Parentes cobram melhores condições para os presos

Mães, esposas e familiares de detentos no sistema penitenciário do Paraná, principalmente a Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), estão reivindicando o restabelecimento de direitos dos presos.

Após a rebelião de janeiro deste ano, houve mudanças na rotina da PCE e elas resolveram se unir para pedir mudanças. As mulheres pedem a retomada das visitas regulares e um melhor atendimento médico na unidade, além de poderem deixar novamente sacolas com comida e outros produtos. Tudo está suspenso desde a rebelião, que deixou cinco mortes e destruiu muitas celas.

As mães e esposas procuraram entidades de defesa dos direitos humanos, como Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha), e formaram o Movimento em Defesa das Pessoas Privadas de Liberdade.

Elas se reuniram ontem e fizeram uma caminhada até a sede do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), no bairro Ahu, em Curitiba. Cerca de 30 pessoas participaram da mobilização. As mulheres entregariam uma carta de reivindicações à direção do órgão.

Segundo as próprias manifestantes, o número não é maior porque muitas mulheres ficam com medo das represálias que os filhos, irmãos e esposos podem sofrer dentro da PCE. Elas fizeram sérias denúncias ontem sobre a rotina dos presos após o encerramento da rebelião.

“Eles ficaram sem roupa, sem cobertor, dormindo no chão. Muitos foram atingidos por balas de borracha, mesmo após a rebelião. Há muitos casos de tuberculose, de sarna. Por que eles (presos) estão pagando por isto se as pessoas que fizeram a rebelião já saíram de lá? Se a rebelião acabou, por que não voltaram com as visitas normalmente?”, questiona a mãe de um preso que está na PCE há oito meses. Ela prefere não se identificar pelo medo de represálias ao filho.

Elas também reclamaram das poucas notícias que receberam durante e após o término da rebelião deste ano. As visitas, desde então, ocorrem apenas no parlatório, por 30 minutos. Uma das mães viu o filho desta maneira somente em março e na semana passada.

Silmara Maceno dos Santos, cujo marido está na PCE, disse que ficou sem notícias durante três meses. Na primeira oportunidade em que foi vê-lo, quase não o reconheceu.

“Eles ficaram sem comer. Foram torturados quando souberam lá dentro que havia nosso movimento aqui fora. Eu saí chorando quando eu vi meu marido”, conta. Segundo outra manifestante, que também não quis se identificar, os presos ganharam os colchões há poucos dias.

Uma das preocupações dos parentes é com o frio. Os detentos estariam com poucas mudas de roupas e cobertas. O que também tira o sono das mães e das esposas é a pressão que os presos estão recebendo.

“Lá é uma verdadeira panela de pressão, que pode explodir a qualquer momento”, diz uma das manifestantes. Ela relata que o tratamento que recebem nas visitas era precário antes mesmo da rebelião. “Nós somos humilhadas nas revistas. Eu levei comida no final do ano e remexeram tudo. Tiraram do pote e colocaram em um saco plástico. Eles estão pagando pelo que fizeram. Mas não são porcos, não são animais”, comenta.

Silmara explica que na última reunião com a corregedoria penitenciária, que acontece a cada 15 dias, foram liberados os colchões e uma muda de roupa. De acordo com ele, a quantidade de comida seria aumentada.

As visitas podem ser retomadas no mês que vem. “A última notícia que temos é que os policiais não estão mais lá dentro. Mas continuam as ameaças, a pressão psicológica”, declara.

Visitas serão reestabelecidas

Mara Andrich

Coordenadores do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen-PR) receberam cinco pessoas que representaram o grupo de manifestantes, ontem à tarde. Alguns pontos da pauta de reivindicações foram resolvidos ontem mesmo, como por exemplo a questão das visitas, que devem ser restabelecidas em alguns dias.

O problema da falta de roupas e cobertores também ficou resolvido. Segundo o Depen, os presos estão sendo uniformizados gradativamente, mas as famílias poderão levar agasalhos da mesma cor, se por acaso todos eles não receberem o uniforme logo.

O Depen informou, ainda, que a reunião foi bastante produtiva e diplomática, e que as outras reivindicações serão discutidas em uma próxima reunião, marcada para o dia 24 de maio.

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