O empresário de jogos eletrônicos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi intimado pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) para prestar depoimento em Curitiba hoje, às 15h30. Cachoeira, que ganhou notoriedade depois que denunciou o assessor especial da Chefia da Casa Civil do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz, por corrupção, é acusado pela polícia do Paraná de envolvimento em irregularidades na licitação que escolheu a empresa Larami para controlar o serviço de loteria on-line do Paraná em 2001.
Em abril deste ano, o governo do Paraná rescindiu o contrato com a Larami, através de um decreto, com base nessas suspeitas de irregularidades. A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso. Um dos indícios de irregularidades seria a inclusão de novos sócios (um deles Carlinhos Cachoeira) com o aumento abrupto do valor de capital da empresa dias antes de a Larami concorrer à licitação contra outras 26 empresas inscritas.
Em maio de 2001, quando a empresa foi criada pelo argentino Luís Carlos Ramirez e por Keila Gnutzman, o capital em contrato social da Larami era de R$ 5 mil. Menos de quatro meses depois e dias antes da licitação aberta pelo governo anterior, Ramirez e Keila deixaram a direção da Larami. Quem assumiu foi Carlinhos Cachoeira, dono da empresa Brazilian Games Partner Empreendimentos, fabricante de software para jogos, e Roberto Sérgio Copolla, argentino dono da Eletrochance, fabricante de máquinas caça-níqueis. Só com esta alteração contratual o capital da Larami saltou para R$ 600 mil, um aumento de 120 vezes o valor inicial. Tudo porque o edital de licitação do Serviço de Loterias do Paraná (Serlopar) exigia das empresas concorrentes capital mínimo de R$ 500 mil.
Segundo o delegado Nailor Robert de Lima, do Nurce, a suspeita é que Keila e o argentino Ramirez eram “laranjas” que montaram a Larami a mando de Cachoeira, especialmente para ganhar a licitação no Paraná.
Totobola
O secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, demostrou ontem, no Instituto de Criminalística da Polícia Civil, em Curitiba, como os sorteios do Totobola podiam ser fraudulentos. Numa simulação com a máquina bingueira e o software usado durante os sorteios, ficou provado que quem realizava o sorteio podia escolher a bolinha que era sorteada. “Atrás da máquina tem uma leitora, que pode ser usada com código de barra como era ou com microchips. Pelo processo se escolhia o número a sortear. Eles manipulavam durante nove semanas para acumular, na décima, o prêmio saía para uma cartela que era selecionada por eles mesmos”, afirmou Delazari. Ele demostrou que, além da escolha individual do número a ser sorteado, o software também permitia programar uma série de números constantes em uma cartela. “Esse sistema é absolutamente manipulável. O Totobola é uma farsa, uma grande sacanagem”, afirmou.
Delazari disse que os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul já foram avisados sobre a fraude no Totobola. “O jogo já foi proibido lá também”, revelou. Delazari disse que o proprietário do jogo, Mário Alberto Charles, está sendo investigado num inquérito policial, que deve gerar um processo criminal . A situação deve ser idêntica nos outros estados.
Secretário aponta manipulação em bingos
Desde abril de 2003 já viraram rotineiras as denúncias feitas pelo governo do Estado contra os proprietários de bingo. Envolvimento com o crime organizado, lavagem de dinheiro, entre outras irregularidades, já foram denunciadas várias vezes. Entretanto, ontem, o secretário de Estado da Segurança Púbica, Luiz Fernando Delazari, trouxe a público uma nova denúncia, que pode servir de argumento para o governo estadual conseguir fechar as casas de bingo que estão abertas graças a liminares. Segundo Delazari, os sorteios das rodadas de bingo eram dirigidos e havia fraude na distribuição dos prêmios.
O secretário afirmou que a máquina bingueira fica colocada um pouco distante das pessoas que jogam, impossibilitando a visualização do número sorteado. Os jogadores apenas ficam sabendo qual bolinha caiu graças às TVs espalhadas pela casa de bingo. “Eles gravavam os números antes. Saía uma bolinha, mas o vídeo mostrava outro número na TV”, acusou, afirmando que esse tipo de manipulação acontecia principalmente em prêmios grandes. Ele disse que as rodadas maiores eram dirigidas para que as cartelas vencedoras estivessem nas mãos de pessoas ligadas ao bingo. “Teve uma casa de bingo que ficou sorteando um carro durante quatro ou cinco meses. Depois não há notícia de para onde o prêmio saiu”, afirmou, lembrando que em operações feitas nos bingos já foram encontrados videocassetes e DVDs junto às mesas operadoras de bingo, comprovando a fraude.
Delazari disse que a polícia só vai fechar os bingos quando houver autorização judicial. A Procuradoria Geral do Estado (PGE) está trabalhando para cassar três liminares, que garantem o funcionamento de cinco casas de bingo em Curitiba (Millenium, Bristol, Mirage, Kennedy e Village Batel).
Absurdo
O gerente do Kennedy Center Bingo, Nilton Servo II, disse que as declarações do secretário Delazari são absurdas. Ele explicou que os clientes têm total acesso visual ao jogo, podendo inclusive solicitar a paralisação da rodada para verificar se determinado número saiu ou não. “Acatar esse pedido de paralisação do cliente é praxe entre os bingos do Paraná”, afirmou. Ele disse que coloca seu bingo à disposição da secretaria para que sejam feitas análises comprovando a lisura do sorteio. “Quando o bingo funcionou no Paraná, tanto assegurado pelo Estado quanto pela Caixa Econômica Federal (CEF), sempre nossos equipamentos tiveram que passar por laudos técnicos”, afirmou, destacando que inclusive peritos que trabalham no Instituto de Criminalística já chegaram a periciar a máquina bingueira de seu bingo.