A delegada Vanessa Alice já foi professora. |
Elas são minoria, mas nem por isso deixam de mostrar seu valor. As mulheres policiais paranaenses – que realizam neste fim de semana o 1.º Encontro da Mulher Policial do Paraná, em Curitiba – representam apenas 5% do quadro de pessoal das polícias Civil e Militar. Dos 18 mil policiais militares, apenas 480 (2,6%) são mulheres. Na Polícia Civil, a presença feminina é um pouco maior. Dos quatro mil policiais civis, 491 (12%) são mulheres.
Muitas vezes, para mostrar que podem trabalhar lado a lado, elas precisam se esforçar mais que os homens. Aos poucos, com generosas doses de diplomacia, diálogo, firmeza e inteligência, elas estão conquistando espaço e alguma visibilidade. “No momento de uma prisão ou em uma situação de risco, não é pela força física que elas se impõem, mas pela decisão e firmeza”, diz o secretário de Estado da Segurança Pública, José Tavares.
Exemplo disso é a delegada Vanessa Alice, que investiga uma série de assassinatos de mulheres em Almirante Tamandaré, Região Metropolitana de Curitiba. Desde que assumiu os inquéritos, em janeiro deste ano, a delegada solucionou oito casos e prendeu dezoito pessoas envolvidas direta ou indiretamente nas mortes. Os outros quinze crimes que estão sendo investigados pela delegada estão em fase de conclusão. “Ainda não estou satisfeita. Cheguei aos executores. Ainda faltam os mandantes”, afirma Vanessa Alice, que recebeu várias ameaças de morte.
Antes de ser delegada, ela era professora primária, carreira que abandonou depois de dez anos para seguir o sonho de ser policial. “Desde criança, eu gosto da investigação. Fui influenciada pelo meu pai, que é oficial da reserva da Polícia Militar, mas atuou como delegado no interior”, conta Vanessa, que está na profissão há cinco anos. “Quando preciso prender alguém, procuro ser firme. Nunca tive que atirar em ninguém. Ajo com firmeza e consigo o que quero com diálogo. Antes de interrogar uma pessoa, reuno todas as informações, depois vou jogando com as palavras. É um jogo de inteligência. Não admito que o autor de um crime seja mais inteligente do que eu”, afirma. “Os casos que não resolvi, que são poucos, ainda estão entalados na garganta”, conta.
Importância no trabalho
Três mulheres ocupam postos elevados da polícia paranaense: duas militares e uma civil. A delegada Charis Negrão Tonhosi é assessora civil da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e representa o secretário José Tavares no Conselho da Polícia Civil; a major Rita Aparecida de Oliveira é comandante interina do 12.º Batalhão da PM, responsável pelo policiamento de 22 bairros de Curitiba e do centro da cidade; e a capitão Miriam Biancolini Nóbrega, comandante da 1.ª Companhia do 12.º Batalhão da PM, que atende sete bairros da capital.
A delegada Charis Tonhosi conta que queria ser médica. Acabou sendo delegada por acaso. “Eu tinha acabado de me formar em Direito e estava na praia. Minha irmã me ligou, falou do concurso e eu peguei minhas malas e voltei para Curitiba. me inscrevi e fui passando em todas as fases.” E foi assim que sua carreira começou, há 16 anos. Quando terminou o curso preparatório na Escola de Polícia, então com 23 anos, Charis assumiu a Delegacia da Mulher de Cascavel, onde trabalhou durante cinco anos e meio. Nos finais de semana, a delegada trabalhava como plantonista na sede da Subdivisão Policial de Cascavel e muitas vezes teve que enfrentar bandidos. “O trabalho no interior foi uma grande escola.”
Charis Tonhosi foi a primeira mulher a ser membro do Conselho da Polícia Civil e a assumir o cargo de assessora civil da secretaria. “Sinto-me honrada pelo reconhecimento do meu trabalho. Chegar ao conselho é o ápice da carreira”, comenta.
Mãe e policial
A capitão Miriam Biancolini Nóbrega foi a primeira mulher a assumir um posto de comando operacional dentro da PM. “Foi uma quebra de paradigmas”, diz. Há dois anos, ela divide o trabalho como comandante da 1.ª Companhia do 13.º Batalhão com as tarefas de mãe e esposa. Casada com um policial militar, ela acredita que, se o marido tivesse uma profissão diferente, seria difícil conciliar trabalho e casamento. “Será que outro, que não estivesse na mesma profissão, entenderia?”, questiona.
Participação no Tigre
A investigadora Vanessa Cristina Sottomaior, única mulher no Grupo Tigre, é policial há oito anos, mas convive no meio desde que nasceu. “Meu pai é delegado e gosta de contar que eu nasci numa delegacia.” E é verdade. Vanessa nasceu de parto normal na delegacia de Laranjeiras do Sul, onde seus pais moravam. O Grupo Tigre, da Polícia Civil, atua em seqüestros e situações de riscos. Além de Vanessa, são quinze homens.
“Para acompanhar meu pai, moramos em várias cidades no interior e fui criando gosto pela carreira”, conta. “Investigação é o que mais gosto de fazer. Até já tentei ser professora, mas não adianta”, comenta Vanessa, que é formada em Direito e Pedagogia.
Primeiras
A primeira mulher a ingressar na polícia paranaense foi a investigadora Maria Joaquina Ribeiro, no início da década de 50. Já a primeira delegada foi Tereza Emelino dos Santos, que fez concurso para o cargo e assumiu a função por força de um mandado judicial em 1975. Antes de ser delegada, ela trabalhava como investigadora. “Eu já trabalhava como agente policial (investigadora) e achava um desaforo a mulher não poder fazer o concurso para delegado. Entrei na Justiça, me inscrevi no concurso e passei”, conta Tereza, que está aposentada há seis anos.
A PM admitiu as primeiras mulheres em 1977. Dez delas iniciaram o curso de formação na Academia Militar Policial do Guatupê, mas apenas cinco se formaram. “Para nós, foi complicado. Ser cobaia é difícil. Precisamos romper um monte de barreiras, pois até então a profissão era exclusivamente masculina”, relembra a capitão Miriam Nóbrega, primeira mulher a assumir um posto de comando na PM.
Ainda existem locais em que a presença de mulheres é vetada, como no Corpo de Bombeiros e nos grupos de elite da PM. A maioria das mulheres ainda desempenha funções mais administrativas do que operacionais. Um dos raros locais onde a situação é inversa é o Aeroporto Internacional Afonso Pena. Lá, toda a segurança interna, externa e de trânsito é feita por um grupo de 12 mulheres, que se revezam em equipes de três. Rostos maquiados e unhas pintadas quebram a rudeza imposta pela arma que nunca sai da cintura.