Muros altos não intimidam assaltantes

Muros altos, grades, vidros blindados, câmeras, interfones e cercas elétricas; todos esses aparatos nem sempre são suficientes para proteger os usuários dos condomínios residenciais e comerciais. O trabalho do porteiro, que não é exatamente um vigilante nem um segurança, é importante no que diz respeito a resguardar o patrimônio e a vida dos condôminos. Em uma semana, dois prédios foram invadidos por ladrões em Curitiba. Moradores viveram momentos de pavor e a polícia só pôde ser avisada após a fuga dos bandidos.

Luiz Roberto França, 46 anos, que já foi porteiro e hoje coordena o trabalho de nove funcionários em um prédio de luxo no Mossunguê, destaca como o trabalho deste profissional é indispensável, mesmo quando o local possui vigilância eletrônica e demais aparatos de segurança. "É necessária a figura humana, verificando o movimento, notando atitudes suspeitas e identificando visitantes, coisas que o sistema eletrônico não consegue fazer", diz Luiz, que mostra que a pessoa em atitude suspeita que percebe a observação atenta do porteiro, vai embora. Ele ainda orgulha-se de que devido à sua atitude vigilante, nunca sofreu assalto ou embaraços com pessoas suspeitas.

Trauma

Os mecanismos de segurança, como muros altos, portões inteiramente fechados, vidros escuros e interfone deveriam impedir a entrada de qualquer pessoa não autorizada. Porém todo esse investimento não foi suficiente para barrar a ação de criminosos, que "limparam" 11 apartamentos de um prédio luxuoso da capital em julho de 2004. Com medo, o porteiro deste prédio só conversou com a reportagem pelo interfone. Disse que durante o assalto, com toda a segurança disponível, não dava para acreditar no que estava acontecendo. Conta também que após o fato, pensou em mudar de profissão. "Só que risco a gente corre em qualquer trabalho, em todo lugar", diz o profissional, que teve o trauma refletido até em sua vida pessoal, passando a ficar mais atento a todas as situações ao seu redor.

Porteiro "hi-tech"

Antigamente os porteiros apenas abriam e fechavam portões manuais. Em seguida, começaram a lidar com interfones, portões eletrônicos, sistemas de PABX, câmeras de vigilância e computador, o que está exigindo cada vez mais conhecimento dos profissionais.

Em um condomínio de luxo no Mossunguê, um sistema computadorizado de segurança será implantando até o final do ano. Através dele, os condôminos poderão até autorizar a entrada de visitantes pela internet. Para administrar esse avanço, os porteiros terão que se adaptar à nova realidade. Isso já aconteceu, por exemplo, com os caixas de supermercados, que passaram das máquinas de calcular para os complexos sistemas de códigos de barras via computador, onde os profissionais do ponto de venda lotaram as salas de aulas das escolas de computação.

Emerson de Lima, 42 anos, o "recepcionista" de uma empresa no Pilarzinho, passou por momentos complicados nos primeiros dez dias em contato com um sistema de telefonia computadorizado, pois não conseguia fazer e transferir ligações pelo sistema até então desconhecido. "Essa foi a primeira barreira tecnológica na minha profissão. Não fiz nenhum curso, aprendi na marra", conta Emerson.

DFR na "cola" dos bandidos

As vítimas do assalto ocorrido na tarde de segunda feira no edifício situado na Rua Marechal Otávio Saldanha Mazza, Capão Raso, irão fornecer, nos próximos dias, características dos marginais para a confecção dos retratos falados. Segundo o delegado Rubens Recalcatti, titular da Delegacia de Furtos e Roubos, a polícia já tem informações importantes sobre os bandidos, e dentro de pouco tempo eles deverão ser identificados.

Por volta das 14h, cerca de seis marginais invadiram o edifício, depois de marcar um encontro com uma corretora de imóveis, com o falso intuito de locar um apartamento. A mulher foi rendida, assim como outras sete pessoas, entre moradores e funcionários, e dois apartamentos foram invadidos pelos assaltantes.

Estranho

O fato dos marginais levarem apenas documentos pessoais das vítimas e três carros que estavam na garagem, para a fuga, chamou a atenção da polícia. "Eles tinham outro objetivo que não era assalto e que estamos tentando descobrir. Caso contrário, teriam levado dinheiro e pertences da vítimas", afirmou o delegado.

Ainda de acordo com Recalcatti, o erro foi da corretora em ter marcado o encontro e aberto as portas do prédio sem certificar-se de quem eram os supostos locatários.

Este foi o segundo assalto cometido em edifícios de Curitiba em apenas uma semana. O primeiro aconteceu na semana passada, no Alto da XV, quando os marginais invadiram três apartamentos e levaram roupas, dinheiro e jóias. A polícia já divulgou o retrato falado destes suspeito, mas até ontem ainda não tinham pistas do paradeiro deles.

Superlotação, problema sem fim

A situação do 3.º Distrito Policial (Mercês) corresponde a uma "bomba-relógio" prestes a explodir. O que pode resultar em numa rebelião ou fuga em massa, de acordo com a polícia. Superlotado- com 187 presos -, a capacidade do xadrez é para apenas 36. Para complicar mais essa situação desumana, ontem foi encaminhado para lá um integrante da facção criminosa PCC, o que gera o temor de arrebatamento aos policiais. O PCC é conhecido por ser um grupo criminoso muito bem organizado.

A preocupação dos policiais é compreensível, pois a superlotação, por si só, é um grande motivo para os presos se rebelarem. Na semana passada, dia 5 de junho, o 7.º DP (Vila Hauer) foi o cenário de uma grande debandada, exatamente devido ao número excessivo de detentos. No dia da fuga a carceragem estava com 106 indivíduos. 63 deles escaparam através de um túnel cavado de uma cela até a sala de aula do colégio vizinho à delegacia.

Outro problema que agrava a superlotação do 3.º DP tem relação ao Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac), que fica anexo. Criado pelo governo com a finalidade de receber as ocorrências e presos durante a noite e madrugada, – período de fechamento dos distritos policiais -, o Ciac-Norte (Mercês) dividia essa função com o Ciac-Sul (Portão), anexo ao 8.º DP, e com o Ciac-Centro, anexo à Central de Polícia, este sem carceragem. Entretanto, a carceragem do 8.º DP não está mais recebendo marginais e, praticamente, todas as detenções realizadas à noite e de madrugada são encaminhadas para o 3.º DP. Ocorrências policiais de uma cidade de quase dois milhões de habitantes estão, praticamente, canalizadas para um só distrito.

O Ciac-Norte continua a receber detidos encaminhados pela polícia durante a madrugada, mas pela manhã eles são transferidos para outras unidades.

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