Confronto

Polícia invade a Vila Torres após protesto que fechou vias

O morador ou turista que passasse pela Avenida das Torres (Comendador Franco), em Curitiba, no início da noite desta terça-feira (3), poderia achar que a cena de guerra na Vila Torres, Prado Velho, era mais uma manifestação contra a Copa do Mundo. Porém, o protesto, com barricada em chamas na trincheira da Rua Chile, confrontos contra a Polícia Militar e Guarda Municipal, e o tiroteio que paralisou o corredor de entrada da capital, foi motivado pela morte de um garoto, de 16 anos, baleado por policiais militares após um assalto na noite de segunda-feira (2).

Por volta das 17h, um grupo de manifestantes fez a barreira incendiada embaixo da trincheira, na saída para a vila. Um ônibus da linha Cabral-Portão foi parado do outro lado do viaduto e alguns móveis foram queimados para impedir a passagem do coletivo. Quando um terceiro grupo tentou fechar a Avenida das Torres, guardas municipais conseguiram dispersá-los com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. Paralelamente, manifestantes conseguiram parar um ônibus em frente ao Portão 3 da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), na tentativa de bloquear a Rua Guabirotuba, mas policiais do 12.º Batalhão da PM conseguiram impedi-los.

Tiros

Encurralados, os manifestantes se concentraram atrás da barricada principal, na Rua Chile. O confronto foi acirrado com a chegada de PMs. O grupo revoltado se armou com pedaços de concreto e tijolos, que estavam amontoados perto da trincheira, e investiram contra os policiais. Alguns dispararam fogos de artifícios na direção das viaturas e os policiais afirmaram ter visto baderneiros, com arma de fogo, intimidando motoristas. Eles só foram dispersados por volta das 18h30, com a chegada das viaturas do Bope.

Os bombeiros apagaram a barreira em chamas e, com a pressão da água, retiraram pedras e tijolos para liberar o trânsito. Os sons dos disparos de arma de fogo dentro da favela começaram a ser ouvidos. Do outro lado da ponte, na Rua Embaixador Hipólito de Araújo, alguns marginais atiraram contra a polícia, mas ninguém se feriu. Os tiros começaram a ficar mais intensos na Rua Manoel Martins de Abreu, que concentrou os policiais.

Invasão

Por volta das 19h, uma equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), protegida com escudos, abriu caminho para cerca de dez viaturas. Houve tiros, mas não feridos. Às 20h20, manifestantes voltaram a disparar fogos de artifício contra viaturas e tentaram fechar a trincheira com um sofá e uma motocicleta em chamas, mas foram dispersados pelos PMs e os bombeiros controlaram o fogo. A vila ficou sob tensão e com presença de várias unidades policias até o início da madrugada. Alguns focos menores de rebelião aconteceram e o barulho de um ou outro tiro ainda podia ser ouvido.

Moradores da Rua Chile, que viram os confrontos, relataram medo. “Tranquei todas as portas e janelas e mandei minhas crianças se deitarem no chão”, disse um morador, que preferiu não ter o nome divulgado. Um estudante, que estava de bicicleta e uniforme escolar, mostrou a marca de bala de borracha na perna direita. “Voltava da escola e quando percebi, estava perto do protesto, só senti a dor e sai correndo”, relatou o adolescente. Segundo a PM, até as 21h de terça-feira ninguém tinha sido detido ou ferido com gravidade.

Marco Charneski