O Primeiro Comando da Capital, originário de São Paulo, surgiu no ano de 1999, dentro das penitenciárias paulistas, criado por Willian Herbas Camanho, o "Marcola" e ouro preso conhecido por "Geleião", criminosos de alta periculosidade, que comandam a organização de dentro dos presídios onde estão recolhidos. Segundo o investigador Everaldo de Jesus, da Delegacia Antiseqüestro de São Paulo, o grupo funciona como uma empresa, e foi montado ao espelho do Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro – grupo de criminosos também formado dentro de presídios, na década de 80. A polícia paulista acredita que o PCC é até mais organizado que o CV.
"Eles estão sempre se reinventando e criando formas de driblar a polícia", conta o investigador, que mostra que a única forma de desmanchar aos poucos a facção, é usando a inteligência. Com base nas informações obtidas nessa fase é que a polícia parte para a ação. "Quando grampeamos um telefone, com autorização da Justiça, por exemplo, e ficamos sabendo do roubo a um comércio, não prendemos apenas o ladrão. Usamos a inteligência da polícia para descobrir o destino do dinheiro, pois sabemos que ele provavelmente será usado para sustentar algum cativeiro ou qualquer outra ação criminosa. Com isso, prendemos parte da quadrilha, e não somente um "ladrão’ de lojas", explica o investigador.
Família
Nos moldes de uma empresa, o PCC também sabe "arrebanhar" fiéis adeptos, muitos, à base de pressão psicológica e ameaças. O investigador Jesus explica que, ao entrar no presídio, o detento passa por uma entrevista com os integrantes do PCC. Nessa conversa, os bandidos descobrem toda a vida do preso, como esposa, filhos, endereço, gastos mensais da família, entre outras informações. Com base nisso, o PCC oferece proteção e assistência à família (alimentação, pagamento de aluguel, cuidados com as crianças, etc.), em troca de uma "mensalidade". O pagamento também dá direito a advogado. Fora da cadeia, a mando do PCC, bandidos visitam a família e cobram a "mensalidade". Fragilizados, com medo, e sem ter meios de sobreviver, a família aceita, e paga o dinheiro todos os meses. Em troca da ajuda, o preso, ao sair da cadeia, "trabalha" para o PCC, realizando roubos e crimes para sustentar o grupo.
Foi dessa forma que Robson Natal, 30 anos, o "Faustão", afirmou que sustentava sua família no Paraná. Ele era líder de uma quadrilha de assaltantes ligada ao PCC, pega pela polícia em 14 de junho deste ano. "Faustão" disse que pagava R$ 500,00 mensalmente à facção criminosa, ganhando com isso proteção e sustento a ele e à família, além da contratação de um advogado.
Jesus mostra que é difícil evitar que os líderes das facções criminosas comandem suas organizações do presídio. Ele exemplifica que, nas cadeias norte-americanas, os detentos não têm contato direto com os visitantes. Eles falam através de vidros, utilizando microfones, com o acompanhamento de policiais e de câmeras. "Nos presídios brasileiros, por mais que haja a inspeção antes da visita, muitos objetos acabam entrando. A visita sem acompanhamento de um policial e de câmeras, facilita que os presos conversem e combinem ações criminosas com os visitantes. Isso tudo permite que eles comandem uma facção inteira, de dentro do presídio", lamenta o investigador.
Outro fato ajuda os criminosos. Segundo Jesus, os aparelhos instalados nas penitenciárias, que fazem com que celulares não funcionem dentro da cadeia, são falhos e não trabalham como deveriam. Muitos bandidos conseguem realizar livremente ligações de dentro das celas.