PF prende 32 policiais por facilitar contrabando

Quarenta e duas pessoas acusadas de integrar uma quadrilha que facilitava a passagem de contrabando e drogas do Paraguai para o Brasil foram presas ontem, na região de Foz do Iguaçu, durante uma operação da Polícia Federal, batizada de “Trânsito Livre”. Entre os presos estão 31 policiais rodoviários federais e dez pessoas chamadas de “batedores” – que eram responsáveis pelo pagamento de propina -, e um policial civil. O líder da quadrilha, segundo a Polícia Federal, é Júlio César Marins, mais conhecido como “Babalu”, que está entre os presos. Ainda faltam ser cumpridos 13 mandados de prisão.

Ontem também foram aprendidos em poder dos acusados o livro caixa, onde eram registradas todas as operações, bem como dinheiro, armas, televisores e outras provas que podem complicar os envolvidos. No posto da Polícia Rodoviária Federal de Santa Terezinha do Itaipu, a 25 quilômetros de Foz do Iguaçu, foram aprendidos R$ 8 mil e no de Céu Azul, a 80 quilômetros de Foz, R$ 3 mil, que, segundo a Polícia Federal, seriam referentes ao pagamento de propina, que variava de R$ 300,00 a R$ 500,00 por ônibus que não eram vistoriados.

Investigações

O delegado Marcos Koren, da Polícia Federal, participou da operação e informou que as investigações começaram em outubro do ano passado e foram baseadas em outros inquéritos e procedimentos da Polícia Federal. Desde então, agentes da PF passaram a investigar e gravaram fitas de vídeo com policiais rodoviários negociando com “batedores” e recebendo propinas. Também foram “grampeados” telefones de pessoas acusadas e foram gravadas conversas de negociações do esquema.

Segundo Koren, o esquema funcionava da seguinte forma: Primeiro o “batedor” se dirigia ao Posto Rodoviário e negociava. Após entregar o dinheiro, o “batedor” dava um papel aos policiais com a placa do ônibus que passaria na seqüência, para que não fosse abordado e inspecionado. “Temos 27 minutos de filmagens mostrando o pagamento de numerários aos policiais rodoviários federais”, assinalou Koren. “Também temos provas de que os ônibus transportavam drogas, especialmente maconha, além de contrabando”, garantiu o delegado.

Ele salientou que os ônibus, muitas vezes, estavam em comboios. As quartas-feiras e aos sábados, dias de maior movimento, as filas chegavam a acumular 200 veículos. O que também dificultava as vistorias.

Prisões durante a madrugada

De posse de provas e nomes de acusados, a Polícia Federal solicitou suas prisões à Justiça. A juíza substituta da 1.ª Vara Criminal da Justiça Federal de Foz do Iguaçu, Paula Weber Rosito, expediu 55 mandados com acusações de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, contrabando, facilitação de contrabando, prevaricação e tráfico de entorpecentes.

Na segunda-feira, 200 policiais federais de várias regiões do Brasil foram convocados para ir até Foz do Iguaçu, sem saber do assunto que iriam tratar. Reunidos em Brasília (DF), embarcaram em um avião da Força Área que pousou durante a madrugada de ontem em Foz. Só então os policiais tomaram conhecimento da operação. “Este procedimento é comum”, afirmou o delegado Koren. As prisões também começaram a ser realizadas pela madrugada e a maioria foi feita na residência e no local de trabalho dos acusados.

Dois policiais rodoviários tentaram fugir para o Paraguai, mas foram presos na Ponte da Amizade, que liga o Paraguai a Foz do Iguaçu. “Supomos que o dinheiro apreendido nos postos rodoviários seja proveniente de propinas pagas durante a madrugada. Por estes postos passam centenas de ônibus por semana”, argumentou Koren.

A Polícia Federal optou por não divulgar o nome dos envolvidos, por enquanto. O único nome citado foi o de Júlio César Marins, mais conhecido como “Babalu”. “Este indivíduo é o líder e tinha como empregados funcionários públicos, mais precisamente policiais. O que é lamentável”, ressaltou Koren. O delegado disse ainda que também foi presa a esposa de Júlio César, cujo nome não foi divulgado. “Ela tem uma casa de prostituição na cidade, onde foram apreendidas armas. Também foi achado armamento na casa de Júlio César”, adiantou.

Investigações continuam

O delegado Marcos Koren, da Polícia Federal, informou que a “Operação Trânsito Livre” continua no sentido de prender outras pessoas envolvidas, que já estão com mandados de prisões decretados. “Também vamos continuar o trabalho em outras partes do País. Obviamente o esquema dos quadrilheiros não era só na região de Foz do Iguaçu, já que os destinos dos ônibus eram variados. Iam para os estados de Tocantis, Bahia, além das regiões Sudeste e Sul do Brasil”, revelou.

Ele não quis dar detalhes sobre a continuidade da operação, mas garantiu que o trabalho não pára por aí. “Isto é apenas o começo”, assegurou Koren.

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