A cocaína é sinônimo de lucro certo para os traficantes, pois é uma das drogas mais caras do “mercado”. Por ser uma das mais rentáveis, é também um dos tipos de entorpecente que mais exigem cuidado no transporte, para não ser descoberto.

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Consequentemente, para os policiais acaba sendo mais difícil descobrir um carregamento. Quando descobrem, geralmente são cargas pequenas, pois justamente por ser mais cara, não há interesse dos traficantes de se arriscar com muita coisa. Essas informações são das polícias Civil, Militar (PM) e Federal (PF) do Paraná, que atuam em conjunto no combate ao tráfico de drogas.

Mas apesar das dificuldades em encontrar tais carregamentos, grandes quantidades de cocaína foram apreendidas pela polícia no Paraná nesses dois primeiros meses de 2009.

Somente no início de fevereiro, quatro toneladas foram encontradas em uma carga de madeira no porto de Paranaguá, no litoral. Foi a maior apreensão já realizada no sul do País, segundo a Polícia Federal (PF).

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Até agora ninguém foi preso. Em janeiro, outros 33 quilos foram encontrados pela PF no bairro Umbará, em Curitiba. Durante a operação São José, da PF em conjunto com a PM, também foram encontrados 25 quilos de cocaína e 2,5 quilos de crack, além da prisão de seis acusados.

No caso do Umbará, a cocaína vinha do Mato Grosso do Sul. Segundo a polícia, é por lá que entra grande parte da cocaína que chega no Paraná, mas muita coisa também entra pela fronteira, em Foz do Iguaçu.

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Segundo o delegado chefe da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc), Sérgio Sirino, os traficantes têm saído das cidades de Pedro Juan Caballero e Salto del Guairá, no Paraguai, direto para a cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

Para o delegado, não é nada fácil lidar com o tráfico por aqui. “O Paraná está em uma posição privilegiada. Somos um ponto de escoamento, pois o acesso é fácil a São Paulo e ao porto de Paranaguá”, afirma.

A dificuldade para fiscalizar é um dos entraves no combate ao tráfico de cocaína. Como os traficantes se utilizam das mais variadas formas de transporte e são muito cuidadosos, não há como pegar todo mundo.

Dados da Organização Nações Unidas (ONU) estimam que apenas 10% do que é traficado é descoberto pela polícia. E mesmo depois que pega algum traficante, também não é fácil desbaratar a quadrilha, segundo o delegado chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal (PF) de Curitiba e região, Jonathan Trevisan Júnior.

“No tráfico de qualquer tipo de droga você tem a honra dos traficantes e medo das mulas. Ninguém entrega ninguém. Eles preferem ser condenados a entregar alguém. Essa é uma grande dificuldade para a polícia”, revela o delegado.

Segundo ele, a dificuldade em apreender a cocaína existe, pois o tráfico “formiguinha” é o mais comum. A mesma opinião tem o delegado Sirino. “Além da maneira de transportar ser mais sofisticada, o grau de confiança entre os membros do grupo é maior. Por isso eles buscam pessoas qualificadas para o serviço”, comenta.

Apreensões do pó aumentarão consideravelmente este ano

A Polícia Federal (PF) e a Polícia Civil apreenderam no ano passado quase 800 quilos de cocaína. Só a PF apreendeu em 2007 uma tonelada da droga. Este ano os números deverão aumentar consideravelmente por conta das 4 toneladas encontradas no porto de Paranaguá. No ano passado, 84 pessoas foram presas e indiciadas pela PF, por tráfico, somente na região de Curitiba.

A cocaína é uma substância natural, extraída de uma planta da América do Sul chamada Erythroxylon coca. A cocaína pode ser encontrada em diversas formas, como em cloridrato (o pó que é aspirado ou introduzido nas veias se disso,lvido em água), ou na forma de base, o famoso crack, que é fumado em cachimbos.

Em termos de lesões cerebrais, a cocaína pode causar problemas irreversíveis. Há estudos que indicam que em dois meses de uso ela já pode viciar, o que é bastante rápido, se comparar com as bebidas alcoólicas, por exemplo.

O médico psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-SP) criador do primeiro serviço gratuito de atendimento a dependentes do Estado, Dartiu da Silveira, diz que a cocaína provoca a contração das artérias do corpo inteiro, mas o mais grave seriam as consequências no cérebro e no coração.

“O usuário de cocaína vai perdendo a memória, a concentração, a inteligência. Mas também afeta o sistema cardiovascular podendo provocar pressão alta. A incidência de enfarto em usuários de cocaína é muito maior”, explica.

Em Curitiba, segundo dados da Secretaria Antidrogas, os bairros onde o tráfico é mais evidente são a CIC, o Uberaba, o Sítio Cercado e o Cajuru. O secretário antidrogas, Fernando Francischini, defende o uso do Exército na fronteira.

“Defendo alterações na Constituição no sentido de juntar o Exército à PF e à Receita Federal para tentar combater o tráfico”, afirma. A secretaria desenvolve ações preventivas, como atividades em escolas, por exemplo, para evitar que cheguem ao tráfico.

Delegado pede punição também ao usuário

O Paraná está em uma posição privilegiada. Somos um ponto de escoamento, pois o acesso é fácil a São Paulo e ao porto de Paranaguá. Sérgio Sirino, chefe da Divisão Estadual de Narcóticos.

Se o jogo de “gato e rato” é comum no tráfico de drogas, principalmente no de cocaína, não é tão simples acabar com o ilícito. Dessa forma, o delegado chefe da Denarc, Sérgio Sirino, defende uma maior conscientização para evitar novos usuários.

Já o delegado chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em Curitiba (PF), Jonathan Trevisan Júnior, diz que é preciso investir em efetivo policial – que é deficiente, segundo ele – e penalizar os usuários.

“A legislação tem poupado o usuário, o que incentiva ainda mais o uso e fortalece o tráfico”, opina Júnior. O delegado da PF também critica o “excesso de garantias individuais que prejudicam o trabalho da polícia e a sociedade, como por exemplo as limitações no monitoramento telefônico”.

Ao contrário do que se pensa, a polícia diz que não existe uma rota definida dos traficantes de cocaína. Isso porque eles moldam o trajeto de acordo com a fiscalização. A maneira como vão transportar o carregamento também é adaptada.

“É a chamada metodologia gato-e-rato. Sabemos que eles utilizam até submarino para transportar a droga. Por isso a importância da polícia se preparar cada vez mais para descobrir os carregamentos”, afirma Sirino.

Na opinião de Sirino, o mais importante em relação ao tráfico é quebrar a estabilidade financeira dos traficantes. “Quanto mais dinheiro eles têm, mais conseguem se manter no anonimato, ficar escondidos, fazer plásticas, e tudo mais. Um exemplo é o Abadía, que viveu tanto tempo no Brasil sem ser descoberto”, lembra.