A empresa Centronic Segurança e Vigilância poderá ter suas portas fechadas e seu funcionamento cancelado, a partir de irregularidades encontradas pela Polícia Federal (PF) durante procedimento administrativo instaurado, após o assassinato do estudante Bruno Strobel Coelho Santos, 18 anos, ocorrido na madrugada de 3 de outubro. Embora a investigação ainda não tenha terminado, o superintendente da PF no Paraná, Delci Carlos Teixeira, adiantou, na manhã de ontem, que há indícios, que os responsáveis pela Centronic não tinham controle efetivo sobre os funcionários, os veículos e as instalações da empresa.
?Não é lícito utilizar ou deixar que sejam utilizadas as dependências da empresa para que seus funcionários as usem para outros fins, como cometer maus-tratos, tortura ou cárcere privado?, explicou Delci. Na última sexta-feira, agentes da PF vistoriaram a sede da empresa e recolheram documentos que irão ajudar nas investigações.
Átila Alberti |
Revolta está estampada nas ruas. |
Tinta
?Foram encontrados vestígios de tinta no porta-malas do veículo usado no crime e nos armários de um ambiente da empresa. Será feita análise para confrontar os vestígios e saber se são da mesma substância?, informou o superintendente. De acordo com Delci, se a análise confirmar a suspeita, seria a prova técnica que Bruno foi levado ao interior da empresa e pode levar a polícia a pedir o fechamento da Centronic.
O superintendente afirmou que outras irregularidades já foram identificadas, como a presença de vigilante de outra empresa trabalhando na Centronic e a disparidade entre o número de munições informado pela empresa e a quantidade que havia em estoque. No entanto, Delci alerta que é necessário esperar o fim das investigações para elaborar um parecer, o que deve demorar mais uns 10 dias.
Histórico
De acordo com informações da Polícia Federal, a Centronic já havia sido autuada por irregularidades cometidas em anos anteriores. O superintendente citou que, durante fiscalização em 2005, foi constatado que havia um vigilante trabalhando sem curso de formação e outro que hão havia realizado o curso de reciclagem obrigatório.
Dirigentes são ouvidos
Valéria Biembengut
Um dos sócios da Centronic, Nilso Rodrigues de Godoes, e o gestor da empresa, Vilso Grassi, foram ouvidos na segunda-feira na delegacia de Almirante Tamandaré. Nilso alegou que não sabia que Bruno Coelho tinha sido torturado dentro da Centronic. Já Vilso disse que ficou sabendo da tortura, mas não da morte.
O advogado Samir Mattar Assad informou que seus clientes estão colaborando com as investigações. ?Vilso contou que ficou sabendo da tortura uma semana depois?, alegou o defensor. Para a polícia, Vilso disse que chamou o supervisor da noite, Ricardo Cordeiro Ryseal, 32 anos, e perguntou sobre a veracidade da informação. Ricardo garantiu que nada aconteceu. ?Vilso consultou um advogado trabalhista e, como não tinha provas contra os vigilantes, nada fez?, garantiu.
Esclarecimento
Ontem, a Tribuna divulgou que Nilso teria tomado conhecimento, quando, na verdade, a testemunha afirma que falou para Vilso. A empresa divulgou nota informando que ?os dirigentes da Centronic tomaram conhecimento dos maus-tratos a partir desses relatos. Quanto à morte, tomaram conhecimento pelas vias oficiais?.
Cartazes
A revolta da população está em postes e lixeiras, nas proximidades de onde a empresa atua e na própria Centronic, no Alto da XV. Vários cartazes trazem a frase: ?A Centronic mata!!!?.
UFPR vai rescindir contrato
Rosângela Oliveira
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) garantiu que irá rescindir o contrato com a empresa Centronic, que, desde 2003, presta serviços de segurança à instituição. O motivo do rompimento de contrato não seria o envolvimento de funcionários da empresa na morte do estudante Bruno Strobel Coelho, mas irregularidades no pagamento dos funcionários. Porém, existem informações de que um segurança havia apontado uma arma para um estudante no Centro Politécnico.
O diretor da Divisão de Serviços Terceirizados da UFPR, Gastão Andrade dos Santos Filho, afirmou que o fato teria ocorrido há mais de um ano, e que ele não chegou a ser confirmado. A Centronic atua com 90 vigilantes em 44 pontos distribuídos em todos os prédios da UFPR, e recebe pelo trabalho R$ 290 mil por mês.