delegacia tem apresentado um bom rendimento, já que ao invés do plantão ser de 24 horas por 72, os policiais retornam ao trabalho antes do previsto, para investigar e tentar não deixar casos insolúveis.
Pinhais conta com dois policiais por plantão, para cuidar de 73 presos, sendo dois condenados. Também sem condições ideais de trabalho, realiza pelo menos uma prisão por dia .
Em Araucária, o superintendente Edson Andrade Vieira diz que não tem do que reclamar. Há três plantonistas diariamente para cuidar de 29 presos, todos provisórios e considerados de periculosidade baixa. “Aqui temos um bom relacionamento com judiciário e o Ministério Público. Quando prendemos pessoas perigosas a juíza Maria Cristina Franco Chaves oficia ao juiz da Vara de Execuções Penais e consegue vagas no sistema penitenciário. Presos perigosos não ficam por aqui”, comenta o superintendente. Ele disse que, para dar mais tranqüilidade aos plantonistas, os presos são revistados com freqüência e recebem um bom tratamento.
A melhor
Outra delegacia onde não se ouve reclamações, é a de Fazenda Rio Grande, que conta com 12 policiais civis e 14 funcionários municipais. “É a municipalização da polícia”, ressalta o superintendente Valdir Bicudo. O xadrez conta com 51 presos – oito deles já condenados – em uma cadeia feita para 37. “Dava para encher mais, mas o delegado Germíno Marques Bonfim tem bom senso e só autua em flagrante realmente as pessoas perigosas. A delegacia tem dois policiais civis por plantão e ainda conta com a ajuda de mais dois funcionários municipais.
A delegacia de Mandirituba, também comandada pelo delegado de Fazenda Rio Grande, é uma outra exceção. Apesar de ter um único policial lotado ali, a guarda municipal é responsável pela vigilância dos 10 presos. Já as delegacias de Quitandinha e Agudos do Sul, também só têm um policial, mas em compensação não têm nenhum preso.
Unificação das polícias seria bom remédio
A notícia dada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança de que o secretário Luiz Fernando Delazari vai colocar policiais militares nas delegacias da Polícia Civil, agradou a maioria dos policiais da Região Metropolitana com os quais a Tribuna entrou em contato ontem.
Um policial, que prefere ficar no anonimato, disse que agora é a hora da unificação. “Tem que sair do papel. Não precisa contratar mais policiais, basta usar os recursos humanos disponíveis”, sugere. Ele disse que ao invés de fazer somente a prevenção do crime, como ocorre atualmente, a PM poderia trabalhar em conjunto com a Polícia Civil na repressão dos delitos. “Hoje as pessoas denunciam autores e não tem policial para prender. Pedimos as prisões preventivas, que não saem do papel e não é porque o acusado fugiu, ele está em casa, mas não há investigadores para prendê-lo. Os investigadores têm que ficar cuidando dos presos e atendendo telefone”, denuncia o policial. Ele acredita que a PM poderia ajudar nas delegacias cumprindo mandados de prisão, ajudando na vigilância de presos e até mesmo levando intimação.
Outro policial teme que o secretário coloque apenas viaturas em frente às delegacias. “Isto não adianta nada. Já foi feito nos distritos de Curitiba e em nada adiantou”. Eles têm é que ficar dentro da delegacia, junto com os investigadores. Trabalhando em conjunto, resolve.
Sesp promete tomar providências
O secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, enviou uma nota à imprensa, ontem, informando que novas medidas serão tomadas em virtude da morte do policial civil Luiz Gonzaga dos Santos, ocorrida em Colombo, no domingo. De acordo com o secretário, um levantamento para identificar quais as delegacias que dispõen de apenas um policial civil para atender ao plantão, já foi providenciado. O próximo passo será designar um policial militar para ajudar a cuidar dos presos dessas delegacias.
Ainda conforme a nota, Delazari afirmou que a morte do policial é um fato inadmissível, “fruto de um descaso do passado”. Ele garantiu que o governo está tomando todas as providências necessárias para reverter a situação.
A reportagem da Tribuna tentou entrar em contato com o secretário para esclarecer quais serão as medidas tomadas, durante toda a tarde e parte da noite de ontem, mas foi informada, por sua assessoria,que estes esclarecimentos serão dados hoje, durante uma entrevista coletiva, que acontecerá em horário e local ainda não definidos, por policiais civis e militares. Delazari não participará da coletiva.