Mara Andrich/Nájia Furlan/Lawrence Manoel/Rubens Chueire
O acidente em que se envolveu o deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB) gerou comoção social, tornou-se um fato de alcance nacional e, inevitavelmente, causou uma instabilidade política no Estado.
O parlamentar mais jovem da Assembleia Legislativa do Paraná causou um acidente gravíssimo em Curitiba, no qual dois jovens -Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida – morreram na hora na madrugada de 7 de maio.
Mesmo sem o julgamento final, agora a movimentação e o apelo social da opinião pública são pela cassação do parlamentar, um episódio nunca antes visto no Paraná. O processo já foi aberto na Assembleia mas, caso seja comprovada a quebra de decoro, a votação só deverá ocorrer em julho.
A reportagem de O Estado entrou em contato com a maioria dos deputados paranaenses na última semana para saber a opinião de cada um a respeito da cassação. No entanto, a maioria deles prefere a cautela ao comentar o assunto e outros dizem que não podem opinar ainda. Poucos disseram que votariam pela cassação.
Dos deputados contactados pela reportagem, os que disseram “sim, hoje e com a atual conjuntura, eu votaria pela cassação” foram Jonas Guimarães (PMDB), Luiz Nishimori (PSDB) e Marcelo Rangel (PPS).
“Homens públicos têm que dar exemplo. Nós fazemos as leis então temos que cumpri-las. Dirigir a 190 quilômetros por hora é o absurdo dos absurdos”, afirmou Guimarães.
Já outros deputados, como Beti Pavin (PMDB), por exemplo, preferem ser mais comedidos nesse momento. Mas mesmo assim, acreditam na quebra de decoro. Beti disse que, caso seja comprovada a culpa do parlamentar, seu voto também seria pela cassação. A mesma opinião tem Nishimori.
“Acidentes acontecem com todo mundo, mas homem público tem que dar exemplo. Claro que temos que esperar todo o processo, dando ao deputado o direito ao contraditório em sua defesa, mas se a votação pela cassação fosse hoje, eu votaria sim”, afirmou Nishimori.
Carli Filho continua internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele já está no quarto, mas não há previsão de alta. Na semana passada, o parlamentar passou por cirurgias de correção de face, que duraram cerca de 14 horas.
A defesa do deputado ainda não se pronunciou. No inquérito que apura o acidente, muitas evidências dão conta de que o parlamentar bebeu horas antes de conduzir seu veículo, como o laudo da dosagem alcoólica do Instituto Médico-Legal (IML), as notas fiscais do restaurante em que ele jantou, além de depoimentos de testemunhas.
Na última sexta-feira, o laudo do exame toxicológico apontou que Carli Filho não consumiu anfetaminas ou cocaína na noite dos fatos. Hoje, a família de Gilmar Rafael vai fazer uma passeata para lembrar do acidente.
Parlamentares aguardam a defesa
Alguns deputados, como Cleiton Kielse (PMDB), por exemplo, disseram que se a quebra de decoro se configurar mesmo, não haverá como a votação geral não ser contra Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB). Embora prefiram esperar o julgamento final, acreditam que a cassação é quase inevitável.
“Estamos aguardando todas as informações, sua defesa, e também a possibilidade de renúncia. Mas se ficar comprovada a quebra de decoro, acredito que infelizmente a votação seria contra ele. Digo infelizmente porque Carli Filho era um ótimo parlamentar, nunca teve nenhum conflito na Assembleia”, avaliou Kielse.
Opinião semelhante deu Mauro Moraes (PMDB). “Como membro da comissão de ética, quero avaliar todos os detalhes do processo antes de me posicionar. Mas vou agir com imparcialidade e isenção total, sem cooperativismo ou protecionismo. Se houver culpa, ele pode, sim, ser cassado. Em princípio os sinais são ruins, mas não podemos fazer nenhum pré-julgam,ento”, disse Moraes. Elton Welter (PT) também afirmou que não se pode fazer julgamento prévio, mas declarou que, se Carli Filho cometeu um erro, tem que ser punido.
Já Augustinho Zucchi (PDT) disse que a Assembleia deve ser rigorosa e imparcial, mas que prefere não se pronunciar nesse momento. “Quem comete deslizes deve satisfação à população. Mas não posso condenar antecipadamente. Que a justiça seja feita, pois o fato de ser deputado não pode abrir margens para receber qualquer tipo de privilégio”, avaliou Zucchi.
Outros deputados contactados, como Antonio Belinati (PP), Luiz Eduardo Cheida (PMDB), Ademir Bier (PMDB), Antônio Anibelli (PMDB), Caito Quintana (PMDB), Péricles de Mello (PT), Elio Rusch (DEM), Luiz Claudio Romanelli (PMDB), Edson Luiz Strapasson (PMDB), Duílio Genari (PP), Jocelito Canto (PTB), Luiz Fernandes Litro (PSDB), Ney Leprevost (PP), Pedro Ivo (PT), Tadeu Veneri (PT), Luciana Rafagnin (PT), Valdir Rossoni (PSDB) e Nelson Justus (DEM) preferiram não opinar sobre o assunto por enquanto, alegando que não vão antecipar o voto.
Canto chegou a elogiar a postura de seu colega. “Toda essa situação me pegou de surpresa. No plenário ele sempre foi um menino responsável. Não tenho queixa. Sempre foi um guri fantástico, educado, correto, humilde, que não fazia demagogia”, disse Canto. Luiz Carlos Martins (PDT) não quis se pronunciar por telefone. O restante dos parlamentares não foi encontrado pela reportagem. (MA, NF, LM, RC)
Cientista acredita em cassação
O deputado Edmar Moreira, de Minas Gerais (sem partido) que comprou um castelo, Sérgio Moraes (PTB-RS) que disparou o termo “liche-se a opinião pública”, o episódio da “farra” das passagens aéreas. Uma sucessão de fatos que levam a população à descrença dos políticos, e também à indignação.
Para o sociólogo e cientista político, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa de Oliveira, o fato de Carli Filho ter se envolvido num acidente com duas vítimas fatais é mais um motivo que gera mais indignação por parte da população, que agora clama pela justiça para todos. Para Oliveira, os políticos paranaenses não terão outra saída a não ser condenar Carli Filho, até para manter suas imagens perante a população.
“A opinião pública quer uma satisfação, questiona o comportamento dos parlamentares”, afirmou. Oliveira acredita que os deputados não serão inertes neste caso, justamente por conta de toda a comoção nacional e, talvez principalmente, pelos prejuízos políticos que poderão ter. (MA)