Polícia caça responsáveis por tragédia no Jockey

 A polícia descobriu mais uma grave irregularidade no show Unidos pela Paz, realizado no último sábado no Jockey Clube do Paraná: não havia nenhum agente de segurança qualificado trabalhando no local. O evento acabou em tragédia, com três adolescentes mortos e mais de 40 feridos, devido à desorganização e ao descumprimento de diversas exigências, como autorização da Prefeitura e do Corpo de Bombeiros e presença de efetivo adequado da Polícia Militar, entre diversos outros itens.

O dono de uma empresa contratada pelos organizadores do show foi ouvido ontem à tarde na Delegacia de Homicídios, que investiga o caso. Ele revelou que a empresa não é de segurança, e sim de monitoramento de alarmes. Os funcionários estavam contratados apenas para orientar o público. Além disso, não eram pessoas qualificadas para prestar serviço de segurança.

“Não tinha nenhum segurança trabalhando lá, nenhuma outra empresa foi contratada com este objetivo”, disse Juliano Rodrigo Singer, dono da empresa J.R.S. Monitoramento de Alarmes Ltda. ao superintendente da DH, Neimir Cristóvão. Juliano Singer contou também que, ao ser contratado por Athayde de Oliveira Neto, de 23 anos, organizador do show, o empresário teria mentido. Athayde teria afirmado que o evento seria para 15 mil pessoas. Havia cerca de 40 mil jovens no Jockey, demonstrando que foram vendidos ingressos em volume muito maior do que a capacidade do local.

Foragido

Athayde está com a prisão temporária decretada. Ainda ontem, o advogado Júlio Militão da Silva assumiu também a defesa do acusado, que está foragido. Athayde deveria se apresentar ontem, segundo o advogado Carlos Humberto Fernandes da Silva, mas no lugar dele quem esteve na delegacia foi Júlio Militão. O advogado tentou negociar a apresentação de Athayde, propondo que seu cliente fosse para outro local que não a Delegacia de Homicídios, e também que não ficasse detido no Centro de Triagem.

O delegado Rinaldo Ivanike, que preside o inquérito do caso, negou as condições. Diante disso, o advogado entrou com pedido de habeas-corpus junto ao Tribunal de Justiça, que pode levar até três dias para ser julgado.

Captura

De acordo com o policial Neimir Cristóvão, o fato de os defensores do acusado pedirem habeas-corpus não muda em nada os trabalhos de investigação. “Continuamos atrás do acusado e pretendemos capturá-lo antes mesmo que esse habeas-corpus seja apreciado”, afirmou o superintendente da DH. De acordo com ele, duas equipes da delegacia estão no encalço de Athayde, com apoio do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e da Polícia Militar.

O inquérito policial ganhou também reforço do Ministério Público. Cinco promotores da PIC (Promotoria de Investigação Criminal) entraram ontem no caso, com o apoio de policiais do Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gerco), que reúne policiais civis e militares. O Gerco também atua nas buscas a Athayde. Além disso, o promotor João Henrique Vilela da Silveira, da Promotoria de Defesa do Consumidor, continua trabalhando no caso.

O promotor Paulo Markowicz de Lima, da PIC, disse que os trabalhos de apuração da responsabilidade criminal serão feitos em parceria com a polícia. “Pela total falta de segurança do evento, os responsáveis deverão responder por homicídio doloso (não proposital). A princípio, é isso que as investigações estão apontando, mas as coisas podem mudar no decorrer dos trabalhos”, observou Lima.

O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, João Henrique Vilela da Silveira, disse que o Ministério Público deve pedir nos próximos dias a interdição do Jockey. “Na verdade a interdição já foi pedida em 2001, quando aconteceu um show da dupla Bruno e Marrone. O pedido foi indeferido, mas estamos apenas esperando a publicação para recorrermos no Tribunal de Justiça”, contou, destacando que civelmente os responsáveis pelo incidente do último final de semana são os organizadores e, por responsabilidade solidária, a direção do Jockey Club.

