As duas sócias-proprietárias e os dois diretores da agência de turismo Interlaken foram presos na manhã desta quinta-feira (14). Eles são suspeitos de aplicar um golpe de aproximadamente R$ 2 milhões em 201 vítimas. Além das prisões, a Polícia Civil pediu também o bloqueio dos bens dos proprietários e diretores, bem como todas as contas-correntes vinculadas aos CPFs e CNPJs dos investigados.
As prisões são de Lúcia e Marseille Fontoura – mãe e filha, sócias-proprietárias da Interlaken; Augusto Benzi, diretor financeiro, e uma sócia identificada apenas como Regina. O tempo da prisão, que tem caráter temporário, é de cinco dias, com possibilidade de ser prorrogada se necessário. O bloqueio foi feito, segundo a polícia, para tentar garantir o ressarcimento das vítimas.
O delegado-titular da Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon), Guilherme Rangel, pediu ainda a quebra dos sigilos bancário e fiscal. Os dois pedidos foram autorizados pelo Poder Judiciário na terça-feira (12). A intenção é impedir, de qualquer forma, que os bens sejam desviados e descobrir também se não tentaram enganar a polícia de algum jeito.
Em 10 dias de investigação, que começou depois que a empresa anunciou o fechamento, pelo menos 201 vítimas fizeram o registro de boletim de ocorrência na Delcon. “Havia uma relação de confiança entre os clientes e a empresa, que foi quebrada no momento em que a agência de turismo não cumpriu com sua responsabilidade gerando prejuízos aos clientes”, disse o secretário da Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita.
Os quatro suspeitos foram presos em casa por volta de 6h. A polícia cumpriu mandado de busca e apreensão na sede da agência de turismo Interlaken e na casa dos investigados. Foi apreendida grande quantidade de documentos, celulares, cheques, um cofre, computadores e o passaporte dos donos e diretores.
Foto: Gerson Klaina. |
A princípio, os quatro devem ser indiciados por propaganda enganosa, associação criminosa e por induzir o consumidor ao erro. O próximo passo agora, segundo o delegado, é analisar todo o material apreendido e confirmar a suspeita de que os proprietários da empresa tenham usado dados pessoais de clientes, como números de documentos e informações bancárias, para negócios próprios. “Porque aí eles responderão também por estelionato”, explicou Guilherme Rangel.
A polícia descobriu mensagens trocadas pelo celular, em que um dos envolvidos cita a descoberta do golpe da esposa e afirma que estaria considerando a possível separação do casamento. “Tem ainda outra mensagem, que comentavam o que foi dito por mim em uma das entrevistas, sobre a empresa agir de má fé. Tudo isso servirá como prova em todo processo”, disse o delegado.
Todos os presos têm nível superior e, portanto, vão ficar em celas especiais. Augusto deve ser transferido para o Complexo Médico Penal de Pinhais, e as mulheres para a Penitenciária Estadual de Piraquara, ambos na região metropolitana de Curitiba (RMC).
Relembre o caso
As investigações da Delcon começaram no fim do ano passado, depois que a agência de turismo publicou, no Facebook, uma nota sobre o fechamento da empresa. A Interlaken fechou sem cumprir com os acordos firmados com os clientes, que procuraram a polícia.
Além dos pacotes turísticos que não foram entregues, a empresa também teria vendido pacotes completos e somente parte deles foi entregue. “Temos relatos de clientes que compraram passagem e hospedagem, por exemplo, e chegaram ao destino turístico, mas sem ter onde ficar, por exemplo. Tudo v,aria de caso para caso”, explicou Guilherme Rangel.
Na semana passada, Lúcia e Marseille prestaram depoimento na Delcon em um dia e, no outro dia, Augusto – que é filho de Lúcia e irmão de Marseille. Segundo os suspeitos, a crise na agência já os deixava preocupados. “Eles disseram que tudo piorou na empresa depois da Copa do Mundo, quando a procura pelas viagens diminuiu”, contou o delegado.
Mais gente
A polícia não descarta a possibilidade de que mais gente esteja envolvida no esquema. Isso porque, segundo o delegado, a prática delituosa da agência acontecia desde 2014. A polícia acredita que exista a possibilidade de que terceiros tenham sido usados para tentar enganar o trabalho de investigação.
O delegado contou que chegou a outras duas empresas, uma na área de turismo e outra na construção civil, que teriam participação com a Interlaken. “O que queremos saber agora é se essas empresas foram ou não usadas para fraudes”.
O departamento de inteligência foi acionado. O laboratório de lavagem de dinheiro vai participar da próxima fase das investigações.