O caminho buscado por uma garota de 19 anos, para ganhar a vida, se transformou em tormento e desnudou uma rede de favorecimento à prostituição, exploração e extorsão, além de apontar possível “remessa” de prostitutas para “eventos” em outros países. Tudo teria começado em Colombo, onde funciona uma das casas de programas mais “bem freqüentadas” da Região Metropolitana de Curitiba.
Nesta semana o delegado Silvan Rodney Pereira solicitou a prisão temporária de Mirlei de Oliveira, 47 anos, acusada de ser a proprietária do estabelecimento. Mirlei teve a prisão decretada por cinco dias, por crime de extorsão, pelo juiz Pedro Luiz Sanson Corat, da Vara de Inquéritos Policiais de Curitiba, e está foragida. Ela já teria antecedentes criminais por favorecimento à prostituição. Embora evadida, há informações de que tem pedido a amigos “influentes” para que convençam as autoridades a relaxar o pedido de prisão.
Exploração
Quem denunciou Mirlei, que ficou conhecida como a “baronesa” do sexo, devido a sua fama de proprietária do mais bem montado (e caro) prostíbulo da capital – que depois foi transferido para uma chácara em Colombo – foi a jovem M.L., de 23 anos, que começou a fazer programas sexuais aos 19. Acolhida no estabelecimento de Mirlei, M.L. (que atualmente está morando nos Estados Unidos) disse ter passado por várias situações humilhantes durante os programas e ter sido explorada, assim como colegas de profissão, pela administradora do “negócio”.
A denunciante trabalhou pouco mais de dois anos com Mirlei. Segundo contou, era obrigada a fazer programas mesmo quando estava doente ou com outro tipo de problema. “Ela dizia: O que eu tenho a ver com isso? Você é minha puta”, relatou. A obrigatoriedade de satisfazer os clientes, porém, não se limitava à disponibilidade das garotas, mas envolvia gastos, pois a exigência era de que todas estivem bonitas, impecavelmente vestidas e maquiadas. Mirlei ficava com um percentual do programa e obrigava as “funcionárias” a freqüentarem diariamente um salão de beleza do Alto da XV, do qual seria proprietária.
Estados Unidos
Os problemas para M.L. começaram em abril deste ano, quando Mirlei descobriu que ela falava inglês fluentemente. A partir daí, surgiu a idéia de expandir os negócios nos Estados Unidos, para que garotas de programa brasileiras fossem levadas a atuar no mercado externo. De acordo com declarações da denunciante, Mirlei a enviou aos Estados Unidos para fazer uma “prospecção de mercado”, verificando a possibilidade de promover eventos sexuais naquele país. O primeiro contato da jovem seria um executivo americano, que já havia freqüentado a casa de Mirlei em visitas feitas ao Brasil. Porém, lá, a história mudou.
O executivo se recusou a participar do esquema pretendido por Mirlei, segundo a jovem, e no tempo que ficou nos Estados Unidos os dois se apaixonaram. “Eu quis largar tudo, virar dona de casa. Por amor”, relatou. Porém, Mirlei passou a cobrar os gastos que teve com o envio da jovem ao país estrangeiro e a conta do hospital em que M.L. ficou alguns dias internada.
Extorsão
Em uma de suas viagens para o Brasil, o executivo foi procurado por Mirlei, que lhe cobrou R$ 15 mil pelas contas. Para evitar escândalos e uma maior exposição, ele pagou o valor. Algum tempo depois, em uma segunda visita a Curitiba, a dona do prostíbulo fez nova cobrança e dessa vez seguida de ameaças. “Ela chegou a ameaçar minha filha, que tem 6 anos”, afirmou M.L.
De acordo com relato da jovem e do executivo, Mirlei estava exigindo mais R$ 4.500,00, sempre a título de ressarcimento de despesas. Ela foi até a empresa onde o executivo trabalhava, na Região Metropolitana, e ameaçou contar para todos sobre seu envolvimento com a prostituta. Temendo perder o emprego, o executivo entregou um cartão bancário a Mirlei. Porém, como não havia fornecido a senha, um novo encontro foi marcado, desta vez no salão de beleza de propriedade da acusada, para que o assunto fosse solucionado.
Prisões
Para quitar a “dívida”, no dia 25 de agosto, o executivo entregou seu American Express, porém o salão não trabalhava com esse cartão. Mirlei, que não queria ficar no prejuízo, apanhou o cartão e foi ao Motel Pompadour, administrado por amigos, e lá executou o procedimento para receber o dinheiro. Como Mirlei não retornou ao salão, o cartão foi devolvido ao dono por um amigo dela, Roberto dos Santos Fonseca. No momento da entrega, ele foi detido pela polícia, que já estava acompanhando, há semanas, as denúncias de ameaças e extorsão. Junto com ele foi detida, também, Maria Learci Rodrigues, gerente do motel. Ambos são acusados de conivência na trama.
Roberto está recolhido em uma cela da Central de Polícia e Maria foi levada para o xadrez do 9.º Distrito Policial.
A história difícil de quem queria a vida fácil
A denunciante (M.L:), antes de vir para o Paraná, começou a fazer programas sexuais no Rio de Janeiro, quando tinha 19 anos. Naquela época já tinha uma filha, então com dois anos. “Eu não tinha condições de sustento e não gostava de estudar. Então optei pelo caminho que achei mais fácil”, relatou. Agora, a mulher de 23 anos, está arrependida. “Não é fácil, é terrível. Você não esquece nunca”, lamenta.
Nos anos em que trabalhou como prostituta, ela resolveu estudar e aprendeu inglês, o que fez com que fosse escolhida por Mirlei para ir aos Estados Unidos. “Antes já tinha ido a outros países da Europa”, disse. Agora, ela alerta as meninas que pensam em seguir o mesmo caminho para tomarem cuidado. “Ninguém deve passar pelo que eu passei. É um dinheiro maldito, suja a alma”, disse.
Agenda
O dinheiro que ganhava, segundo contou, vinha de muito sacrifício. “Eu tinha vontade de chorar e tinha que rir”, relatou. Segundo a mulher, a casa de Mirlei era freqüentada por políticos, policiais e pessoas influentes. “Eram homens importantes, que na intimidade viravam animais. Não tinham nenhum respeito”, relembrou, sem revelar nomes.
Por causa desses homens, a ex-prostituta acredita que será difícil para a polícia encontrar a acusada. “A Mirlei dizia que conhecia muita gente e quem iria sair perdendo era eu, caso a denunciasse”, contou. “Porém, eu tenho uma cópia da agenda dela, que é bastante comprometedora”, disse, insinuando que poderá divulgar a agenda caso Mirlei não seja presa.