Na corregedoria

Pai de jovem morto contesta versão de confronto da PM

O comerciante Alfredo Périco, 43 anos, pai de Brayan Carlos Périco, 18 anos, morto por policiais militares na sexta-feira, com o amigo Rodrigo José Santi Botton, 19, no São Braz, acredita que a morte do filho não foi em confronto, como diz a PM, e sim execução. Além de conversar com testemunhas, ele analisou informações contidas no boletim de ocorrência da própria PM, que mostra que os dois rapazes mortos sequer atiraram contra os policiais. O pai diz que a execução está relacionada a outro caso, que ocorreu com Brayan em 2012, envolvendo policiais militares, e que ele denunciou à Corregedoria da PM.

Segundo nota oficial da PM à imprensa, um dos policiais envolvidos no confronto, o soldado Geraldo Mário da Conceição, havia feito várias queixas à Agência Central de Inteligência (ACI), de que estava recebendo ameaças de morte, relacionadas ao seu trabalho. A PM explica que quando um policial faz uma queixa como esta, passa a ser monitorado por policiais a paisana, sem saber disto, por dois motivos: para verificar a veracidade das ameaças e averiguar possíveis desvios de conduta do policial.

Oficial

Na versão oficial, enquanto o soldado, dentro de seu carro, esperava uma pessoa (supostamente a namorada) em frente a uma residência da Rua Clara Fila, os dois jovens se aproximaram armados. Os policiais à paisana reagiram e mataram os jovens a tiros. No BO da PM consta que o tenente Adilson Martendal de Oliveira Santos (que estava à paisana) e o próprio soldado Geraldo, de dentro do carro, deram juntos 11 tiros contra as vítimas. Os outros dois policiais à paisana não atiraram.De acordo o auto de apreensão, foram recolhidos com Brayan um revólver calibre 38 e uma pistola calibre 765, armas das quais nenhum tiro foi disparado.

O descritivo da ocorrência também não menciona tiros dos jovens contra os policiais. “Confronto é quando duas partes trocam tiros. E segundo o próprio BO, nenhum dos meninos atirou. Essas armas foram colocadas nas mãos deles. Eu conversei com vizinhos, que estão com medo e não querem dar seu depoimento oficial à polícia. Alguns viram tudo e dizem que não foi confronto, foi execução porque os policiais já chegaram atirando. O Brayan tinha acabado de sair de casa e estava caminhando até a casa de um amigo, com quem combinou de sair à noite”, disse o pai.

Inquérito

Segundo a delegada Márcia Rejane Marcondes, do 12.º Distrito Policial (Santa Felicidade), que preside o inquérito sobre este crime, as armas (dos jovens e dos policiais) estão no Instituto de Criminalística (IC) para perícia. Ela preferiu ainda não se pronunciar sobre o caso, explicando que as investigações acabaram de iniciar. Ela já ouviu os pais de Brayan na delegacia, mas ainda está em busca de outras oitivas, como os pais de Rodrigo, dos policiais envolvidos no suposto confronto e de outras pessoas relacionadas aos jovens. Também devem colaborar com as investigações laudos do IC e do IML, que demoram dias para ficarem prontos e podem dar respostas aos questionamentos de Alfredo.

Invasão

O comerciante relata que os policiais invadiram a casa de Brayan e deram a notícia da morte à mãe da forma mais estúpida possível. Segundo Alfredo, os policiais, com armas em punho, foram entrando na casa, sem ter mandado ou sequer pedir autorização e foram revirando tudo. Diziam que estavam em busca de armas e questionaram até uma escada que estava no meio do caminho, sendo usada na pintura da casa.

Em dado momento, os policiais pediram à mãe uma foto do filho. Sem entender ainda o que tinha acontecido, quando ela mostrou a foto no celular, um dos policiais teria dito: “É esse vagabundo mesmo que agente matou ali embaixo numa intensa troca de tiros”. A mãe, que até então não sabia que o filho estava morto, ficou chocada. Além disto, ainda invadiram o carro da vítima, um Astra que Brayan exibe com or,gulho no Facebook, e quebraram várias partes do carro.

Represália

Alfredo disse que ontem ficou cinco horas dentro da Corregedoria da PM, junto com a mãe de Brayan, para denunciar a execução e prestar depoimento. Ele afirma com propriedade que o crime tem a ver com outro fato ocorrido em 26 de agosto de 2012. Orientado por um advogado, ele não quis dizer o que houve naquela época. Porém antes de receber a orientação, declarou ao telejornal Paraná TV, 1.ª edição, que neste dia policiais invadiram a casa de Brayan, dizendo que ele estava numa rua do São Braz atirando pedras em carros.

Então um dos policiais deu três socos no rapaz, que ficou com os dentes quebrados e precisou de tratamento dentário.No dia seguinte, Alfredo denunciou a invasão e agressão à Corregedoria da PM, mas até hoje não foi chamado para depor e acredita que as investigações nunca iniciaram.

Oficial

Diante da nova reclamação de Alfredo, a PM se pronunciou dizendo que abriu um Inquérito Policial Militar (IPM), que já tem o número 338/14, para apurar os fatos. O Ministério Público também será chamado para investigação conjunta. O que a PM não sabia era sobre a invasão à casa de Bryan, logo após o suposto confronto, e afirmou que deverá averiguar a situação na Seção de Assuntos Internos.

Já sobre a reclamação de 2012, a PM diz que o termo de declaração nº 105/2012, de 27 de agosto de 2012, prestado pelo pai de Brayan, foi encaminhado no dia seguinte ao Comandante do 1º CRPM (responsável pelo policiamento da capital), para conhecimento e medidas cabíveis. Mas não informou o que este comandante fez do assunto.

Ao contrário de Rodrigo, que saiu da cadeia há quatro meses, Brayan não tinha antecedentes criminais. Alfredo afirma que era um rapaz muito bom e trabalhador.

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