Francisco, o "Pato".

Foi ouvido ontem, na sede da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba, Francisco Carlos Borges, antigo líder do acampamento de sem terra David Aparecido Porcino, acusado pelos companheiros de ter colaborado com a milícia armada que agia na região de Ponta Grossa. Borges teve que prestar esclarecimentos pelo suposto envolvimento com o tenente-coronel Valdir Copetti Neves, preso na semana passada durante a operação "Março Branco", acusado de liderar o grupo armado formado por ex-policiais militares e financiado por fazendeiros da região.

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De acordo com João Israel, um dos coordenadores do acampamento Emiliano Zapata (que fica nas terras da Embrapa, nas imediações do sítio do tenente-coronel), Borges, conhecido como "Pato", recebeu dinheiro de Neves para ajudar a desocupar o acampamento David Aparecido Porcino, que faz divisa com o sítio do oficial. Os sem terra do acampamento Emiliano Zapata souberam da ação que deveria acontecer no dia 6 de março. "O plano deles era retirar todas as famílias do acampamento para que os pistoleiros do coronel ocupassem em seguida", afirmou Israel. Durante o depoimento ontem na PF, Borges negou qualquer envolvimento com Neves e a milícia. "Fui procurado pelo Neto (João Della Torres Neto, PM aposentado, preso durante a operação "Março Branco") que trouxe documentos comprovando que o tenente-coronel tinha a posse da área que a gente estava ocupando. Ele também trouxe vários mandados de prisão de outros líderes do acampamento e ameaçou a gente, dizendo que era melhor sair por bem do que por mal", disse. Borges afirmou que não recebeu qualquer dinheiro do tenente-coronel para desocupar a área e disse que resolveu convencer os companheiros a saírem do local para evitar maiores confrontos.

De acordo com Israel, que prestou depoimento na semana passada na PF, o plano de Neves – ao infiltrar pessoas no acampamento – era de matar os coordenadores do movimento e simular que houve uma briga interna e que "um sem terra acabou matando o outro".

Só segurança!

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Outros quatro fazendeiros de Ponta Grossa foram ouvidos ontem pela Polícia Federal. Segundo o advogado dos fazendeiros, Emerson Ernani Woyceichoski, os produtores disseram que contrataram um serviço particular de segurança e negam financiar qualquer tipo de milícia contra sem terra. "O objetivo era garantir a segurança das propriedades e das famílias dos produtores, uma vez que o patrulhamento rural feito pela PM foi suspenso", disse.

Os fazendeiros disseram ainda que a cota mínima paga por cada um deles era de R$ 180,00 e o valor ia sendo dobrado ou triplicado, conforme o tamanho da área a ser patrulhada. O dinheiro era entregue diretamente aos policiais ou nas mãos da secretária do Sindicato Rural, Eliane Primila. Os depoentes de ontem endossaram a teoria de que o patrulhamento foi desvirtuado pelo tenente-coronel Neves, que teve as terras ocupadas por sem terra.

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No entanto, a PF informou que os fazendeiros confirmaram que estavam preocupados com a ocupação de áreas nas redondezas por sem terra e, um deles, até confirmou ter ajudado Neves cedendo dois caminhões e um trator para fazer uma desocupação.

Outra afirmação da Polícia Federal foi de que um outro fazendeiro – que teve o nome mantido sob sigilo – já foi indiciado por tráfico internacional de armas e formação de quadrilha. Segundo eles (PF), a documentação indicava que as armas foram trazidas de fora a pedido desse fazendeiro.