Depoimentos são tomados em ambiente lúdico. Foto: Divulgação/Sesp |
A prisão do ex-BBB Laércio de Moura, 53 anos, na última segunda-feira (16), chamou a atenção para abusos cometidos contra menores de idade. Nesta quarta-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a Secretaria Estadual da Segurança Pública e Administração Penitenciária revelou que em 2015 foram registradas 3.020 ocorrências de violência sexual e física contra crianças e adolescentes no Paraná – das quais 444 em Curitiba. Isso significa uma média diária de 8,2 casos.
Só o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima de Crime (Nucria), na capital, recebe em média de cinco a dez denúncias por dia. “Os policiais, juntamente com uma equipe de psicólogos da unidade especializada, desempenham um trabalho criterioso e técnico em relação às notícias dos crime que recebemos”, diz a delegada-titular do Nucria, Daniela Andrade.
As apurações ocorrem, geralmente, de maneira velada, pela natureza do crime investigado. “Uma atuação precoce da polícia pode ser tão prejudicial quanto o crime que está se investigando, podendo causar um estigma eterno na criança. Por isso temos muito cuidado em cada passo das ações”.
As campanhas de informação e orientação, disseminadas de forma mais intensa nesta última década, têm ajudado o trabalho da polícia. “O abuso sexual de crianças e adolescentes é um crime que se pode pensar que ocorre só ‘com os outros’, nunca na nossa família, nunca com o amiguinho do nosso filho ou na casa vizinha. Mas é preciso que os pais estejam atentos ao problema”, alerta Daniela. Ela lembra que também caracteriza crime de abuso sexual infantil tocar, acariciar as partes íntimas, levar a criança a assistir ou participar de práticas sexuais de qualquer natureza.
Conivência da mãe
O Nucria percebe, em alguns casos, conivência da mãe com a prática do abuso infantil. “Quando a mãe assume uma postura submissa e ignora a situação que ocorre dentro da própria casa, os abusos podem se acentuar e persistir por anos”, destaca a delegada. Mês passado, equipes do Nucria prenderam um indivíduo que abusou sexualmente da filha dos quatro aos oito anos. “Laudo do Hospital Pequeno Príncipe apontou abuso sexual crônico da garota, que tentou contar para a mãe o que estava acontecendo, mas ela não acreditou no relato da filha. Pior, relatou ao marido, que agrediu fisicamente a criança”.
Foram anos até que a menina mencionasse novamente a situação para uma tia-avó, que procurou o Nucria. “Nossa gratificação, com um trabalho como esse, é saber que o culpado está preso, os abusos cessaram e que a irmã dessa criança, uma garotinha de cerca de um ano, não será abusada”, diz a delegada.
Sinais
Uma das dificuldades em se prevenir esse tipo de crime é que muitas das ocorrências costumam ocorrer dentro da própria casa, por pessoas próximas. “Cerca de 80% dos casos têm como autor o pai ou o padrasto. E apenas a mínima parcela deles é praticado por desconhecidos”, informa a delegada-titular do Nucria Curitiba.
É importante que professores e pessoas do convívio de crianças e adolescentes estejam alerta para o aparecimento de alguns sinais, como alteração repentina de comportamento, de humor, falta de apetite, distúrbios do sono e medo da presença de pessoas adultas. “Esses fatores não são sinônimos de que a criança esteja sendo abusada, mas é um alerta para algum tipo de problema e devem ser acompanhados de perto”, aponta o psicólogo Sérgio Artur Ferreira Filho, da equipe técnica no Nucria.
Depoimentos
A an&aac,ute;lise psicológica ampara grande parte do trabalho do Nucria, porque, dependendo do ato que foi praticado, nem sempre exames corporais da Polícia Científica são suficientes como provas para o inquérito policial. No Nucria, as conversas com crianças vítimas de crime, principalmente as mais novas, se dão em um ambiente lúdico, que auxilia na compreensão de como são hábitos e costumes familiares na casa da vítima.
COMO DENUNCIAR?
– Informações sobre abuso de menores podem ser repassadas, anonimamente, pelo serviço Disque-Denúncia, pelo telefone 181 ou site www.181.pr.gov.br, clicando em “Faça sua denúncia”, no menu ao lado esquerdo da tela.
– Em Curitiba, as denúncias também podem ser feitas diretamente ao Nucria, pelo telefone (41) 3270-3370.
DICAS PRA EVITAR VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
– Ouvir relatos dos filhos e não ignorar caso um problema apareça, procurando as autoridades competentes
– Conversar periodicamente com os filhos para orientá-los a não aceitar presentes nem se relacionar com estranhos
– Estabelecer um vínculo de confiança com a criança
– Ensinar, desde cedo, que existem partes do corpo que são íntimas
– Não deixar os filhos sozinhos com estranhos, mesmo que por pouco tempo, em banheiros, transporte público e provadores, por exemplo
– Estabelecer regras e limites, mantendo uma relação franca, e procurar saber o que os filhos fazem e com quais adultos se relaciona com frequência
Fonte: Nucria