O motorista de ônibus que matou um assaltante semana passada, no Tatuquara, apresentou-se segunda-feira à polícia. Surpreendentemente, João Antunes de Oliveira, 54 anos, é um crítico desse tipo de reação e disse que só atirou em Nílson Nascimento, 24, porque achou que ia morrer. Enquanto aguarda o desenrolar do inquérito, ele vai ganhar férias e depois mudar de linha.
“Não sou herói coisa nenhuma”, apressou-se em dizer o motorista, sobre o comentário de alguns companheiros. O assalto cometido às 7h do último dia 21, dentro da linha Vila Palmeira, foi o sétimo em seus oito anos como funcionário da Viação Cidade Sorriso. Mas nem eram os roubos em serviço que o faziam andar armado. “Levo o revólver quando tenho que caminhar 20 minutos na volta para casa. Naquele dia, coincidiu”, disse o trabalhador.
Ele conta que três assaltantes atacaram o ônibus na última quinta-feira, mas apenas Nílson entrou. João recomendou ao cobrador que apressasse a entrega do dinheiro, o que teria irritado o ladrão. “Ele achou que eu tinha armado alguma coisa e disse que ia meter fogo na minha cara. Pegou o revólver já engatilhando. No desespero, puxei o meu da cinta e atirei”, relatou o motorista.
Medo
Nílson baixou a mão que segurava a arma, pôs a outra do lado esquerdo do peito e desceu cambaleando os degraus do ônibus. Cerca de 50 passageiros presenciaram a cena sangrenta. O assaltante morreu com um tiro no coração, na beira da rua, e o motorista foi até a garagem da empresa, onde deixou o volante com um colega.
Segundo João, foi a segunda vez que Nílson deu voz de assalto na mesma linha. Mas, se não fosse a ameaça de morte, garante que não teria atirado. “Estava com medo e usei a arma porque era necessário. Levei sorte, mas não recomendo que outros reajam, a não ser que exista risco de vida”, disse o motorista.
Segundo Denílson Pires, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores das Empresas de Transporte Coletivo de Curitiba e Região Metropolitana, João vai receber férias e possivelmente trabalhar em uma linha mais tranqüila e distante do Tatuquara. “Quero voltar logo, pois é a minha profissão. Mas o medo aumentou”, admite João, que apresentou-se no 8.º Distrito Policial.