O novo diretor do Instituto Médico Legal, médico Porcídio D’Otaviano de Castro Vilani, confirmou ontem que a situação do órgão é preocupante. Embora não quisesse comentar a respeito da intervenção ocorrida há três anos, ele criticou a escolha de um militar para administrar o instituto.
“Infelizmente não podemos negar os problemas que acontecem aqui e era previsível que ficasse desse jeito porque esteve nas mãos de pessoas que, embora tivessem boa vontade para trabalhar, não eram técnicos. Áreas importantes foram cuidadas por pessoas sem conhecimento de causa e muitos episódios aconteceram por causa disso”, declarou Vilani.
Para o diretor, o trabalho de “remontagem” do IML terá três setores como prioridades. Uma delas se refere à falta de estrutura do necrotério, com corpos amontoados na geladeira, conforme foi mostrado com exclusividade pelo Paraná Online.
O resultado da desorganização foi o recente sumiço de um cadáver, provavelmente enterrado por engano como indigente. “Sei que tem acontecido desaparecimento de corpos e muitas reclamações de famílias. Corpo não pode sumir, corpo não sai andando”, disse.
Mais uma vez, criticou a administração anterior. “Não adianta colocar alguém que não seja da área para cuidar do necrotério. O IML não é um hospital, não é puramente administrativo”, frisou.
Outra preocupação de Vilani são as viaturas sucateadas, que não têm condições de rodar a capital e os municípios da região metropolitana. Hoje são duas à disposição do órgão – uma com o limpador de parabrisa quebrado e outra “emprestada” de Londrina.
O diretor falou ainda a respeito do cromatógrafo, aparelho usado para detectar substância tóxica no organismo. A máquina está estragada desde novembro e, por causa disso, já são mais de 1,5 mil exames acumulados.
Pessoal
De acordo com Vilani, o número de médicos legistas é muito abaixo do ideal. Hoje são 73 e ele acredita que seriam necessários cerca de 160. “Além disso, faltam motoristas, auxiliares de necropsia, secretárias e assim por diante. Foram feitos investimentos nos últimos anos, mas não suficientes”, disse.
Mesmo diante de tantas dificuldades, o diretor acredita que poderá melhorar as condições do IML. “A Secretaria de Segurança Pública tem oferecido apoio irrestrito e inconteste. O trabalho será grande, mas precisamos compreender que as coisas não mudarão da noite para o dia”, finalizou.
Só “mutirão” pra dar jeito
Márcio Barros
Depois da denúncia sobre as péssimas condições de funcionamento do Instituto Médico-Legal do Paraná, publicada ontem no Paraná Online, várias pessoas se manifestaram, assegurando que o desinteresse dos governos anteriores levaram o órgão ao caos, num flagrante desrespeito aos cidadãos, principalmente num momento de tristeza e dor que envolve a morte.
Um funcionário que não quis se identificar, para não sofrer represálias, decidiu falar à reportagem, sobre o que chamou de “cenário tétrico” que tem que enfrentar durante os seus plantões e revelar o drama que a maioria viveu, no período em que o órgão sofria intervenção e o administrador era um coronel reformado da Polícia Militar.
No desabafo, o funcionário revelou que desde o início da intervenção, que aconteceu em fevereiro de 2008, muitas coisas mudaram. “Todos os funcionários foram tratados como bandidos, infratores que precisavam passar por uma correção. Realmente havia c,oisas erradas, mas não eram todos que estavam praticando atos ilegais”, contou, referindo-se principalmente à venda de cadáveres para funerárias.
O cerceamento do trabalho da imprensa, que ficou impedida de entrar e consultar os livros que registram a entrada e saída de corpos, também é alvo de crítica do funcionário.
“Quem perdeu foi o cidadão. Quando um corpo não identificado chega no IML, é preciso avisar a comunidade, informar as características para que a família apareça. Estávamos impedidos até de dar informações por telefone. As pessoas que tinham parentes desaparecidos, eram obrigadas a ir diariamente no IML para saber se alguém com as características havia sido encontrado”.
Colaboração
O sucateamento do IML é um problema antigo e ganhou proporções insuportáveis. “Estamos de acordo com a nova administração. Queremos apoiá-la, e principalmente colocar a casa em ordem, por que agora colocaram uma pessoa que conhece a realidade do IML para comandar a instituição”, disse, referindo-se ao atual diretor nomeado, médico Porcídio de Castro Vilani.
Com relação ao número excessivo de corpos, amontoados em uma câmara fria, o funcionário disse que somente um mutirão poderá resolver o problema. “A maioria dos corpos já pode passar por liberação judicial e o mais rápido possível serem sepultados. Mas isso vai levar pelo menos uns três meses de trabalho extra”, explicou.
Para que este mutirão aconteça, será necessário o esforço de todos os funcionários, menos os que estiverem em licença médica, coisa comum por trabalharem em local insalubre e sem condições adequadas.