Quadrilheiro beneficiado pela Justiça
volta a ser procurado.

A Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) está a procura de Valdir Hirt, 54 anos, acusado de envolvimento em diversos roubos de caminhões e posterior desmanche para a comercialização de peças. O “procurado” já foi preso duas vezes em flagrante, mas após uma decisão contestável da Justiça, ele está de volta às ruas e cometendo crimes, de acordo com a polícia. “Este homem é um dos maiores receptadores de caminhões da região de Curitiba”, afirmou o delegado Hamilton da Paz, titular daquela especializada.

O delegado relata que, no último dia 4 de janeiro, policiais da DFRV localizaram um barracão onde funcionava um desmanche. No local foram encontrados o caminhão Mercedes-Benz placa HRY-5928 (MS), ano 2003, e duas carretas com as placas HRV-3696 e HRV 3697. Todos esses veículos foram furtados de um posto de combustível na BR-116, no bairro Novo Mundo (Curitiba), às 21h30 do último dia 31 de dezembro.

Apenas um homem estava trabalhando no barracão quando a “batida policial” foi realizada. “Ele alegou ter sido contratado por Valdir para transportar peças para Florianópolis (SC)”, explicou Hamilton. O detido foi ouvido na delegacia e liberado.

Antecedentes

Valdir teve a prisão solicitada à Justiça novamente pelo delegado. “Com certeza ele já providenciou um novo local para o desmanche de caminhões e assim continuar com seus negócios ilícitos”, declarou Hamilton. O policial lembrou que o “procurado” já foi detido por ele outras duas vezes no ano passado. Em 3 de maio Valdir foi surpreendido pela polícia no barracão situado na Rua Alton Tchicon, no Xaxim. No local foram apreendidas três cabinas de caminhões Mercedes-Benz desmontadas e mais três caminhões. Naquela ocasião, ele foi preso em flagrante e permaneceu detido na DFRV até o dia 12 de junho, quando a Justiça concedeu alvará de soltura.

No dia 25 de setembro, o delegado Hamilton “estourou” mais um desmanche de caminhões, que funcionava na Rua Marcelino Jacinski, em Araucária. Lá foram encontrados dois caminhões furtados e outro roubado, de acordo com a polícia. Valdir foi preso novamente, mas por decisão da Justiça de Araucária, terminou sendo solto.

A preocupação do delegado com a liberdade de Valdir tem a sua razão. No barracão estourado no início de janeiro, o nome dele foi cogitado mais uma vez por envolvimento com caminhões roubados. Hamilton lembrou que a receptação de veículos precisa ser combatida para que o número de furtos e roubos de caminhões diminua. “Esse tipo de crime ocorre porque os criminosos têm para quem vender o produto roubado”, enfatizou.

Acusado não fica atrás das grades.

Através de documentos, o advogado Magnus Victor Kaminski quer provar que a Justiça cometeu um erro ao conceder pela segunda vez a liberdade provisória para Valmor Hirt, que, ao seu ver, deveria estar preso. De acordo com Kamisnki, a Justiça de Araucária foi induzida ao erro por uma artimanha utilizada pelo advogado de defesa do acusado e concedeu o benefício, ao invés de revogá-lo.

Hirt foi preso pelo delegado Hamilton da Paz, em três de maio de 2003, e permaneceu detido na carceragem da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) até 12 de junho, quando a Justiça, através da Vara de Execução Penal (VEP), concedeu liberdade provisória independente de fiança, pela primeira vez. Poucos meses depois, em setembro, Hirt foi preso novamente pela DFRV, agora em um desmanche situado em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba. Inicialmente, o advogado do preso solicitou nova liberação, mas o pedido foi indeferido pela juíza daquela comarca.

Flagrante

Devido a prisão em flagrante em Araucária, o acusado permaneceu preso por 82 dias no Centro de Triagem (Curitiba) quando, outra vez, o advogado solicitou liberdade provisória para seu cliente. Conforme Kaminski, nesse segundo pedido o advogado de defesa agiu de má fé, pois sabia que não se pode solicitar duas vezes à Justiça a “liberdade provisória” para um detento. Mesmo assim, o pedido foi feito baseado no “decurso de prazo”, ou seja, o réu já havia permanecido tempo demais preso sem ser ouvido pelas autoridades competentes em Araucária. O interrogatório não ocorreu porque o Fórum daquela cidade passava por reformas, segundo contou Kaminski.

Falha

No pedido feito pelo advogado de defesa e encaminhado ao Ministério Público constava diversos documentos que embasavam a solicitação da “liberdade provisória” para Hirt. Mas dentro da documentação também se fazia presente uma certidão (requisição de antecedentes) que demonstrava que o detido já respondia pelo crime de receptação em Curitiba, processo que tramita pela 6.ª Vara Criminal da capital.

Mesmo com tal documento, o MP concordou com a fundamentação do advogado e solicitou à juíza que o benefício fosse novamente concedido a Hirt, o que foi acatado pela magistrada. Assim, em 16 de dezembro de 2003, a Justiça de Araucária concedeu novo alvará de soltura concedendo liberdade ao detento.

“Um erro gravíssimo aconteceu nesse caso. A juíza concedeu pela segunda vez liberdade provisória para um preso que já gozava desse benefício. A liberdade provisória deveria ser revogada e Hirt continuar preso”, desabafou Kaminski. A indignação do advogado, que representa uma empresa que foi lesada com o desmanche de caminhões perpetuado por Hirt, vai muito além.

Kaminski contesta a decisão da juíza de Araucária colocando em dúvida o seu parecer. Na conclusão do auto do processo está escrito que o denunciado foi incurso nas sanções do artigo 155 (furto) e na verdade ele foi denunciado pelo artigo 180 (receptação). “Ela sequer leu o processo para dar o parecer”, afirma o advogado.

Prejuízo

A empresa representada por Kaminski também reclama da Justiça. Devido a liberação de Hirt, sem o acusado prestar esclarecimentos sobre o desmanche em Araucária, a empresa não sabe o paradeiro das peças dos caminhões pertencentes a ela e que foram cortadas e provavelmente comercializadas. “O detido alegou que daria informações sobre as peças em juízo, mas não foi ouvido pela Justiça (de Araucária). Como fica meu cliente? Recuperamos algumas peças, mas estamos assumindo um prejuízo material entre R$ 600 e 700 mil. Quem é que vai pagar por isso?”, indaga Kaminski.

Sobre o suposto erro cometido pela Justiça de Araucária, Kaminski informou que vai conversar com o promotor responsável pela 6.ª Vara Criminal de Curitiba para tentar revogar a liberdade provisória de Hirt e assim “restabelecer a ordem”, segundo ele. Depois deverá levar o caso ao conhecimento da Corregedoria da Justiça.

Quanto a atuação do advogado de defesa de Hirt, Kamisnki disse que vai à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB – Paraná), para que o órgão possa analisar a situação e tomar a decisão cabível.

Enquanto isso, Hirt desfruta do parecer da Justiça e goza do benefício mais valioso do homem: a liberdade.

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