Polícia Civil faz 150 anos

A Polícia Civil do Paraná pode não comemorar vitórias e conquistas todos os dias, mas ao menos amanhã ela certamente terá o que celebrar. Em meio a festividades e comemorações, a corporação completa 150 anos de atividades. É certo que durante todo esse tempo muitos acontecimentos marcaram a história da polícia, alguns jamais serão esquecidos. Por isso pode-se dizer que, hoje, o conceito que ela tem perante a sociedade é um paradoxo. Se por um lado a imagem da corporação, que deveria ser considerada sinônimo absoluto de Justiça, está arranhada por uma seqüência de erros, por outro, ainda brilha pela vontade que muitos policiais têm em trabalhar a serviço único de uma sociedade mais digna. E entre os vários fatores que contribuem para as falhas da polícia está justamente o reduzido número de agentes.

Hoje o Estado conta com o trabalho de 3.100 policiais, entre delegados, investigadores e escrivães, para atender uma população de mais de nove milhões e meio de habitantes. Na década de 80, o efetivo era de 2.900 homens e o número de habitantes era de sete milhões e meio. Estas estatísticas comprovam que o crescimento da Polícia Civil é desproporcional ao crescimento do Estado, o que contribui para a falta de controle da criminalidade. Outro agravante é o número de viaturas disponibilizadas. Há vinte anos havia 1050 carros em atividade, hoje este número é de 1290, aumento insignificante se comparado a demografia atual.

Autoridades

Exemplos das mudanças que ocorreram no trabalho da Polícia Civil podem ser contadas por quem viveu a transição da sociedade. O delegado aposentado Ezio Vicente da Silva, que trabalhou durante 23 anos na corporação, inclusive na Delegacia de Homicídios de Curitiba, diz que uma das grande diferenças no perfil da criminalidade é que nos anos 80 os homicídios eram embalados pelo álcool e pela desestrutura familiar. Além disso os bandidos daquela época eram mais velhos e “especializados”. “Hoje qualquer pai de família é capaz de roubar para não ver o filho passando fome. A população aumentou e com isso o desemprego e a desigualdade social”, afirma Ezio.

Já o atual delegado operacional da Homicídios, Marco Antônio de Goes Alves, que há dois anos abraçou a carrreira policial, explica que atualmente o tráfico de drogas é o grande responsável pelas mortes e que a faixa etária dos criminosos vai dos 20 aos 30 anos. Por isso a delegacia pretende desenvolver um trabalho no combate direto aos traficantes. “Nós queremos agir preventivamente e não esperar acontecer o crime”, explica.

Mais controle

Segundo Ezio, há duas décadas a delinqüência não era tão acentuada como hoje, as gangues eram menores e a policia ainda tinha controle da situação. Quanto ao trabalho desenvolvido atualmente, o delegado acredita que a polícia deveria ser mais atuante. ” Na minha época nós íamos para a rua combater o crime, o delegado passava de madrugada no plantão para ver como estava. Hoje a polícia está estagnada”, analisa.

Marcos, por sua vez, diz que tem as melhores expectativas possíveis para a Polícia Civil. “Espero que assim como a criminalidade vem aumentando, as autoridades aproveitem o crescimento paralelo da tecnologia e usem-na a favor da polícia, que precisa acompanhar este desenvolvimento para não perder esta guerra”.

Um nome para não ser esquecido

Atualmente a Polícia Civil do Paraná conta com o trabalho de 617 policiais femininas, entre delegadas, investigadoras e escrivãs, além de 238 mulheres contratadas em outros cargos. Mas para chegar à essa realidade elas tiveram que lutar contra o preconceito de uma atividade considerada, durante décadas, exclusiva dos homens. O melhor exemplo que o Estado tem dessa persistência vem de Teresa Ermelino dos Santos, que aos vinte anos começou a trabalhar como agente de polícia e dez anos depois, em 1974, foi nomeada a primeira delegada do Paraná. Entretanto, para chegar tão longe ela teve que travar uma batalha contra uma dupla intolerância: além de ser mulher, Teresa é negra, características inadmissíveis para a sociedade da época.

Assim que iniciou seu trabalho, ela fazia parte de uma seleta minoria. Em meio a centenas de homens, apenas 15 mulheres atuavam na Polícia Civil. Ainda sem ter entrado para a faculdade de Direito, Teresa cursou a Escola de Polícia. Foi nomeada e efetivada como comissária de polícia, o que a deixava subordinada apenas ao delegado. Essa situação provocou tamanho alvoroço que resultou na criação de uma Lei que proibia mulheres nesse cargo.

Delegada

Em 1974, quando formou-se, prestou concurso para delegado e passou, mas o Estado recorreu mais uma vez à sua ascensão. Somente depois de falar com o então governador, Jaime Canet Junior, que sancionou uma Lei admitindo mulheres ao cargo de delegado, Teresa conseguiu ser oficialmente nomeada. Meses depois a Delegacia da Mulher foi criada, e por mais de três anos ela a chefiou. “Foi o único lugar que tive sossego para trabalhar”. Em 1994 Teresa aposentou-se.

Livro retratará a história da PC

Da disputa pelo domínio das terras aos sangüinários combates pelos pontos de tráfico de drogas, há 150 anos a Polícia Civil do Paraná vem agindo na tentativa constante de manter a ordem na sociedade. A história da corporação, construída entre vitórias e derrotas, é rica em detalhes, curiosidades e fatos. Dentro de um mês, todos esses episódios estarão à disposição de estudantes, pesquisadores e curiosos, em um livro sobre a Polícia Civil. Escrita pelo professor Ernani Costa Straube, um dos integrantes da Academia Paranaense de Letras e vice-diretor do Instituto Histórico do Paraná, a obra faz um retrato fiel à história da policia paranaense, desde o seu surgimento até os dias atuais.

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