A operação Pôr-do-Sol, deflagrada ontem, de manhã, pela Polícia Federal, resultou na prisão de dez pessoas supostamente envolvidas em crimes que teriam sido praticados pelos proprietários da empresa Sundown, fabricante de bicicletas e motocicletas. Entre os detidos, estão o empresário Izidoro Rozenblum e o filho, Rolando Rozenblum, antigos detentores da marca. A Polícia Federal não confirma oficialmente os nomes.
Segundo o delegado Wagner Mesquita, que coordenou a operação, a Sundown é acusada de envolvimento em crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária, corrupção ativa e passiva, descaminho e lavagem de dinheiro. ?As investigações tiveram início há cerca de três anos (quando a Sundown mantinha um escritório em São José dos Pinhais), com base em movimentações financeiras feitas por pessoas ligadas à empresa através de contas CC5 (laranjas)?, comenta Mesquita.
O cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão e de dez mandados de prisão teve início às 6h, com apoio do Ministério Público Federal e da Receita Federal. Na capital paranaense, participaram das ações cem policiais federais e cinqüenta servidores da Receita, que vasculharam desde residências dos envolvidos até empresas e escritórios de advocacia, de operações de câmbio paralelo e de assessoria internacional de proteção de ativos. Oito pessoas foram detidas em Curitiba, uma em São Paulo (o consultor financeiro de um banco americano, que tinha escritório de representação no Brasil e prestava consultoria aos empresários) e uma em Porto Velho (RO) – o proprietário da empresa, Izidoro Rozenblum), que até o final da tarde de ontem, faltava ser removido à capital paranaense.
Em Curitiba, foram levados à superintendência da Polícia Federal dois auditores da Receita Federal, um advogado ligado ao grupo Sundown, o filho do empresário e mais um membro da família que comandava a empresa, um contador e um doleiro, cujos nomes não foram divulgados. Eles devem permanecer em prisão temporária por, no mínimo, cinco dias.
Anteriormente, a procuradoria do Ministério Público Federal já havia oferecido denúncias à Justiça Federal, referentes a pessoas ligadas ao grupo Sundown. Dentre elas, pelos crimes de formação de quadrilha e evasão de divisas. 174 condutas criminosas são imputadas ao grupo, que responde a quatro processos criminais na 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba.
Trama
O esquema era articulado pelo empresário paranaense Izidoro Rozenblum Trosman e o filho Rolando Rozenblum, a quem pertencia a marca Sundown até 2000. Segundo o superintendente da PF, Jaber Saadi, tudo começou com evasão de divisas substanciosas ao exterior através das famosas contas-?laranjas? CC5, constituindo o crime de sonegação fiscal; depois, as ilegalidades foram ampliadas por conta da entrada dos auditores fiscais da Receita Federal no esquema, sob a prática de advocacia administrativa (crime de patrocinar interesses privados perante a administração pública) e subfaturamento de importações, como peças e componentes de bicicletas e motocicletas trazidos de fora pelos empresários e, segundo a PF, revendidas até mesmo a outras empresas. De acordo com a PF, para isso o grupo valia-se de diversas empresas offshore uruguaias -país de onde a família Rozenblum é proveniente. Além dos componentes de motos e bicicletas, eram incluídos aí artigos esportivos, de ginástica e de viagem, além do ramo de incorporações imobiliárias. A PF confirma que os empresários estenderam-se para outros ramos, inclusive o de shopping center, a fim de diluir o esquema.
Os servidores públicos entravam com a falsificação de documentos referentes às remessas. Toda a articulação era feita sob orientação e auxílio do advogado, do contador, do consultor financeiro e do doleiro. Estima-se, até o momento, que a quantia de dinheiro envolvida seja de, pelo menos, R$ 150 milhões.
Marca vendida há seis anos
A marca Sundown foi vendida há seis anos para a empresa Brasil & Movimento – que, à época, se chamava Companhia Brasileira de Bicicletas, atual fabricante das bicicletas e motocicletas Sundown em Manaus (AM). A PF não sabe se há ligação entre os antigos donos da marca e os atuais proprietários, mas informa que a Sundown já teve nome alterado para tentar camuflar ilegalidades.
Outra evidência destacada pela PF é que dezenas de obras de arte foram encontradas e retidas durante o cumprimento dos mandados. Sem registro, são indícios de lavagem de dinheiro. As obras foram levadas para o Museu Oscar Niemeyer, onde serão avaliadas.
A Brasil & Movimento, que hoje detém a marca Sundown, nega que a administração da empresa esteja ligada à família Rozenblum e que tenha qualquer envolvimento com a operação Pôr-do-Sol. De acordo com sua assessoria de imprensa, os donos da companhia são o fundo de investimentos em participações Tophill (administrado pela corretora Planner) e a Airumã Investimentos e Participações Ltda. A mudança de nome depois da compra da Sundown é justificada pela assessoria por causa da mudança de foco no segmento da empresa, que passou a ter como nicho forte no mercado, além das bicicletas, motocicletas. Porém, o acionista majoritário da Brasil & Movimento por parte da Tophill é Jaime Rozenblum, pai do empresário preso Izidoro Rozenblum. A assessoria de imprensa confirma o nome do acionista, mas não soube dizer sobre a relação de parentesco. (LM)