PCC organiza primeira rebelião do CDRP

Um pedaço de metal, retirado da luminária de uma das celas da 9.ª galeria do Centro de Detenção e Ressocialização de Piraquara (CDRP), transformou-se no estoque usado para render nove agentes penitenciários na noite de domingo. A primeira rebelião de presos do recém-inaugurado CDRP teve seu desfecho por volta da 1h de ontem, com a invasão do presídio pela Polícia Militar e a libertação dos agentes.

O motim aconteceu na galeria ocupada por 19 detentos, que estariam concentrados ali por ter ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

De acordo com o coordenador-geral do Departamento Penitenciário (Depen), coronel Honório Bortolini, a rebelião começou por volta das 19h, quando os nove agentes entraram na 9.ª galeria e abriram as celas para fazer revistas. Um deles foi rendido por um preso que colocou o estoque em seu pescoço, obrigando os demais agentes a se renderem para garantir a segurança do colega.

De acordo com o major e comandante da Compahia de Choque da PM, Milton Isack Fadel Júnior, que participou das negociações, os presos conseguiram sair das celas e concentraram-se no corredor. Eles tomaram os radiocomunicadores e as algemas dos funcionários e colocaram lençóis e colchões na porta de acesso à galeria, para dificultar a visibilidade dos policiais que tentavam negociar o fim da rebelião. Os demais detentos da galeria ficaram nas celas (a maioria delas é individual) enquanto acontecia o motim.

Os rebelados reclamavam de maus-tratos e reivindicavam, além da transferência para unidades de outros estados, a entrega de um telefone celular e de chaves das celas para a libertação de outros presos. Eles também exigiram a chave para abrir a cela onde estava um dos detentos jurado de morte pelos amotinados. Naquela galeria estariam concentrados criminosos membros do PCC, porém o coronel Bortolini, negou a informação.

Cerca de 80 PMs participaram da operação, conseguindo isolar o motim apenas na 9.ª galeria. ?No setor de triagem, onde estavam centenas de presos, também teve baderna e temíamos que eles também se rebelassem. Porém, tudo foi controlado?, disse o major.

Negociação

A negociação durou cerca de cinco horas. No início da madrugada os presos afirmaram que, a partir daquele momento, ?não teria mais conversa?. Começou então uma gritaria,

e temendo pela integridade física dos agentes, a Polícia Militar invadiu o presídio. Foi ouvido o estrondo de tiros de balas de borracha e bombas de efeito moral no interior das galerias. Em seguida, a situação foi controlada. Um policial teve ferimentos leves durante a ação e os reféns receberam atendimento médico prestado pelos socorristas do Siate, apenas por precaução.

De acordo com nota divulgada pelo Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), a única exigência atendida foi a transferência dos detentos a outras unidades de Curitiba. O Depen também apresentou versão diferente para o fim da rebelião. Segundo o conteúdo da nota oficial, os sete rebelados alegavam ter armas de fogo em seu poder, entretanto, no decorrer das conversações desmentiram a informação e se entregaram, após a confirmação de suas transferências. O Depen assegura que não houve confronto ou pessoas feridas na ação.

Segurança reforçada não evita motim

O sistema de segurança do CDRP é equipado com aparelhos de raios x e detectores de metais (raquetes). Para as visitas é feito cadastramento prévio dos advogados dos presos e é proibida a utilização de celulares. Diante desses mecanismos de segurança a pergunta gira na facilidade em que um dos detentos teve em confeccionar um estoque, usando o metal da luminária da cela.

De acordo com o coordenador-geral do Departamento Penitenciário (Depen), coronel Honório Bortolini, o preso fabricou a arma ainda no domingo, e, por isso, não deu tempo dos agentes penitenciários perceberem o desfalque na iluminação da cela. ?Vamos falar com a empresa que fabrica as luminárias para ver qual providência será tomada para evitar que isso aconteça novamente?, disse o coronel.

Botolini avaliou o desencadeamento da rebelião como uma fatalidade. ?Houve descuido por partes dos agentes, pois as revistas exigem muita atenção. Sempre há risco, por isso os profissionais são instruídos a agirem sempre com o máximo de precaução?, disse o coordenador, que garante que as revistas são situações rotineiras de todas as unidades prisionais. Será aberta sindicância e os rebelados deverão custear os prejuízos materiais causados no presídio.

O CDR de Piraquara abriga 848 presos, a maioria transferida no mês de julho, da Prisão Provisória de Curitiba, no Ahu, desativado para construção do Centro Judiciário de Curitiba. A transferência teve início em 28 de junho e foi feita de forma gradativa. Com capacidade para 960 homens, o Centro foi inaugurado em 19 de junho, com investimento de aproximadamente R$ 11,5 milhões.

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