As marcas feitas por varas, nas costas de um menino de 9 anos, foram a gota de água para a mãe da criança, de 28 anos, e seus vizinhos romperem o silêncio. Na tarde de sexta-feira, o garoto foi espancado pelo padrasto, conforme relataram. Até então, todos se calavam diante das freqüentes surras que ele dava no enteado, nos irmãos dele, e na mulher. A queixa da extrema violência foi registrada no 10.º Distrito Policial (Sítio Cercado).
O motivo da última surra foi o garoto não estar em casa quando Claudiomar chegou. Com as férias, o menino estava ficando por conta dos vizinhos, já que seus dois irmãos, de 4 e 3 anos, ficam na creche e os pais trabalham – ela como operadora de telemarketing e ele como motoboy. O enteado atendeu, talvez tardiamente, aos chamados do padrasto na rua tranqüila. "Você estava se escondendo de mim?", teria dito, quando o menino apareceu de trás de uma casa. Mesmo diante da negativa da resposta, o homem levou a criança para dentro da residência e passou a espancá-la com varas, uma dela com nódulos de espinho.
Em seguida, ele subiu em sua moto e abandonou o enteado, ferido. Segundo comentaram os vizinhos, eles conseguiram ajuda de uma enfermeira de um posto de saúde próximo, já que outros órgãos contatados não chegaram a tempo ou se recusaram a atender a ocorrência. Enquanto a mãe chegava e ia à delegacia registrar a queixa, o padrasto voltou, pulou a janela, pois estava sem as chaves da casa, e, antes de sair novamente, deixou um bilhete. No papel sobre a mesa, pedia desculpas à amásia, pedindo também para ela não tomar providências e que ambos conversariam mais tarde. Terminou com "um beijo, desculpe se exagerei".
Outras
Embora ninguém quisesse se intrometer na vida do casal, as marcas na criança de 9 anos, fizeram com que todos contassem o que ouviram e viram durante muito tempo. "No domingo, ele deu socos no menino, segurando em seus cabelos. Também jogou o garoto duas vezes dentro da água, a chute, e atirou uma bola de barro em suas costas", relatou um vizinho, 32 anos. A família tinha ido a um pesque-pague próximo. "Todos ouvíamos as surras, praticamente diárias", completou, junto com vários outros vizinhos que foram apoiar a atitude da mulher. "Porque ele queria tudo perfeito", contou a vítima, sobre o motivo de ser freqüentemente espancado.
A mulher teve dois filhos com o agressor, nos sete anos que moram juntos. Para o casamento, ela levou o filho de 9 anos e outro, hoje com 12 anos. Este, não mora mais com ela, pois perdeu a guarda da criança devido às surras do amásio. "Ele sempre me ameaçou de morte com uma faca. Por medo, nunca denunciei", disse. O limite do medo foi rompido pela brutalidade estampada na pele de seu filho e pelo apoio que recebeu de vizinhos e amigos.
A violência começou desde o início do relacionamento e não se restringia aos enteados, a mulher e seus dois filhos também apanhavam. "Qualquer coisa fora do lugar era motivo. Ele dizia que só deixaria de bater se a gente obedecesse ele. Tinha que ser tudo do jeito que ele queria", desabafou a mulher.
Na segunda-feira, ela levará a criança ao IML para exame de corpo de delito e dará continuidade ao processo criminal.