PMs acusados de execução

Quando estava dormindo em seu quarto, o podador de árvores Ednaldo da Cruz, 19 anos, foi executado com dois tiros, às 4h30 da madrugada de sábado, na Rua Aristides Borsato, 66, no Jardim Estrela, Fazendinha. De acordo com parentes e vizinhos da vítima, os autores da execução são dois policiais militares, que estiveram no local com uma viatura do 13.º Batalhão. Os PMs deixaram a casa sem prestar socorro ao rapaz, que foi conduzido ao Hospital do Trabalhador por seu tio José Vicente da Cruz, mas não resistiu aos ferimentos nas costas e na virilha, morrendo logo após dar entrada no centro cirúrgico.

A avó do rapaz, Maria Ferreira da Cruz, 57 anos, que mora ao lado do sobrado em construção em que Ednaldo dormia, informou que foi acordada pela irmã do rapaz, de apenas 10 anos. “Ela ouviu os tiros e me chamou. Fui lá e vi um policial fardado na porta e outro lá dentro. Fui entrar e ele disse: “O que a senhora quer aqui. Circulando?. Falei que eu era a dona do terreno, mas não adiantou nada”, relatou Maria. Ela disse que depois os dois policiais entraram na viatura e deixaram o local. Só então pode entrar no sobrado e viu o neto deitado na cama e coberto. Ao tirar o cobertor, descobriu que o rapaz estava se esvaindo em sangue. “Chamei meu filho, que socorreu o Ednaldo e o levou para o hospital”, disse.

Maria contou que uma vizinha ouviu os gritos de Ednaldo. “Eles bateram nele antes de matar”. No pequeno sobrado em construção havia sangue na parede, ao lado de um sofá onde o jovem foi executado, provavelmente sentado. A porta do quarto também foi arrombada, indicando que Ednaldo estava dentro do quarto.

Vizinhos da vítima disseram que após o rapaz ser socorrido a mesma viatura da Polícia Militar retornou ao local. Eles informaram que estavam com muito medo e como estava escuro não puderam ver a placa do Renault Scènic da PM.

Aspirante entra em contradição ao falar do caso

O aspirante Anderson Couto de Moraes, do 13.º Batalhão, informou que foi procurado por volta das 7h30 de sábado, logo após assumir o plantão, por um parente de Ednaldo da Cruz. O rapaz informou que policiais militares estiveram na casa da vítima na Fazendinha e o executaram.

De acordo com o aspirante, a princípio foi apurado que os policiais estavam fazendo uma abordagem e o jovem fugiu para dentro da casa, sendo perseguido. “A vítima era viciada em drogas e fugiu da abordagem”, relatou o aspirante. Depois o policial se contradisse, afirmando que ainda não sabia se a Polícia Militar esteve na casa. “Tivemos viaturas para atender ocorrências nas proximidades, mas não sabemos ainda se os policiais estiveram nesta casa”, salientou.

Prova

O aspirante afirmou que, por enquanto só existem denúncias. “Cabe o ônus da prova a quem acusa”, argumentou, dizendo também que conversou com todos os policiais que estiveram de plantão durante a madrugada e todos negaram ter estado na casa. Nada impede que policiais de outra área estivessem lá”.

Para finalizar o aspirante disse que é de interesse da Polícia Militar apurar os fatos. “A clareza do procedimento é total”.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que no momento só há suspeitas, já que não existe provas materiais. Eles divulgaram ainda que mesmo assim será instaurado inquérito policial e, se houver culpados, serão punidos.

Identificados quatro policiais

Integrantes do 13.º Batalhão da Polícia Militar identificaram ontem, no início da tarde, os quatro policiais que estiveram na casa de Ednaldo da Cruz, no dia da execução. Os nomes dos policiais estão sendo mantidos em sigilo.

Segundo o coronel Daniel Alves de Carvalho, duas viaturas estiveram no local do crime, cada uma com dois policiais. A primeira chegou à residência de Ednaldo a pedido do Centro de Operações (Copom) para atender um caso de briga. Nos registros feitos pelos policiais não são mencionados luta corporal e uso de arma de fogo.

Minutos depois, uma segunda viatura, também a mando do Copom, foi ao local para atender a mesma ocorrência. Chegando lá, os policiais encontraram Ednaldo ferido, já sendo conduzido ao hospital.

“Já ouvimos os dois policiais da segunda viatura e agora devemos ouvir os da primeira. Temos que saber exatamente o que os policiais desta encontraram e fizeram no local do crime”, disse o coronel. “Três armas utilizadas pelos policiais já estão em nosso poder e vão ser periciadas. O Instituto de Criminalísticas está realizando investigações no local”. Como cada PM anda com uma arma pertencente à corporação, falta ainda um revólver ser apreendido e encaminhado à perícia.

O advogado da família de Edvaldo, Maurício Barbosa dos Santos, revelou que, caso seja confirmado o envolvimento de policiais na execução, vai pedir o afastamento destes de suas funções. Ele deve alegar homicídio, omissão de socorro e invasão de domicílio.

Mãe revoltada quer Justiça

Revoltada e desnorteada com o assassinato, Delair do Rócio da Cruz, mãe de Ednaldo da Cruz, pede Justiça. “Eram dois marginais vestidos de polícia”, desabafou. “Eu não tenho medo deles. Se quiserem me matar também que o façam. Vou falar o que sei e quero estes marginais no lugar deles que é a cadeia. Polícia é para proteger e não para matar”, afirmou.

Delair informou que o filho era viciado em drogas, mas salientou que ele trabalhava e sustentava o próprio vício. “Ele estava dentro de casa. Não estava na rua fazendo mal para ninguém. Eu quero que a Justiça seja feita para que outras mães não chorem como eu, não passem pelo que eu estou passando agora. É duro ver um filho morto deste jeito”, enfatizou. Mãe de sete filhos, Ednaldo era o mais velho e, segundo Delair, era quem ajudava a sustentar os irmãos menores. “Não aceito isto nem para um cachorro quanto mais para um ser humano”, completou.

Outra casa invadida

Por volta das 21h, dois policiais militares do 17.º Batalhão, um loiro e outro moreno, invadiram uma casa nas Rua 1, próximo do sobrado em construção onde Ednaldo da Cruz foi executado. “Eu estava com meu filho no colo e eles apontaram a arma para minha cabeça, para a cabeça meu filho e para a do meu marido”, contou N.B.S., 15 anos. Ela disse que os PMs procuravam por drogas e afirmavam que estavam com seu marido Tiago Ribeiro, 18 anos. “Eles não podiam ter entrado na minha casa. Nem mandado tinha”, comentou a garota. Ela disse que outros menores que estavam na rua também foram colocados dentro da moradia e todos foram obrigados a deitar no chão. “Como não encontraram nada, foram embora”.

Segundo um primo de Edinaldo, que prefere não se identificar por temer a reação dos milicianos, o rapaz teria visto o constrangimento dos moradores da Rua 1 e telefonou para a polícia para reclamar. “Acho que o Ednaldo telefonou para reclamar dos policiais. Depois foi embora. Os PMs voltaram e se vingaram”, salientou o rapaz.

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