Números da violência em Curitiba são uma incógnita

Eliana (nome fictício) foi assaltada em plena luz do dia quando ia levar o filho de 11 anos para a escola. Ela foi abordada num sinaleiro na esquina das ruas Dr. Pedrosa e 24 de Maio, no centro de Curitiba. Como estava sem dinheiro na carteira, o assaltante levou apenas o telefone celular. E o filho de Eliana, que estava de aniversário naquele dia, só ficou mais traumatizado com a violência que assola a cidade. No ano passado, ele já havia sido vítima de um seqüestro-relâmpago, quando ia encontrar com o pai em frente ao prédio onde mora, no bairro do Água Verde.

Situações como essas e ainda mais graves acontecem diariamente em Curitiba e região. Mas não é possível quantificar nem mapear a violência porque simplesmente não são fornecidos os índices de criminalidade na cidade de Curitiba e arredores. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não divulga nenhum número desde setembro do ano passado e se recusa a repassar um levantamento sobre a criminalidade em Curitiba.

A Polícia Militar (PM), que também tem dados estatísticos, se nega a fornecer os números. De acordo com o tenente-coronel Mauro Pirolo, chefe da comunicação social da PM, a polícia prefere manter em sigilo as estatísticas para não estigmatizar determinadas regiões da cidade. "Não podemos dizer que um bairro ou uma região é mais perigosa do que a outra. Isso prejudicaria essas regiões", afirma.

Quem já foi vítima da criminalidade não concorda com esse posicionamento. A advogada Regina (nome fictício) teve a casa invadida por três homens armados em dezembro passado, no bairro do Pilarzinho. Ela conta que ficou na mira dos revólveres por uma hora e meia, enquanto os bandidos reviravam a casa. "Eles levaram um patrimônio que levei 25 anos para conseguir", conta.

Mapeamento

Mesmo sem ter em mãos os dados oficiais, é possível mapear o problema da criminalidade em Curitiba. Através de um levantamento de reportagens publicadas este ano pelos jornais O Estado e Tribuna do Paraná, identifica-se, por exemplo, os bairros que rodeiam o centro da cidade – Água Verde, Batel, Juvevê, Cabral, Mercês – como os principais alvos de assalto e furto de veículos. Os carros são furtados em Curitiba e "desovados" na RMC.

Arrombamento em caixas eletrônicos

Depois de meses sem divulgar qualquer levantamento de crimes ocorridos em Curitiba e RMC, a Secretaria de Estado da Segurança Pública anunciou durante a semana que não foi registrado qualquer assalto a banco este ano. No mesmo período do ano passado, de acordo com a secretaria, foram registrados oito assaltos desse tipo.

No entanto, não entraram na conta da Sesp os arrombamentos a caixas eletrônicos. De acordo com Rubens Recalcatti, delegado da Furtos e Roubos, desde o início do ano foram registrados cinco casos de furto e roubos a caixas eletrônicos – um no Ahu, um no Novo Mundo, um em Quatro Barras e dois em Fazenda Rio Grande. Na semana passada, dois PMs acabaram feridos depois de impedirem que uma quadrilha roubasse o caixa eletrônico de uma agência do Banco do Brasil, no Novo Mundo.

A Sesp explica que a diminuição dos assaltos a bancos ocorreu devido às diversas operações e patrulhamentos feitos pela polícia. No entanto, outros tipos de roubos aumentaram, mas os números não são tornados públicos. Com o forte sistema de segurança dos bancos e pouco dinheiro nas agências, os caixas eletrônicos passam a ser alvo mais almejado pelos bandidos.

O mesmo acontece nos assaltos a residências e condomínios de luxo. Certos de que vão encontrar objetos de valor, os criminosos procuram as regiões mais nobres da cidade para praticarem seus delitos.

Recalcatti afirma que arrombamento de caixas são feitos por quadrilhas especializadas e não por simples assaltantes. "Ano passado conseguimos prender uma quadrilha com oito integrantes e conseguimos quase zerar os casos de furto e roubo a caixas eletrônicos. Agora outra quadrilha está atuando e nós estamos trabalhando para prender os responsáveis pelos crimes. Nem sempre é fácil, pelo contrário. O trabalho é árduo, mas não vamos descansar sem prestar segurança para a população", disse. (SR)

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