Uma determinação para que as viaturas da Polícia Civil recebam apenas metade da cota de combustível e a falta de peças para reposição para os veículos em caso de quebras ou avarias, está revoltando os investigadores das diversas delegacias e distritos de Curitiba. A medida de economia, segundo eles, inviabiliza o trabalho policial e ainda obriga que muitos paguem despesas do próprio bolso para realizar investigação.
De acordo com a denúncia feita por vários policiais, as viaturas que antes recebiam 30 litros de combustível por dia, agora estão sendo abastecidas com apenas 15 litros, o que impede que uma investigação seja feita até o fim, pelo simples fato de não ter gasolina suficiente no tanque do carro policial para rodar pela cidade.
Baixas
Além do racionamento no combustível, os policiais reclamam da falta de reposição de peças. O Serviço de Transporte e Manutenção (STM) da Polícia Civil, situado na Vila Hauer, está praticamente desativado, já que não há dinheiro nem mesmo para comprar um simples cabo de embreagem ou um relê qualquer para viaturas.
De acordo com o delegado responsável pelo STM, Francisco José da Costa, quando os carros estragam, eles ficam encostados nas delegacias, até que possam ser arrumados. No entanto, não há previsão para liberação de verbas que permitam a compra de peças. “Nós recebemos verbas do Fundo de Reequipamento da Polícia (Funrespol), que recolhe em taxas e outras cobranças cerca de R$ 4 milhões por ano. Dez por cento desse valor, ou seja R$ 400 mil seria destinado à STM. No entanto, este ano só recebemos R$ 250 mil, para cuidar das viaturas de todo o Estado. Fica inviável atender a todos com pouco dinheiro”, explicou o delegado.
Funrespol
Os investigadores asseguram também que a terceira parcela trimestral do Funrespol ainda não foi repassada às delegacias, para que seja feito o reequipamento necessário. Muitas delas, embora informatizadas, estão voltando a usar máquinas de escrever para registrar boletins de ocorrência, pois não há tinta para as impressoras e muitas vezes nem mesmo papel.
Esta falta do repasse do dinheiro é que teria provocado a escassez de combustível e promovido outras dificuldades. “Todo ano a arrecadação do Funrespol sobe. Não entendemos porque o dinheiro não é repassado”, reclamou um policial.
O delegado responsável pelo Funrespol, Paulo Brenny, disse ontem desconhecer qualquer atraso no repasse das verbas. “Estamos rigorosamente dentro do nosso calendário”, afirmou ele, autorizando inclusive a verificação dos valores arrecadados e repassados, mas proibindo a divulgação dos dados.
A denúncia dos policiais dá conta ainda de que as viaturas novas, recentemente adquiridas da Renaut, têm ficado “encostadas” nas concessionárias por falta de óleo e filtro de ar. Na hora de fazer a revisão dos 10 mil quilômetros o policial tem que levar o óleo e o filtro para serem trocados. Como não há dinheiro para comprar, o veículo fica parado. “Tem gente que tem de pagar do bolso”, reclamou outro investigador.
“O pior de tudo é que os policiais se vêem obrigados a mendigar peças de automóveis em lojas ou até mesmo em desmanches, para poder consertar as viaturas. Aí eles ficam comprometidos com estes comerciantes. Esta situação é imoral e antiética”, afirmou um policial, lembrando que a ordem que eles receberam é de que “se quebrar a viatura é para encostar na delegacia até o ano que vem, para ser consertada só quando sair o repasse do Funrespol”.