O pacto de morte, feito por dois homossexuais e executado no final da tarde de ontem, não deu certo e teve como única vítima um garotinho de 1 anos e 11 meses, que foi obrigado a beber um coquetel de veneno e remédios. Os dois homens que queriam se matar, Júlio César Santana, 28 anos, e Márcio Antônio de Rezende, 35, foram encontrados desacordados.

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Socorridos e hospitalizados, passaram por lavagem estomacal e sobreviveram. Júlio era pai do garotinho Andrius César Bordenoski Santana, fruto de um casamento rompido recentemente, para que pudesse viver sua aventura amorosa com Márcio. Ambos, segundo cartas que deixaram, não aguentavam mais as ameaças da ex-sogra de Júlio, estavam deprimidos e contaminados por HIV.

Não se sabe há quanto tempo a dupla vinha planejando o duplo suicídio e o assassinato de Andrius. Porém, os dois conseguiram preparar todo o cenário em que pretendiam ser encontrados sem vida. Compraram remédios diversos e inseticida. Bateram tudo no liquidificador e beberam a mistura no próprio copo do aparelho, para depois deitarem-se na cama de casal e esperar a morte.

Deixaram vários bilhetes explicando o motivo do pacto e pediram a uma amiga, moradora na Lapa, que fosse visitá-los na noite de ontem. Supunham que ela já os encontraria sem vida. A jovem, ao chegar na casa, na Rua Machado de Assis, Jardim Veneza, em Fazenda Rio Grande, estranhou quando bateu e ninguém abriu a porta.

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Preocupada, pois estava sendo esperada, chamou um chaveiro, que rompeu a fechadura. Ao entrar, encontrou os três na cama, mas só o garotinho estava morto. Júlio e Márcio foram levados para o Pronto Socorro 24 Horas de Fazenda Rio Grande, por volta das 19h20. De acordo com enfermeiras, estavam inconscientes.

Passaram por lavagem estomacal e permaneceram dormindo, em consequencia dos remédios que tinham ingerido. Tão logo se recuperem, deverão ser levados para a delegacia do município, para autuação pelo crime de homicídio, que contará com o agravante de a vítima ser criança e não ter tido nenhuma chance de defesa.

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Casa

Os policiais militares Pezzoto e Maurílio, do 17.º Batalhão, foram os primeiros a chegar no local, acionados pela amiga dos rapazes. Eles informaram que Júlio havia se separado da mulher para viver com Márcio e, nos fins de semana levava Andrius para sua nova casa.

A ex-sogra dele, identificada como Cláudia nos bilhetes que ele deixou, descobriu sua homossexualidade e, inconformada com o fato, estaria fazendo ameaças, principalmente de tirar seu direito de ficar com o filho. Numa das cartas Júlio diz que até apanhou a mando dela e que agora iria embora junto com Márcio e levaria também o menino.

As cartas manuscritas foram deixadas na mesa da cozinha, junto com fotografias e documentos que, segundo Júlio, confirmariam as ameaças da ex-sogra. Júlio trabalha numa livraria, em Curitiba, e seu amigo é funcionário público de um município da região metropolitana, conforme informaram os vizinhos.

Eles não se conformavam com o que havia acontecido. Comentaram que Márcio era muito pacato, uma “pessoa do bem” e que sempre era visto passeando pelo bairro em companhia de Júlio. Nos fins de semana era normal Júlio e o filho ficarem na casa com Márcio.

Amiga

A jovem que os encontrou desacordados não quis falar com a imprensa. Disse que só conversaria com a polícia e com advogados. Ela estava acompanhada de uma tia, que se dispôs a falar rapidamente sobre o caso, contando que Márcio procurou a sobrinha na quinta-feira passada e convidou-a para ir visitá-lo no domingo. Possivelmente desde então já se preparavam para pôr em prática o pacto fatal.

A mãe de Júlio esteve no local, depois que o corpo do neto já havia sido levado pelo Instituto Médico-Legal (IML). Ela disse que o casamento do filho tinha sido muito conturbado, mas não sabia que ele tinha relaçõe,s com outro homem. Contou que não imaginava que eles cometeriam uma loucura como a de ontem.

Anderson Tozato
Márcio se dizia deprimido e também deixou foto sua sobre a mesa.

Cartas na mesa tentam explicar a loucura

Fábio Schatzmann e Mara Cornelsen

Supondo que seriam encontrados mortos, Márcio e Júlio deixaram várias cartas e bilhetes para explicar o motivo do extremado gesto, dando também a entender que mataram Andrius como forma de vingança pelo que vinham sofrendo. Em um dos bilhetes os dois pedem para ser enterrados na mesma sepultura, junto com a criança. Em outro, Márcio diz que tem HIV e que sofre com o abandono por parte da família e com o preconceito.

Júlio também escreveu para a sogra, culpando-a pelo seu sofrimento, sua separação e creditando a ação às ameaças que vinha sofrendo de perder a guarda do filho. Nela escreve que tem provas contra a sogra e que as deixou junto com os demais bilhetes. E ainda deixou uma carta de despedida para a mãe, explicando porque firmaram o pacto de morte.

As cartas pareciam ter sido escritas com pressa. Estavam fora de ordem e colocadas próximo às fotos dos dois e do menino.