Insegurança

Pesquisa aponta 66 mortes em assaltos a bancos em 2014

Pesquisa nacional aponta que 66 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2014, uma média de 5,5 vítimas fatais por mês, o que representa aumento de 1,5% em relação a 2013, quando foram registradas 65 mortes.

O levantamento foi realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com base em notícias da imprensa e com apoio técnico do Dieese.

São Paulo (20), Rio de Janeiro (8), Goiás (5), Minas Gerais (4), Paraná (4) e Pernambuco (4) foram os estados com o maior número de mortes.

As principais ocorrências (48,5%) foram o crime de “saidinha de banco”, que provocou 32 mortes; o assalto a correspondentes bancários (24,2%), que matou 16 pessoas; o transporte de valores (13,6%, que vitimou 9 pessoas, e o assalto a agências (10,6%), que tirou a vida de 7 pessoas. Houve também 2 mortes em ataques a caixas eletrônicos.

Novamente, as principais vítimas (54,5%) foram os clientes (36), seguidas de vigilantes (10) e policiais (8). As demais mortes são de transeuntes, donos ou empregados de correspondentes bancários e vítimas de balas perdidas em tiroteios entre assaltantes de bancos e policiais.

A pesquisa também revela a faixa etária das vítimas, quase sempre identificada nas notícias da imprensa. As idades entre 31 a 40 anos e acima de 60 anos foram as mais visadas, com 14 mortes cada (21,2%), seguida pela idade de 41 a 50 anos, com 13 mortes (19,7%), e a idade até 30 anos, com 9 mortes (13,6%).

Já o gênero das vítimas continua sendo liderado pelos homens (57), o que representa 86% dos casos. Também foram assassinadas 9 mulheres (14%).

Falta de investimentos dos bancos e tentativa de transferir responsabilidades

Para a Contraf-CUT e a CNTV, essas mortes comprovam outra vez a carência de investimentos dos bancos para melhorar a segurança dos estabelecimentos e garantir um atendimento seguro para os clientes e a população.

Em vez de fazer a sua parte, os bancos vivem empurrando a responsabilidade pela segurança para os clientes e o Estado, apesar da atividade de risco que exercem e dos seus lucros abundantes.

Segundo dados apurados pelo Dieese com base nos balanços publicados, os cinco maiores bancos (Itaú, BB, Bradesco, Caixa e Santander) apresentaram lucros de R$ 60,3 bilhões em 2014. Já as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 3,7 bilhões, o que representa média de 6,1% em comparação com os lucros auferidos.

Como se não bastasse essa escassez de investimentos em segurança, os bancos vivem descumprindo a lei federal nº 7.102/83, que tem mais de 30 anos e se encontra defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade.

No ano passado, a Polícia Federal aplicou multas contra 21 bancos, no total de R$ 19 milhões, durante as reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (CCASP).

Avaliação dos bancários e vigilantes

“Sai ano, entra ano e pessoas são mortas em assaltos envolvendo bancos, mostrando o enorme descaso e a falta de investimentos na prevenção de assaltos e sequestros e na proteção da vida de trabalhadores e clientes”, afirma o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.

“O pior é que nenhuma força-tarefa é adotada pelos bancos para acabar com essas tragédias. Eles preferem gastar bilhões de reais em marketing e meios eletrônicos de pagamento a investir em equipamentos de prevenção e outros pr ocedimentos seguros”, completa. “Os bancos fazem a gestão do lucro e por isso encaram a segurança como custo que pode ser reduzido para turbinar ainda mais os seus ganhos”.

“Essas mortes também revelam a fragilidade da segurança pública, pois faltam mais policiais e viaturas nas ruas e ações de inteligência para combater ações criminosas”, salienta Cordeiro.

Para o presidente da CNTV, José Boaventura Santos, “todos esses assassinatos são muito preocupantes e reforçam a necessidade de atualizar a lei federal nº 7.102/83”.

