Um chicote com tiras de couro e ameaças de morte eram as armas com que Carlos Reis dos Santos, 34 anos, mantinha o silêncio da filha adolescente, vítima de violência doméstica e tortura.
O martírio da garota só foi descoberto na manhã de ontem, durante a investigação da morte de Luciano Faria Machado, 18, namorado da garota. Ele foi achado morto com vários tiros, na manhã de quarta-feira, na zona rural de Colombo.
Depois de o corpo de Luciano ter sido encontrado na esquina das Ruas Antônio Chemim e Bortolo Cavassim, na localidade rural de Itajacuru, policiais da delegacia de Colombo foram até a casa onde ele morava. Os familiares disseram que, por volta de 18h de terça-feira, ouviram uma voz feminina, chamando-o no portão.
“Ele saiu de chinelo e sem camisa, somente para ver quem era. No carro estavam Carlos e a filha. O rapaz entrou no veículo e, sob a mira de um revólver, foi levado até o local do assassinato”, explicou o delegado Hamilton da Paz.
Fábio Alexandre |
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Ele usava chicote para bater em adolescente. |
A garota estava no banco traseiro e viu o pai atirar cinco vezes nas costas do namorado. “No interrogatório ele ainda contou que, antes de saírem do local, passou com o carro em cima das pernas de Luciano, para ter certeza que ele estava morto”, completou o delegado.
Seqüestro
Como os familiares de Luciano não viram com quem ele havia saído, suspeitaram que a voz era da namorada. “Fomos até a casa dela e descobrimos que o pai, sujeito violento, discordava do namoro e havia saído com a filha na noite anterior”, contou o delegado.
Com as informações da família, os investigadores chegaram até uma construção, na Rua Jacob Mehl, na Vila Atuba, onde Carlos trabalhava como pedreiro. “Mesmo com o revólver na cinta, ele não reagiu. A garota estava trancada em um quarto e tinha marcas de tortura pelo corpo”, explicou o delegado.
Segundo ele, na obra, foram apreendidos um revólver importado calibre 38, carregado, e mais cinco munições, uma arma artesanal do mesmo calibre, uma faca e o chicote, que ele usava para açoitar a menina.
Carlos foi autuado por porte de armas, contrabando, pois o revólver é importado, cárcere privado e terá a prisão preventiva decretada por conta do homicídio. “Ele deve ser transferido com urgência para o Centro de Triagem, pois queria se matar. Tiramos dele os cadarços do sapato e o cinto.” A garota foi entregue ao Conselho Tutelar de Piraquara e será submetida a exames no Instituto Médico-Legal.
Versão não convence
De baixa estatura e com uma aparência frágil, o pedreiro negou o crime e se disse vítima da paixão da filha. Ele alegou que matou o rapaz em legítima defesa.
“A gente só quer o melhor para os filhos. Fui atrás dele para entregá-la, queria que ele ficasse com ela. Mas ele disse que ia me matar, por isso atirei antes”, contou Carlos.
O delegado explicou que a versão de Carlos não tem fundamento. “Se fosse em legítima defesa, ele não atiraria pelas costas, muito menos passaria com o carro em cima do rapaz”, completou Hamilton. A esposa do acusado disse à polícia que o marido, pai de outras três crianças, era covarde e batia ferozmente nos filhos.