Mais uma denúncia contra o Hospital Mater Dei, situado na Rua Conselheiro Laurindo, foi levada ao Ministério Público, esta semana. O órgão já investiga outros três procedimentos relativos a erros médicos ocorridos na mesma instituição. Desta vez, um atendente de lanchonete relatou o sofrimento que sua esposa passou durante o parto que resultou na morte dela e deixou seqüelas irreparáveis na filha do casal, hoje com um ano.
Segundo o relato de Ismael Bueno, 36 anos, à Promotoria de Investigação Criminal (PIC), no sétimo mês da gravidez de sua mulher, Roseli Bonfim, 39, foi verificado através de uma ecografia, que o bebê não se movia porque estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço. O médico Odilon Dimas de Barros Filho, que atendia no Posto de Saúde de Almirante Tamandaré, recomendou a internação e alertou o casal da necessidade de se fazer cesariana. Ao recorrer ao Mater Dei para internar a esposa, Ismael teve o pedido negado.
Morte no parto
No dia 10 de outubro de 2004, aos nove meses de gravidez, Roseli entrou em trabalho de parto e começou a perder muito líquido. O marido a levou ao Hospital Mater Dei e, por volta das 16h10, ela foi internada, às pressas. A ele foi recomendado que voltasse para casa, uma vez que não poderia ficar no hospital. Segundo ele, três horas depois voltou a ligar à maternidade para saber do estado de saúde da esposa e foi informado que ela ainda estava em trabalho de parto. Ele telefonou novamente, por volta da 1h30 da madrugada, e obteve a mesma resposta. Porém, às 2h50 foram os funcionários do hospital que entraram em contato com ele. ?Me ligaram dizendo que era para ir urgente ao hospital, porque minha esposa teve complicação no parto. Como tive que pegar ônibus, só cheguei às 4h30. Ainda me deixaram esperando e só fui atendido às 5h, quando soube que minha mulher tinha morrido por causa de uma parada respiratória?, contou ele.
Segundo Ismael, a médica chamada Íris disse que a equipe tentou transferir Roseli para a UTI, mas não havia vagas. ?Perguntei para ela se o parto tinha sido normal e ela disse que sim. Entretanto, o Dr. Odilon já tinha dito que não poderia ser normal em razão da posição do bebê. A médica perguntou se eu queria ver primeiro minha esposa ou minha filha, já adiantando que a garotinha não tinha muitas chances de sobreviver porque estava muito mal?, contou.
Hematomas e cesariana
Depois de ver a filha, Ismael foi até o quarto onde estava sua mulher. ?Ao descobrir minha esposa ela estava sem roupa e percebi que havia um corte abaixo do umbigo no tamanho de aproximadamente cinco dedos. Havia também muitos hematomas na parte interna das coxas e nos lábios marcas de dentes, como se ela tivesse se mordido?, contou. Odilon, o médico de sua esposa, confirmou que realmente foi parto normal e que não sabia o que tinha acontecido. Ao procurar o IML, Ismael afirma ter ouvido que ?só atendem morte violenta e a indigentes?. Ele foi orientado pelo médico a buscar uma perícia particular, que custaria cerca de R$ 3 mil, mas não o fez por falta de recursos.
Além de sofrer quanto a dúvida do motivo da morte de Roseli, Ismael luta agora pela saúde da filha, que atualmente está internada no Hospital do Trabalhador. ?Minha filha ficou 60 dias internada assim que nasceu, dos quais 20 em coma. Ela ficou deficiente mental e está em tratamento até hoje. Os médicos que cuidam dela me disseram que mesmo antes de nascer tinha má formação no cérebro, mas ninguém explicou se isso podia ter sido constatado antes do parto?, finalizou Ismael, que conta com a ajuda de uma amiga de sua esposa para cuidar de suas outras filhas, de 6 e 5 anos.