Quase seis anos depois de assassinar sua mulher, Luciane Ribeiro de Paula, 18 anos, em Santiago do Chile, o professor Aristóteles Kochinski Smolarek Júnior, 28 anos, sentou no banco dos réus do Tribunal do Júri, às 9h30 de ontem, e confessou a autoria do crime. A previsão era que de o julgamento seria encerrado por volta da meia-noite.
A acusação já esperava que Smolarek fizesse a confissão (conforme foi divulgado por exclusividade pela Tribuna), alegando que desferiu um golpe com taco de beisebol na cabeça da vítima, após uma discussão. Com frieza, ele disse que a vítima arranhou seu rosto. Por isso apanhou o taco, que estava no banco de trás do veículo que haviam alugado para passear por Santiago e atingiu-a na cabeça. A briga teria continuado fora do carro, quando a jovem caiu num precipício de 50 metros. Ele teria procurado autoridades chilenas, que recomendaram que ele voltasse ao Brasil. Quanto ao seguro viagem, no valor de 250 mil dólares, que Aristóteles havia feito antes do embarque – no qual ele e a filha de Luciane eram beneficiários -, Smolarek disse que sempre fez seguros deste tipo e que após a morte da mulher nunca tentou receber o prêmio. Ele alegou que um advogado teria procurado a seguradora, mas sem sua autorização. O réu ainda disse que abriria mão de receber a quantia do prêmio do seguro. “Esta é a pessoa mais fria que já vi nestes 36 anos de profissão”, comentou o advogado Dálio Zippin, assistente de acusação.
Smolarek ainda justificou que não prestou socorro à vítima porque ela teria caído em um precipício de 50 metros. Na seqüência, a acusação pediu a exibição de uma reportagem de uma emissora de TV chilena, que mostra que Luciane morreu na beira da estrada e foi jogada no matagal, para ter o cadáver ocultado.
Testemunhas
Após o interrogatório, foram lidas 300 páginas do processo. Somente por volta das 15h30 começaram a ser ouvidas as testemunhas, três de acusação e uma de defesa. Dois vizinhos de Smolarek foram ouvidos e relataram que ele era uma pessoa violenta. Um deles disse que certa vez pediu para que Smolarek abaixasse o volume do rádio. Ao invés disso Smolarek teria aumentado o volume. No dia seguinte, o carro do vizinho estava riscado. A testemunha ainda falou que Smolarek agrediu verbalmente Luciane e que, certa vez, presenciou ele cuspir na jovem. O outro vizinho disse que era amigo do professor e que ele tinha atitudes estranhas, como jogar cal na lataria de carros na garagem. O vizinho contou que Smolarek teria tentado aplicar golpes em duas locadoras de veículos. A testemunha disse ainda que, após a morte de Luciane, Smolarek lhe mostrou uma fita de vídeo, com a gravação de uma matéria jornalística, referente a um seguro de R$ 500 mil. Depois informou ao vizinho que estava rico.
A terceira testemunha a ser ouvida foi a mãe de Luciane, Maria Judite Ribeiro dos Santos de Paula. Ela falou que a filha trabalhava em uma lanchonete e sobre a vida dos dois filhos que Luciane teve, antes de casar-se com Smolarek. Segundo a mulher, a jovem estava grávida quando viajou para o Chile.
Defesa
O advogado de defesa, Haroldo Cézar Náter, fez várias perguntas para Maria Judite na intenção de que ela falasse que a filha era garota de programa, mas a mulher não confirmou. “Ele achava que a Vanessa (filha de Luciane) era sua, tanto que a registrou. Durante a briga no Chile, ela disse que a menina não era filha dele. Smolarek fez o que fez tomado pela emoção”, justificou o defensor.
A última testemunha a ser ouvida foi um vizinho e amigo da família de Smolarek. O advogado Dálio Zippin Filho fez perguntas à testemunha, buscando saber se ele tinha conhecimento de que Smolarek e sua mãe Leci haviam falsificado documentos para burlar a Justiça. O advogado de defesa pediu para o juiz Rogério Etzel não permitir as perguntas. Etzel rebateu dizendo que ele também tinha feito perguntas não pertinentes ao processo às testemunhas.
A acusação e a defesa começaram a defender suas teses por volta das 18h. O advogado Dálio Zippin lembrou que Smolarek responde a outros crimes, além dos cinco pelos quais está sendo julgado – como a falsificação de um habeas corpus – e que era suspeito de ter matado uma inquilina de sua avó. O motivo era que a mulher estava com os aluguéis atrasados. “Não sei como ficou esse caso. Mas a mulher levou dois tiros na cabeça”, salientou o defensor, que pediu aos jurados que condenassem Smolarek a uma pena superior a 30 anos de reclusão.
Haroldo Náter alegou que seu cliente não premeditou o crime e que não tinha planos de dar um golpe no seguro. Ele solicitou que os jurados condenassem Smolarek, mas entendendo que ele praticou um homicídio privilegiado, movido sob violenta emoção. “É um réu confesso e deve ser condenado na medida de sua culpabilidade”, acrescentou.
Mães pedem justiça. cada uma a seu modo
A mãe de Luciane, Maria Judite Ribeiro de Paula, lembrou que a decisão dos sete jurados, sendo seis homens e uma mulher, não irá trazer sua filha de volta. “Só quero que ele pague pelo que fez”, afirmou. Já a mãe do réu, Leci Smolarek, não quis dar entrevistas à Tribuna, mas falou para uma emissora de rádio que seu filho já ficou preso durante três anos e durante esse tempo teria sido punido pelo crime. “Como mãe entendo a situação dela (Maria Judite), mas quero que o jurados o condenem com uma pena pequena para que possa voltar à vida dele. Não quero dizer que meu filho é santo, mas três anos preso é duro. Pagar uma cadeia não é fácil”, disse Leci, que também chegou a ser presa sob a acusação de ajudar o filho a falsificar um habeas corpus, mas que agora está respondendo o processo em liberdade. Com o documento falso, o professor pretendia fugir da cadeia antes de ser levado a julgamento. Até mesmo a avó dele está presa, envolvida pelas tramas do neto.