“O projeto de estatuto de segurança privada, que está em construção no Ministério da Justiça, precisa ser retomado, buscando incluir equipamentos e medidas eficientes para proteger a vida das pessoas, eliminar riscos e oferecer segurança para trabalhadores e clientes”, defende.

“Além das mortes, essa violência ainda deixa inúmeros feridos e traumatizados pelo Brasil afora, acabando com os sonhos e as esperanças de muita gente”, salienta Boaventura.

Perigo da saidinha de banco

A Contraf-CUT e a CNTV defendem ações preventivas para enfrentar a “saidinha de banco”, que é o crime que mais está matando em assaltos envol vendo bancos.

“Esse crime começa dentro dos bancos e, para combatê-lo, é preciso evitar a ação de olheiros na hora do saque de clientes”, explica Cordeiro. “Os bancos não podem tratá-lo como problema de segurança pública e fugir das suas responsabilidades”.

“Defendemos a instalação de biombos entre a fila de espera e os caixas, e de divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os eletrônicos, visando garantir privacidade nos saques”, ressalta o presidente da Contraf-CUT.

“A instalação de biombos já virou lei em vários municípios, como João Pessoa, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Fortaleza e Belém, entre outros, reduzindo drasticamente a saidinha de banco”, aponta Boaventura.

“O biombo foi uma das medidas testadas e aprovadas no projeto-piloto de segurança bancária, realizado em Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. Essa medida precisa ser estendida para todo país, a fim de co mbater a saidinha de banco”, propõe Cordeiro.

Outra medida defendida por bancários e vigilantes é a isenção de tarifas de transferência de recursos (DOC, TED), como forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça.

“Muitos clientes sacam valores elevados para não pagar as altas tarifas dos bancos e viram alvos de assaltantes ousados e armados”, alerta o secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr.

“Proibir o uso do celular nos bancos é uma medida ingênua, ineficaz e inócua, pois não impede a visualização dos saques”, alerta. “É uma tentativa de responsabilizar o cliente pela falta de segurança no atendimento dos bancos”, completa Ademir.

Insegurança nos correspondentes bancários

A dis parada das mortes em assaltos a correspondentes bancários (lotéricas, banco postal, lojas e outros estabelecimentos) não surpreende a Contraf-CUT e a CNTV.

“Os bancos estão elitizando os serviços e empurrando cada vez os clientes de baixa renda para esses estabelecimentos, onde a segurança é mínima, quando existe, precarizando o atendimento, aumentando o risco e expondo perigosamente a vida das pessoas”, ressalta Boaventura.

“Queremos igualdade de atendimento para toda a população, com agências e postos de serviços, onde têm bancários e vigilantes, além de equipamentos de prevenção, possibilitando um atendimento com qualidade e segurança para clientes e usuários,  e protegendo o sigilo bancário e, acima de tudo, a vida das pessoas”, enfatiza Cordeiro.

Alto risco no transporte de valores

A pesquisa revela também o aumento das mortes em operações de depósitos e transporte de valores com ou sem carro-forte. “Os bancos têm que estabelecer procedimentos mais seguros para o transporte e o abastecimento de numerário das agências, postos e caixas eletrônicos, bem como definir medidas eficazes para proteger os clientes que efetuam depósitos em dinheiro e sacam quantias maiores”, ressalta Boaventura.

A vida em primeiro lugar

Vigilantes e bancários reforçam outras soluções de segurança que já salvaram muitas vidas em todo país. “É fundamental a colocação de portas de segurança com d etectores de metais antes do autoatendimento, câmeras internas e externas com boa resolução de imagens e monitoramento em tempo real, escudos com assento para vigilantes e vidros blindados nas fachadas, dentre outras medidas”, frisa Boaventura.

“Os bancos e as autoridades de segurança pública têm que tomar providências para evitar novas tragédias, que acabam com o futuro de inúmeras famílias em todo país”, alerta Cordeiro. “O atendimento bancário é atividade de risco. Os bancos têm que assumir a sua responsabilidade para proteger a vida das pessoas”, salienta Cordeiro. “A vida tem que ser colocada em primeiro lugar”, conclui.

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