Silvana nega qualquer ligação com o americano. Rita enganou Bursch para tentar ir para os EUA. |
A Polícia Federal ouviu ontem, em Curitiba, o depoimento da mãe das duas crianças encontradas no bairro Centenário, na última quarta-feira, sob as quais há a hipótese de que poderiam ser vendidas para casais no exterior. A PF chegou até as meninas – que estão num abrigo em Colombo – depois de receber uma denúncia de que o casal que cuidava delas poderia estar vinculado ao norte-americano James Todd Bursch, 33 anos, preso terça-feira, acusado de ser o intermediário no Brasil de uma quadrilha especializada em mandar crianças brasileiras para serem adotadas no exterior.
Silvana (que não quis revelar o sobrenome) é empregada doméstica e disse que deixou as duas filhas com a comadre – sem abrir mão legalmente das crianças – por não ter condições financeiras de cuidar das meninas. Silvana disse à polícia que nunca viu Bursch. "Eu não sei de nada, não sei se minha comadre conhecia este homem (Bursch)", disse.
O casal, no entanto, durante depoimento na quarta-feira, disse conhecer Bursch, mas negou qualquer envolvimento com um suposto esquema de venda de crianças. Silvana confirmou que conhece a babá Raida Silva de Souza, que morou quatro meses na casa do casal e que foi encontrada pela polícia na terça, em Colombo, com David, um bebê de três meses registrado falsamente como filho de Bursch e que seria enviado para o exterior. De acordo com informações dadas por Melissa Matos – mãe de David, que está presa no 9.º DP – ela receberia R$ 8 mil pela "venda" da criança.
Ontem ainda, foi ouvida na superintendência da PF a mãe do menino Michael Bursch, enviado para os Estados Unidos em 2003, como sendo filho do americano preso. Rita (que também não quis informar o sobrenome) disse que viveu com Bursch por dois anos e o relacionamento terminou após ele descobrir, através de um teste de DNA, que o menino não era filho dele. Mesmo assim, a criança foi registrada com o nome de Bursch e enviada aos Estados Unidos. Rita disse que conversa sempre com Pamela, que seria irmã de Bursch e quem cuida do menino, hoje com cinco anos. Eles vivem no estado do Alabama. Michael mora com Pamela e o marido dela. Rita disse comunicar-se com ela por email e telefone, em espanhol. O menino não fala mais português.
De acordo com o advogado de Rita, José Feldhaus, depois da prisão de Bursch ela não tem mais certeza de que o filho esteja com familiares do antigo namorado. "Ela não sabe se o menino foi vendido e por isso ela quer que o Michael seja trazido de volta", afirmou. Rita disse que autorizou o filho viver nos Estados Unidos porque tinha planos de se mudar para lá, com Bursch. Rita entregou à PF fotos recentes de Michael, bem como endereço, telefone e o email de Pamela.
Desconforto
O advogado de Bursch, José Ivo Procópio, esteve com ele ontem na PF. O americano reclamou do desconforto de dividir uma cela com outros presos e pediu para ser transferido. O advogado informou ainda que seu cliente negou conhecer as duas crianças encontradas no bairro Centenário. Bursch vive no Brasil há 11 anos. Desde 3 de março, quando seu pedido de permanência foi negado, ele vive ilegalmente no País.
Representantes da embaixada dos Estados Unidos, em Brasília, passaram o dia na PF colhendo informações sobre o caso. A polícia norte-americana será acionada para trabalhar no caso em conjunto com a PF, por intermédio da embaixada dos EUA no Brasil.