Organizador pode ser um “laranja”

A polícia e a Promotoria de Investigação Criminal (PIC) suspeitam que Athayde de Oliveira Neto não seja o único responsável pela tragédia do show no Jockey Club. Há indícios de que Athayde seja um “laranja” -aquele que aparece para encobrir os verdadeiros responsáveis pela organização do show -, disse uma fonte da cúpula da Polícia Civil. “Tem mais gente envolvida nesse negócio”, revelou a fonte.

Uma das pistas é o contrato social da empresa encarregada do show. Tanto a PIC quanto a delegacia de Homicídios pediram à Junta Comercial uma cópia do contrato. Já se sabe que entre os sócios da empresa ALM Promoções não consta o nome de Athayde de Oliveira Neto. Ele teria sido subcontratado (terceirizado) pelos verdadeiros organizadores do show “Unidos pela Paz” porque já tinha experiência em promoção de eventos em Curitiba, inclusive com algumas das bandas que se apresentaram sábado no Jockey (Raimundos, Natiruts, Tihuana e Charlie Brown Júnior).

Athayde chegou a recolher com antecedência uma taxa da prefeitura, referente ao imposto sobre a venda de ingressos. Mas, neste procedimento, deixou de apresentar justamente o contrato social da ALM, além da autorização dos bombeiros. Por isso o empresário não obteve a licença municipal – mas mesmo assim o evento foi realizado. O Corpo de Bombeiros fez vistoria no Jockey Clube e não liberou para o show, por ausência de condições mínimas de segurança.

A polícia fez buscas a Athayde em sua residência, localizada na Rua Wenceslau Glaser, 73, na Vila Isabel, mas o empresário não foi encontrado. Neste endereço – uma residência simples -funcionaria o escritório e a moradia de Athayde.

A PIC também deverá pedir cópia da ata de reunião da diretoria do Jockey Clube do Paraná, que permitiu o aluguél do local para a realização do show.

Dois ainda internados

Dos mais de 40 jovens feridos na confusão da entrada do show de rock, realizado no Jockey Clube, dois ainda permanecem internados em hospitais de Curitiba. Os demais receberam alta médica e puderam voltar para casa. Ontem, Michel dos Santos Tinin, 18 anos, que havia sido internado na UTI do Hospital Evangélico, em estado grave, apresentou melhoras e já foi transferido para um leito de enfermaria. No mesmo dia, outros dois adolescentes, também vítimas do tumulto, saíram daquele hospital. No Cajuru, a adolescente Valeska Carvalho, 14, permanece internada sob observação médica.

Câmara pretende ouvir responsáveis por tragédia

Por iniciativa do vereador Mário Celso Cunha (PSB), os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba decidiram realizar uma sessão conjunta de duas comissões permanentes – Comissão de Urbanismo e Comissão de Segurança Pública e Cidadania – para esclarecer e apontar responsabilidades sobre o tumulto ocorrido nas dependências do Jockey Clube no último sábado.

A primeira reunião será realizada hoje, à partir das 14h, no plenário principal da Câmara. Segundo o presidente da Comissão de Urbanismo já estão convocados os secretários de Urbanismo e de Finanças, visando esclarecer sobre a expedição de alvarás e infra-estrutura para o evento. O vereador Jorge Bernardi (PDT) declarou: “vamos investigar com muita responsabilidade, pois a Câmara Municipal não pode ficar omissa nesse momento. Queremos que os responsáveis sejam punidos com o maior rigor”.

O presidente da Comissão de Segurança Pública e Cidadania, vereador Antônio Bueno (sem partido) afirmou que estão sendo aguardadas para a reunião as presenças do comandante da Polícia Militar, diretor-geral da Polícia Civil, comandante do Corpo de Bombeiros, presidente do Jockey Clube, comandante da Guarda Municipal e Secretaria de Defesa Social, bem como os promotores do evento e outras pessoas envolvidas na tragédia.

Secretário determina investigação rigorosa

Em entrevista coletiva dada ontem, o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, determinou rigor nas investigações da tragédia que ocorreu no show de rock Unidos pela Paz, no último sábado. “As circunstâncias serão analisadas sob a ótica criminal, cível e administrativa”, afirmou. “Por mais que a situação seja preocupante e estejamos sensibilizados pela dor que ela causou, não podemos apontar responsáveis sem antes investigar todas as variantes do caso”, disse Delazari, afirmando que as obrigações das polícias foram cumpridas.

