O ex-funcionário da Itaipu Binacional, Laércio Pedroso, foi preso ontem, pela Polícia Federal, em Curitiba, sob acusação de chefiar uma quadrilha que lesava empresas do setor elétrico – Itaipu, Furnas, Eletrosul e Eletronorte. Além de Pedroso, outras cinco pessoas foram detidas, em São Paulo e Brasília, por envolvimento no esquema. Com as prisões, a PF acredita ter evitado um saque de R$ 1 milhão que seria feito nas contas da Itaipu. O valor seria dividido em 300 cheques de valores baixos para não passar pelo crivo da diretoria da binacional.
A chamada Operação Castores cumpriu durante o dia de ontem seis mandados prisão e 22 de busca e apreensão em Curitiba, Foz do Iguaçu, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Brasília. Todos expedidos pela 1.ª Vara Criminal Federal de Curitiba. Os presos são acusados de cometer os crimes de tráfico de influência e corrupção passiva e ativa em procedimentos administrativos e financeiros das empresas elétricas. O superintendente da PF no Paraná, Jaber Saadi, explicou que a quadrilha procurava empresas privadas que forneciam produtos às estatais e alertavam que haviam resíduos a receber de produtos ou serviços fornecidos há tempos atrás.
Com base em cálculos inflacionários e documentos falsos, apresentavam altos valores que supostamente essas empresas teriam direito a receber, e cobravam uma porcentagem antecipada para reaver esses valores, o que nunca se efetivava. As investigações sobre a quadrilha começaram em agosto de 2005, quando a própria Itaipu relatou indícios de crimes de falsificação de documentos públicos e estelionato cometidos por Laércio Pedroso. Segundo a PF, durante as investigação foram encontrados indícios da participação de diretores da empresa multinacional Alston no pagamento de "vantagem financeira" para funcionários públicos, com o objetivo de facilitar pagamentos e diminuição de multas em contratos com a Eletronorte.
Diretores da empresa Transpesa Della Volpe contrataram intermediários para facilitar o recebimento de créditos relativos a supostos atrasos contratuais com a Itaipu. Esses intermediários teriam influência sobre funcionários da usina. A mesma quadrilha já estava sendo investigada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Financeiros (Nurce), da Polícia Civil do Paraná, por crimes de falsificação de selos, carimbos cartorários e assinaturas de diretores da empresa Lorenzetti em procedimentos administrativos junto à Itaipu.
Prisões
O ex-funcionário da Itaipu foi preso no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Além dele também estão presos o seu sócio na empresa de consultoria CAA (Consultores, Assessores Associados), Luís Geraldo Tourinho Costa; o diretor da Della Volpe, José Della Volpe, que era quem protocolava o pedido dos possíveis resíduos contratuais aserem pagos; Luís Carlos Dias da Silveira Franco, que era quem intermediava reuniões entre Laércio e as empresas; Osvaldo Panzarini, que representava consórcios de empresas multinacionais, e o assessor do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), José Roberto Paquier. Está foragido o paraguaio Michael Popow Nosikow, que é conselheiro da hidrelétrica binacional.
Câmeras flagram troca de malas no aeroporto
O ex-funcionário de Itaipu, Laércio Pedroso, foi filmado pelas câmeras do aeroporto paranaense entregando uma mala vermelha ao chefe de gabinete do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), Amauri Martins Escudero. A PF afirmou que quando ele chegou em Brasília foi interceptado, devendo mais tarde ser chamado para depor. No entanto, Escudeiro negou esse fato e garantiu que ainda estava com a mala – que contém documentos que deveriam ser copiados e entregues à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara que iria ouvir Pedroso hoje – o depoimento, porém, foi cancelado. A equipe de O Estado, no entanto, fotografou a mala na sede da superintendência da PF em Curitiba.
No início de 2006, Laércio Pedroso denunciou à revista IstoÉ a existência de uma movimentação de US$ 2 bilhões pela diretoria brasileira da Itaipu, sem conhecimento por parte dos representantes paraguaios, cujos valores seriam usados em um suposto caixa dois. A Itaipu negou todas as acusações.
Depois das acusações, três diretores-gerais da empresa, o atual Jorge Samek e os ex-diretores Euclides Scalco e Francisco Gomide concederam entrevista coletiva em Curitiba, no início do ano. Scalco foi enfático, na época, ao afirmar que era impossível fazer caixa dois na Itaipu. Segundo ele, essa prática nunca existiu e nem existirá. Scalco chegou a classificar, na ocasião, Pedroso de um homem "desqualificado" como fonte. "Essa reportagem da IstoÉ é algo intolerável, um disparate porque usa um desqualificado como fonte", disse. E o atual diretor, Jorge Samek, que também negou as acusações, disse que Itaipu iria tomar medidas jurídicas nas áreas cível e criminal contra a revista, o autor da matéria e o notório Laércio Pedroso.
Gomide afirmou na coletiva, no início do ano, que o caso de Pedroso exemplificava a impunidade no país. Segundo ele, Pedroso recebeu sentença para não delinqüir por dois anos, quando na verdade num país sério não se poderia delinqüir em nenhum momento da vida. Durante depoimento, ontem à tarde na PF, Pedroso disse que poderia comprovar essas denúncias. Então foi levado até a sede da Itaipu em Curitiba. No local ele teve acesso a senhas e computadores da empresa, e após ficar cerca de 1h30 no local, não conseguiu demonstrar a veracidade das informações.
