O pedido de uma xícara de café propiciou a descoberta de mais um asilo irregular na Região Metropolitana de Curitiba. Na manhã de ontem, um idoso de 66 anos foi agredido por uma funcionária da Associação e Proteção ao Idoso Luz e Vida, em Araucária, ao tentar repetir a refeição. A denúncia chegou ao Conselho Municipal de Proteção ao Idoso que constatou, além da agressão, as condições precárias em que viviam 34 velhinhos e doentes mentais.
De acordo com a presidente do conselho, Landiva Weber Souza, na manhã de ontem ela recebeu a denúncia anônima de que um idoso foi agredido e chegou a perder um dente. Segundo ela, a funcionária Noeli Barbosa entrou em luta corporal com o velhinho e ambos chegaram a rolar no chão. ?O senhor teria ameaçado a funcionária com uma faca, mas isso não justifica, pois não deveria estar ao alcance dele um objeto como esse?, disse Landiva, lembrando que Noeli é voluntária, assim como outras cinco mulheres que trabalham sem registro profissional. Apenas três das funcionárias tem carteira assinada.
Ao averiguar a denúncia, a presidente do conselho presenciou uma cena constrangedora. ?Um dos internos evacuou e as funcionárias tiraram a roupa dele na frente dos demais e o limparam ali mesmo?, contou Landiva. Segundo ela, há várias denúncias, principalmente em relação à falta de higiene e alimentação precária dos abrigados. Um documento com relato destes fatos foi encaminhado ao Ministério Público no ano passado, mas até agora nenhuma providencia foi tomada.
O lugar, que serviria para abrigar pessoas com, no mínimo, 60 anos, também atende pessoas mais novas com problemas mentais e que não possuem documentos de identificação. Alcoólatras e doentes que necessitariam de atendimento especializado vivem misturados aos idosos.
Policiais da delegacia de Araucária foram até o local, onde recolheram vários cartões de benefício que a proprietária recebia em nome dos idosos. Na inspeção feita, também encontraram fumo junto aos medicamentos e uma garrafa de catuaba.
A proprietária e a agressora foram levadas à delegacia, onde deverão responder por maus-tratos.
Em São José, depósito de gente
No início da semana, uma ação conjunta da Guarda Municipal, polícias Civil e Militar e outros órgãos de saúde de São José dos Pinhais, resultou na prisão de Beabir Faria, 57 anos, da filha dela, Andréa Estevã Faria, 24, e do irmão, Jamir Francisco Faria, 61, proprietários do Asilo Tia Leoni. Eles foram presos depois de denúncia feita ao Ministério Público, dando conta que na instituição por eles administrada funcionava um ?depósito de gente? e que os internos eram maltratados. O trio foi autuado em flagrante por maus-tratos, cárcere privado e tortura.
O asilo funcionava em uma casa de alto padrão na Rua Charles Darwin, no Jardim Aristocrata, em São José dos Pinhais e mantinha 63 internos. Entre velhinhos e doentes mentais, havia inclusive uma criança de 8 anos, vivendo em condições desumanas. A criança, adotada de forma irregular pelos dono da casa, foi entregue ao Conselho Tutelar do município.
Na tarde de quinta-feira, o juiz Eduardo Lino Bueno Fagundes Júnior, da 2.ª Vara Criminal de São José dos Pinhais, indeferiu o pedido de liberdade provisória, feito pelo defensor dos acusados.