Não bastasse a prisão pela acusação de manter uma clínica de aborto no centro de Curitiba, o médico obstetra e ginecologista Rafael Pedral Sampaio Cunha também foi preso, na manhã de sábado, pela suspeita de abusos sexuais contra menores de idade.
De acordo com investigações do Ministério Público, a clínica funcionava em três salas do 17.´ andar do edifício Arnaldo Thá, na Avenida Marechal Deodoro, 235, com o objetivo de fazer os procedimentos abortivos. No entanto, também era usada para os encontros sexuais do suspeito. Outras cinco pessoas foram detidas por conivência com os crimes de abortou e/ou pedofilia.
O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), pertencente ao Ministério Público, em conjunto com as Polícias Civil e Militar, começaram a investigar o médico em julho deste ano, a partir de uma denúncia.
Mas durante as investigações dos crimes de aborto, o Gaeco captou, através de interceptações telefônicas, a suspeita de que Rafael também estivesse abusando sexualmente de crianças e adolescentes.
Segundo descreveu o coordenador do Gaeco em Curitiba, Vani Antônio Bueno, geralmente após às 19h, o médico sempre recebia adolescentes entre 12 e 17 anos em seu consultório para práticas sexuais, mediante pagamentos em dinheiro, viagens, eletrônicos portáteis e outros benefício.
“Numa das conversas por telefone, captamos claramente ele dizendo a uma jovem que já havia dado muito dinheiro a ela, e que estava na hora de ela “dar’ para ele”, revelou o coordenador, entre outros comentário do médico.
Mãe
Três das garotas que iam ao consultório eram irmãs, uma de oito, outra de 12 e a mais velha com 17 anos. De acordo com Bueno, as três eram levadas pela própria mãe que está presa para serem violadas pelo médico.
Além de abusar das menores, contou o coordenador do Gaeco, Rafael “enjoava” das companhias e costumava fazer um rodízio de meninas. A cada 30 dias, arranjava novas garotas para freqüentarem o consultório à noite. A freqüência das visitas noturnas era de uma a duas vezes por semana.
Além da mãe das três irmãs, as funcionárias Maria do Carmo Maciel e Aparecida Ziviani foram presas, pelos fortes indícios de que estavam cientes dos crimes que estavam ocorrendo no consultório. Uma paciente que fez aborto, Eliza Maria Suchtek, também foi detida.
Mulheres pagavam até R$ 5 mil
Aliocha Maurício |
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No consultório: polícia encontrou fetos e material pornográfico. |
Mais de 1.500 abortos já devem ter sido realizados na clínica do médico Rafael Pedral Sampaio Cunha. Segundo estimativas do Gaeco, o médico fazia uma média de 15 procedimentos por mês.
Como a clínica já existia há pelo menos uma década, com este exclusivo objetivo, não se descarta a hipótese de que a quantia possa chegar a até 2.000 vidas interrompidas nesta última década.
Além dos R$ 200 da consulta, Rafael cobrava entre R$ 1.000 e R$ 5.000 pelas cirurgias. O valor dependia do período de gestação da paciente. Num cofre do consultório, a polícia encontrou, espalhados em envelopes, quase R$ 40 mil em dinheiro.
Supõe-se que, num golpe de esperteza, o médico não aceitava cheques das pacientes, apenas dinheiro vivo. Há informações de que o obstetra era procurado por mulheres de várias cidades do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Flagrante
A operação para prisão do médico foi deflagrada no início da manhã de sábado porque o Gaeco tinha informaç,ões que, na noite de sexta-feira, uma gestante chegaria ao local para fazer um aborto.
Normalmente, depois dos procedimentos, a paciente ficava em observação até o dia seguinte no local. Com isso, a polícia teria elementos suficientes para uma prisão em flagrante na manhã de ontem.
O Gaeco apurou que o médico trabalhou até às 5h na clínica e depois foi para casa. Às 6h, enquanto uma equipe cumpria mandados de busca e apreensão na clínica, Rafael era preso na casa dele, na Rua Carneiro Lobo, Água Verde.
No consultório, além de flagrar Eliza, a paciente de 44 anos, no pós-operatório, os policiais civis e militares encontraram alguns fetos no local, incluindo o bebê de cinco meses, que havia acabado de ser abortado.
A polícia e o Gaeco recolheram arquivos, com dados e exames clínicos das pacientes. Também foram apreendidos computadores, revistas pornográficas, equipamentos médicos e outros objetos que comprovam as ilicitudes.
A funcionária Aparecida Ziviani foi presa, tomando conta da paciente recém operada. Já a outra enfermeira, Maria do Carmo, foi presa em sua residência e alegou à polícia que só continuava trabalhando com Rafael, porque ele a ameaçava de morte caso pedisse demissão.
Edwirges Cunico, porteira de um prédio que Rafael freqüentava, também foi detida porque, a pedido do obstetra, o indicava a mulheres que queriam fazer aborto. Os detidos foram autuados por aborto qualificado e formação de quadrilha. Rafael ainda foi indiciado pelos abusos contra as menores. (GU)
Denúncia deflagrou uma grande investigação
A denúncia que levou o médico Rafael Pedral Sampaio Cunha à prisão, na manhã de sábado, chegou inicialmente à Rede de Colaboração de Curitiba, pertencente à Secretaria Municipal Antidrogas.
De acordo com o delegado Fernando Francischini, secretário municipal antidrogas, tão logo a equipe recebeu a denúncia, o caso começou a ser investigado pelo serviço de inteligência da secretaria, formada por policiais federais que compõem a equipe de Francischini.
Depois de dois meses de investigações e indícios concretos das práticas ilegais do médico, a Secretaria Antidrogas levou o caso ao Ministério Público, em julho. Além das interceptações telefônicas, o Gaeco espera encontrar provas ainda mais robustas de pedofilia nos materiais apreendidos no consultório. O coordenador do Gaeco em Curitiba, Vani Antônio Bueno revelou ainda que está buscando junto à Justiça autorização para divulgar as interceptações telefônicas. (GU)