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Na frente das câmeras, Jairton negou
o crime. Na cela, alegou descontrole.

Com pés e mãos algemados e uma reforçada escolta policial, Jairton Cardoso, 32 anos, foi apresentado na tarde de ontem, à imprensa, no Centro de Operações Policiais Especias (Cope). Em meio a uma cascata de contradições, ele negou ter cometido o bárbaro crime. Mais tarde, porém, quando já estava recolhido em uma cela individual, Jairton confessou o motivo que o levou a matar Josiane Taborda de Oliveira, 14 anos, e o garotinho Vinícius Nascimento Félix, 5, no último dia 19, em Colombo: descontrole emocional.

No paredão da delegacia especializada, em frente às luzes, câmeras de televisão e microfones, o suspeito negou com veemência a autoria do duplo assassinato. A primeira versão dada por ele foi a de que um indivíduo conhecido por "Magrão" o encontrou na rua, obrigando-o a invadir a casa onde estavam as crianças. "Eu o vi matar os dois e ainda preguei a palavra de Deus para que ele parasse com aquilo, mas não adiantou", alegou. Porém, na casa de Jairton os policiais encontraram uma camisa e uma calça sujas de sangue, o que comprovaria sua participação nos crimes. "Foi ele quem manchou minhas roupas. Eu fiquei pelado", tentou argumentar. Em meio às negativas, o suspeito chorou no momento em que foi questionado sobre sua infância, quando era molestado sexualmente por um tio. Em suas respostas evasivas, ele afirmou ser absolutamente normal.

Contradição

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As revelações contraditórias foram alimentadas até o momento em que Jairton foi recolhido na cela. Lá, ele resolveu contar outra versão para o crime. "Eu achava Josiane muito bonita. Matei-a e ao menino por que estava descontrolado. Toda vez que lembro o que passei com meu tio, fico fora de mim. Só depois dei conta da besteira que tinha feito", revelou o acusado, que afirma ter sido violentado sexualmente dos 8 aos 14 anos, quando morava com o parente. Ainda nesta ocasião ele tentou fazer crer que sofre das faculdades mentais. "Eu não sou normal, já fui internado várias vezes e fiz isso porque fiquei descontrolado", afirmou, referindo-se ao duplo assassinato. Porém, quando questionado se havia estuprado a garota, ele disse que não se lembrava. A mesma resposta foi dada quanto ao fim que deu ao revólver usado para matar o menino e ao rádio que teria roubado de dentro da casa.

Busca de provas

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Apesar da confissão registrada pelos veículos de comunicação, e assinada por Jairton, a polícia enfrenta agora um sério problema: encontrar provas materiais do crime. Nos exames feitos no Instituto Médico-Legal (IML) não foi encontrado sêmen no corpo de Josiane e confirmou-se que ela não sofreu violência sexual. O rádio recolhido pela polícia, anteontem, da casa de Jairton, também não é o mesmo que sumiu no dia do crime. O aparelho apreendido, segundo o que foi apurado, foi um presente que ele ganhou de um vizinho que o encontrou no lixo. O revólver utilizado ainda não foi encontrado. Porém, o delegado do Cope, Messias Antônio Rosa, afirmou que uma faca suja de sangue foi recolhida no local do crime, e encaminhada à perícia, para que as impressões digitais coletadas sejam confrontadas com as do acusado. As roupas sujas com o provável sangue das vítimas também foram levadas ao Instituto de Criminalística, onde as amostras serão confrontadas com o material genético das crianças ou dos pais delas.

Jairton está recolhido em uma cela individual no Cope, de onde deverá ser removido a uma das casas de custódia do Estado.

Caso seja comprovado que o acusado tenha insanidade mental, ele deverá ser removido ao Complexo Médico Penal.

Cope diz que houve confissão, PIC diz que não

Assim que foi preso, na segunda-feira, Jairton Cardoso, 32 anos, foi levado à Promotoria de Investigação Criminal (PIC), onde foi interrogado na presença de policiais e promotores. Segundo o delegado Messias Antônio Rosa, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), o acusado confessou o crime com detalhes. Porém, ontem, a própria PIC desmentiu ter ocorrido uma confissão.

Segundo a versão da polícia e da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), Jairton confessou estar apaixonado por Josiane Taborda de Oliveira, 14. Ele teria contado à polícia que foi até a casa onde estava a garota, com uma bicicleta, que usou como apoio para pular o muro, uma vez que o portão estava trancado. Quando a garota percebeu a presença de Jairton na casa, começou a gritar. Ele então teria apanhado uma faca encontrada na casa e matado Josiane, que caiu no sofá. Também à polícia ele teria dito que estuprou a menina, porém exames no Instituto Médico Legal desmentiram a ocorrência de estupro.

Ainda segundo a versão dele aos policiais, durante o ataque à menina, Vinícius Nascimento Félix, 5, se assustou com os gritos e saiu chorando do quarto. O acusado, então, apanhou um pedaço de madeira, que estava no quintal da casa, e bateu no garotinho para que ele parasse de chorar. Como o garoto se desesperou ainda mais, Jairton o sufocou com um pano e lhe deu um tiro na nuca. "Ele é um psicopata que já foi preso por estupro e confessou ter matado um homem há alguns anos", informou o delegado Messias da Rosa.

Em nota enviada à imprensa na tarde de ontem, a PIC esclareceu que "durante o interrogatório feito nas dependências da promotoria, na presença de policiais e promotores, o suspeito dos crimes, Jairton Cardoso, não confessou nem os assassinatos nem o estupro. Ele é um dos principais suspeitos do caso, mas no depoimento, em nenhum momento assumiu a autoria dos crimes", informou a nota.

Segurança envia nota

Sobre o texto "Polícia tenta driblar a imprensa", publicado na edição de ontem do jornal Tribuna do Paraná, a Secretaria de Segurança Pública esclarece que:

1) É mentirosa a informação divulgada por este jornal de que a apresentação do preso Jairton Cardoso, acusado de assassinar uma adolescente de 14 anos e uma criança de cinco, foi agendada para esta terça-feira (ontem), para que o secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, "tivesse um espaço em sua agenda de compromissos";

2) Agindo com extrema responsabilidade, a polícia só divulgaria a prisão do acusado depois que ele fosse interrogado, provas fossem colhidas e, finalmente, não restassem dúvidas do real envolvimento do preso no referido crime; é de extrema necessidade que se esclareça à sociedade que a polícia não pode ser responsável pelo grave erro de apresentar à imprensa um suspeito de crime, quando ainda não existe a certeza do seu real envolvimento;

3) Por fim, a presença do secretário da Segurança Pública do Paraná em algumas apresentações de resultados de sucesso das polícias Civil e Militar acontece para valorizar e aplaudir o bom trabalho do policial.

Secretaria de Estado da Segurança Pública