Polícia investiga desocupação da fazenda de Janene

Cerca de 40 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deixaram, no início da manhã de ontem, a Fazenda Três J, em Londrina, pertencente ao deputado federal José Janene (PP). Agora a polícia investiga se a desocupação foi violenta e forçada por capangas de Janene, como alega o MST, ou pacífica, como sustenta o advogado do deputado. A fazenda estava ocupada desde 15 de setembro de 2006. A Justiça determinou a reintegração de posse um dia após a invasão, mas o mandado ainda não havia sido cumprido pelo governo do Estado.

José Damasceno, da coordenação estadual do MST, contou que, às 5h, os ?pistoleiros? chegaram atirando no chão e de raspão nas lonas. ?Eram 38 homens armados com escopetas calibre 12, pistola automática e várias armas curtas?, afirmou. Damasceno disse ainda que várias pessoas levaram coronhadas na cabeça. Ainda de acordo com a versão do MST, as famílias teriam sido levadas embora do local por um caminhão que estava com os funcionários do deputado, até a Cooperativa dos Assentados na cidade vizinha de Tamarana. No início da tarde de ontem, Damasceno afirmou que, após a desocupação, um dos coordenadores do acampamento, João Batista, estaria desaparecido.

O delegado-chefe da Polícia Civil de Londrina, Sérgio Luiz Barroso, contou que recebeu uma ligação de Damasceno às 8h e então deslocou a Polícia Militar (PM) à fazenda. O comandante interino do 5.º Batalhão da PM, de Londrina, major Fábio Luiz Rincoski, foi pessoalmente ao local. ?Deparamos-nos com um grupo de homens no interior da propriedade e o MST não estava mais lá. Estes homens nos contaram que tinham colocado as famílias em um caminhão e mandado para outro lugar?, relatou.

Durante a revista, duas armas foram encontradas no chão e dois funcionários, Mauri Nogueira e Welington Bispo da Silva, foram presos em flagrante por porte ilegal de arma e de munição. Já outras 14 pessoas, sendo três menores de idade, foram levados para a delegacia de Tamarana para serem ouvidos, assinaram um termo circunstanciado e foram liberados. De acordo com o major, o cumprimento do mandado de reintegração ainda não tinha sido autorizado pela Secretaria de Estado da Segurança Pública.

Depoimentos

Nenhum dos 16 funcionários da fazenda quis falar aos policiais pela manhã. À tarde, na presença e orientados pelos advogados de Janene, os dois homens presos alegaram que encontraram a arma e a munição que portavam nas barracas do MST após revistá-las. Os dois funcionários disseram ainda que o MST resolveu sair espontaneamente do local. Os sem terra também serão ouvidos.

Barroso afirmou que por volta das 12h30 recebeu outra ligação de Damasceno, comunicando o sumiço do coordenador do acampamento. ?Eles falaram que não conseguiam contato com ele. Eu pedi para ele vir pessoalmente comunicar, mas não compareceu. Então eu penso que o sumiço não se confirmou?, explicou. No final da tarde, nenhum integrante do MST foi encontrado pela reportagem para saber se João Batista havia aparecido.

Defesa

O advogado de Janene, Adolfo Góis, afirmou que os funcionários são seguranças da outra propriedade de Janene, a Fazenda Marília, que fica há dois quilômetros da Três J, e foram para lá depois que o MST deixou o local. ?Eles foram ver a situação da propriedade e fazer a segurança para que a família do Janene pudesse voltar?, argumentou. Segundo Góis, ficou ?notório o desejo do MST de desocupar a área porque já tinham aproveitado tudo que podiam lá?. ?Nesses quatro meses de descumprimento da reintegração pelo governo, o MST acabou com todas as cerca de mil cabeças de gado, com as 2,5 mil cabeças de ovinos, com as plantações de soja e milho e com a sede e a piscina?, reclamou. Em nota, o MST diz que o ?acampamento denuncia o desvio de dinheiro público para o acúmulo de patrimônio e especulação imobiliária do deputado?.

Mandado

A Secretaria da Segurança informou que ?de acordo com a Comissão de Mediação de Conflitos Agrários da secretaria, a fazenda já estava na lista de desocupações a serem cumpridas pela polícia e o plano de desocupação seria colocado em prática em breve, respeitando a ordem da fila para o cumprimento de reintegrações?.

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