De acordo com o coronel Pancotti, a Polícia Militar foi comunicada do evento e cobrou uma taxa de R$ 700,00 para realizar a segurança no local. Os organizadores não efetuaram o pagamento e mesmo assim foi enviado ao Jockey um efetivo compatível com o número de espectadores que supostamente iriam ao evento. Ocorre que o afluxo de público foi muito maior do que o informado. “Se algum agente fiscal municipal constatasse a ausência de alvará e tivesse chamado a polícia, o show não teria sido realizado”, declarou Pancotti, evitando apontar algum responsável.

Município aplica multa de R$ 90 mil a organizadores

Uma multa no valor de R$ 90 mil já foi aplicada pela Procuradoria Geral do Município aos organizadores do show Unidos pela Paz, que terminou em tragédia no portões do Jockey Club do Paraná, no Tarumã. A autuação foi expedida em nome de Athayde de Oliveira Neto, 23 anos, e do próprio Jockey, que também está sendo responsabilizado pela realização do evento. “Nós sabemos que o Jockey apenas cedeu o local, mas há uma responsabilidade correlata”, afirmou o procurador-geral, Maurício de Ferrante.

“Eles fizeram tudo sem a licença do município e até sem a autorização do Corpo de Bombeiros. Meu Deus do céu, foi uma grande irresponsabilidade”, afirmou o procurador, lembrando que a princípio os organizadores haviam informado que o show – com quatro conhecidas bandas de rock – iria reunir cerca de 10 mil pessoas, mas foram mais de 30 mil para o local. “Eles negligenciaram com a segurança e isso é imperdoável”, lembrou de Ferrante. A Prefeitura Municipal recebeu mais de 150 reclamações de pessoas que estiveram no show e prometeu tomar todas as providências necessárias.

Delázari quer rigor na investigação

O secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delázari, anunciou que serão investigadas com rigor as circunstâncias da realização do show de rock, ocorrido no Jockey Clube do Paraná, e que resultou em três adolescentes mortos e vários feridos, no último sábado (31). “Serão analisadas sob a ótica criminal, cível e administrativa”, determinou. Também foram anunciadas mudanças nos procedimentos para a fiscalização desses eventos.

As informações foram passadas em entrevista coletiva à imprensa, dada pelo secretário, acompanhado do comandante-geral da Polícia Militar, coronel David Pancotti, e pelo delegado-geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira. “Por mais que a situação seja preocupante e estejamos sensibilizados pela dor que ela causou, não podemos apontar responsáveis sem antes investigar todas as variantes do caso”, disse Delázari, afirmando que as obrigações das polícias foram cumpridas. “Se o problema for estrutural, será verificado e corrigido”, completou, dizendo que não irá criar polêmica sobre o assunto.

De acordo com o coronel Pancotti, a Polícia Militar foi avisada, porém havia policiais para a dimensão informada para o evento, muito diferente da real situação que se apresentou no local. Os organizadores não deram prosseguimento ao processo, depois de informados que deveriam pagar uma taxa para o policiamento especial. A taxa é cobrada em eventos particulares e com fins lucrativos, mas poderá ser revista pela atual administração da Secretaria da Segurança Pública, assim como os procedimentos adotados até então em casos de eventos daquela natureza. “Não iremos apontar essa ou aquela pessoa como culpada, até que toda a investigação tenha sido concluída”, afirmou o coronel. “Se algum agente fiscal municipal constatasse a ausência de alvará e tivesse chamado a polícia, o show não teria sido realizado”, declarou Pancotti.

Mudança

O delegado-geral da Polícia Civil determinou alteração no procedimento referente à realização de shows musicais com cobrança de ingressos. Os promotores do evento deverão remeter à Polícia Civil todos os documentos pertinentes, incluídos alvarás e comunicação à PM. Somente com esses documentos em dia, a Civil fará uma vistoria no local, liberando-o ou não para o show.

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